segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Time is an illusion. Lunchtime doubly so" ;-)

Não é falta do que fazer, é só um teste rotineiro de eficácia de válvulas de escape para noites chuvosas. Resultado: dois filmes consecutivos e quase em loop. Star Wars IV, que vergonhosamente eu nunca tinha assistido todo em sequência, e o Hithhiker's Guide to the Galaxy, quase tão bom quanto o livro. E aquela velha promessa de pegar emprestados, escavados ou comprados o restante dos livros da série para terminar de ler e matar a curiosidade. A gente sempre arranja um tempinho pra esses pequenos prazeres...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Indeferido

É a dark wave, só pode ser. Ou então essa chateação é prova de que sou uma pessoa que não sabe perder - o que também não deixa de ser algo pouco saudável, diga-se de passagem.

Às vezes (ok, sempre!) é um bocado complicado, muito difícil até, ter que lidar com o que a gente considera como grandes fracassos. O menos difícil nessas horas é tentar aprender com eles, naquela lógica da experimentação infantil de estímulo-resposta, até que não se ponha mais o dedinho na tomada ou a mão muito perto do fogo. E parece que em janeiro vai haver muito tempo para esse tipo de reflexão, ainda mais agora pelo tempo extra que confirmadamente recebi hoje. É verdade, a vida não é um sketch. É feita pra ser vivida pra valer. De vez em quando eu acho que me esqueço disso - o que torna a lembrança de certos fatos um pouquinho mais dolorosa.

É duro admitir e chegar à conclusão de que você é a única pessoa que se coloca entre você mesmo e o seu sucesso. Acho que "nunca na história desse país", tanto quanto hoje, tive esse sentimento horrível tão perto. E o pior é me sentir completamente impotente diante dele. Pelo menos em uma situação que eu já sei que não tenho mais como remediar. Mas é bom falar, extravasar, mesmo que num espaço em branco - ou em negro - desse vasto mundo virtual.

A minha experiência de estágio em rádio - que nem consta no meu currículo - é decididamente uma dessas coisas de que eu não gosto de falar, que ninguém em sã consciência faz questão de tornar público - aquele tipo de coisa que, ou foi a escolha errada decididamente, ou foi a escolha certa, mas no momento errado. Eu não gosto de falar disso. Dói. Mas o resquício do excesso de cristianismo que um dia já houve em mim não deixa de achar uma boa ideia fazer essa confissão, que embora pública de certa forma, não deixa de ser uma forma de catarse, de liberação. A cor-batina desse blog dá uma falsa impressão de invisibilidade.

Mas, enfim. Isso aconteceu lá pelos idos de 2006, já estava com 1/4 de pé na Europa mas queria muito experimentar o que eu pudesse antes de fazer qualquer coisa. Resolvi então me inscrever para o estágio de férias na rádio da UFMG. A seleção foi tranquila, fiz uma matéria sobre um assunto da vida acadêmica que já não me recordo bem. Mas lembro que ficou redondinha, com poucos segundos de diferença da duração total requerida, com cabeça, corpo, pé. Do jeitinho que a gente aprende na faculdade. Levei o tempo de um almoço para gravar, editar e fechar a coisa, para enviar pouco tempo antes da deadline. Me chamaram, achei super bacana.

Primeira semana, treinamento intensivo, e já comecei a ver que alguma coisa não estava muito bem comigo. Impressão minha, fantasia, claro. Mas nada foi pior do que chegar ao estúdio nas semanas seguintes e não conseguir fazer absolutamente nada, ficar naquela espécie de writer's block total (ou no caso, reporter, editor, e todas as funções que se possa imaginar numa redação). Hiato criativo ou incompetência? (chato ter que se ver obrigado a ficar com a segunda opção, não é?). Ainda não sei. Só sei que nunca consegui entender o motivo daquilo tudo. Acho que quanto pior eu me sentia, menos conseguia fazer, mais retraída ficava, menos conseguia pensar. E nessa fiquei. É chato ser motivo de piadinha (às vezes bem pouco sutis) e ter que concordar porque afinal de contas, há motivo de sobra para isso. Mais chato ainda é ver uma porta se fechar antes de tê-la conseguido abrir. Mas nada é sem motivo, e como já disse alguém que presenciou o triste fato, "a gente não apaga as nossas experiências, mesmo aquelas que nos incomodam. A gente aprende com elas e se fortalece dos erros".

Hoje meu pedido de tentar dar um novo começo - não apagar nem mudar, mas tentar fazer outras lembranças sobre aquilo que foi a experiência mais traumática que tive até agora - foi indeferido. E isso é daquelas coisas que a gente entende, concorda, mas não aceita.

E não adianta ficar chorando pelos cantos. A coisa agora é ir pra frente, não em caráter experimental, mas tendo a consciência de que é preciso dar o máximo para que a coisa saia bem (ou saia, ao mínimo, bem). E enfrentar os medos, against all odds. E não há nada mais desestimulante, nada mais doloroso que esses medos inconfessados. O medo do fracasso, o medo da perda, que só faz crescer quanto mais se quer algo, quanto mais se gosta de algo. Tive que aprender muito sobre isso durante o tempo que passei em Portugal. Nunca é fácil, mas aprende-se imensamente só de se ter a disposição de enxergar as coisas.

Às vezes eu fico me perguntando sobre o valor disso tudo. Pra quê se esforçar tanto, pra quê se cobrar tanto, se depois tudo vira pó, ninguém já lembra mais do seu nome, se todas as experiências que você teve vão, na melhor das hipóteses e em última instância, servir de alguma coisa a ninguém mais que não a você mesmo. Outras, fico pensando em construir algo que vai servir para muito além daquilo que vejo, que sinto, naquele sentimento altruísta meio infantil, meio fantástico, de ajudar a construir um mundo melhor que ainda está por se materializar. Entre os dois extremos, fico eu e as ideias que consegui juntar, me sentindo um pouco refém dessa montanha russa emocional, mas tentando ao máximo passar por tudo isso bem acordada, consciente de todos esses porquês, ainda que - de novo - isso doa mais do que ajude realmente. Mas é bom se manter vivo diante disso tudo, e tentar agir mais com ações do que com palavras. E eu acho que talvez está aí o meu maior erro - viver demais tentando olhar para fora da caverna, encarnar em excesso o papel de um personagem do Teatro do Absurdo - desdenhando a parte saudável do pragmatismo ocidental e norte-americano.

Isso seria resquício de quê?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Almost there!

E hoje finaliza-se um episódio de aproximadamente um mês de duração. O fim da tortura pela espera - minha, e de centenas de outros finalistas frenéticos e a essa altura, tão sem unhas quanto eu - pelo resultado daquilo que poderia ter sido uma ótima porta de entrada para dar azo à escrita no universo mágico dos textos de revista. Pelo menos nos próximos meses. Não vou poder fazer uma rodada dupla de comemorações como eu queria e esperava tanto, mas isso não quer dizer que eu não tenha motivos para comemorar: a minha suada monografia foi aprovada com louvor e passou com nota máxima pela banca, com indicações para uma continuidade do estudo num mestrado. Sou jornalista agora!! Por outro lado, tive que adiar a minha entrada no Curso Abril de Jornalismo, e reter a outra parte da festa.

Meus muitos parabéns aos talentosos colegas que passaram pela última peneira e vão entrar para a próxima turma do CAJ - muito churrasco, cerveja e bons textos pra vocês, sucesso e inspiração a todos! - e do lado de cá, fica ainda aquela sensação chata de bola na trave, mas a certeza feliz de que o jogo está bem longe dos 45 do segundo tempo. O plano de ataque poderia ter sido melhor, o nervosismo poderia ter sido menor e ajudaria certamente a não errar o passo e dar o branco na hora do lance, mas enfim... um jogo bonito minimiza um pouco o resultado ruim. E a gente sempre sabe quando é hora de avançar para o plano B, C ou D. Excesso de planejamento? Nem sempre... estar aberto às várias possibilidades é a melhor coisa a se fazer até que elas se concretizem. Talvez o único erro seja o excesso de ansiedade, que pode se tornar em certeza e virar um pouco de arrogância em certos casos. Com essas coisas, faz sempre bem a gente aprender para poder planejar melhor a próxima partida. :-)

Mas disso tudo, o episódio não deixa de ser enriquecedor em si. Aliás, foi uma vivência extremamente interessante, tão intensa quanto a espera. A primeira sensação, a incredulidade de ter sido uma das menos de 300 escolhidas entre 3272 candidatos do Brasil quase todo, foi muito mais emocionante que passar no vestibular. Senti como se eu tivesse, de repente, passado em Medicina na USP. A minha habitual languidez foi embora no mesmo milésimo de segundo em que senti cargas enormes de adrenalina dando voltas a 1000km/h pela minha corrente sanguínea. Esfrego os olhos, me levanto da cadeira pra tomar um ar, faço um refresh na página da lista pra ver se era aquilo mesmo ou se eu tinha tido uma mera ilusão diótica. Não, era mesmo aquilo e eu felizmente não estava enganada!

Depois, a espera pela entrevista, a falta de sorte de ter a data marcada fora das condições normais de temperatura e pressão - eu estava num ônibus, voltando pra casa recém saída de uma sessão do ForumDoc, e por isso quase não entendi nadinha do que estava sendo falado comigo, tive que pegar o número pra ligar de volta e coisa e tal - mas no fim, a data e o lugar estavam acertados.

Dia da entrevista, coração aos pulos, taxa de ml de suor por cm2 de pele ligeiramente maior que o normal (sem falar na tentativa de manter a calma e disfarçar tudo isso atrás de um sorriso meio amarelo e meio tranquilo). Entro na sala, dou de cara com o responsável pelos próximos momentos de tensão - e não só isso: pelo Curso também (que, fortunately, também é jornalista). Gostei muito. Nem o aparente talento natural em deixar pessoas à vontade parece ter ajudado muito. Com as mãos por baixo da mesa, eu tremia, suava, e via a terrível nuvem branca do hiato criativo tapando o sol dentro da sala. E foi branca mesmo. Só isso explica o fato de eu ter errado a idade do meu pai (quem cairia no ato falho de dar 57 anos a uma pessoa nascida em 1957?!), ter me esquecido que o filme cuja crítica eu queria comentar era o Abraços Partidos do Almodóvar (não rolava de jogar um "sabe aquele filme do Almodóvar com a Penélope Cruz?!"), ou ter me esquecido da maioria dos nomes das revistas que eu queria mencionar ou ter ficado na dúvida cruel de que a National Geographic era editada pela Abril aqui desse lado do Ocidente, porque isso era um detalhe do qual eu estava quase certa, mas não podia me dar ao luxo de errar, então preferi não mencionar. É. O excesso de adrenalina atrapalhou mais que ajudou, isso é fato. E talvez ter indicado conhecer uma pessoa bacana que conheci em uma das experiências pré-profissionais mais traumáticas que já passei na vida não tenha resultado em uma boa ideia, afinal (ou eu tinha me esquecido de que as pessoas precisam de contextos para formar conceitos sobre as outras?).

Mas mesmo que tudo isso soe a uma experiência desastrosa, não impediu a conversa de fluir bem e simpaticamente. Aliás, foi super bacana, bem interessante e eu gostei bastante. É pena não ser dessa vez o poder continuar o papo, mas acho que talvez numa próxima oportunidade.
Quem sabe?

Essas aventuras fazem bem ao espírito, e tudo depende de como se faz para chegar bem ao fim da viagem, mesmo em face aos pequenos revezes no percurso. É engraçado isso de a tristeza também ter seu lado alegre, dependendo do ângulo em que se olha para ela. É bom olhá-la bem dentro dos olhos e tentar enxergar o que ela está tentando esconder, e não tem muita receita nem fórmula para isso. É preciso encarar bem de perto para poder enxergar alguém nos olhos. E isso é coisa para quem tem coragem de fazê-la.

Por enquanto, vou ter muita coisa a pensar e filosofar - muitos olhares a fazer. É bom aprender com essas coisas. Não foi mesmo Sartre quem disse que o importante é o que fazemos com o que nos acontece, e não o contrário? :-)

domingo, 6 de setembro de 2009

Estado de insônia, mais uma vez. Momento perfeito para mais um post. Para acompanhar: uma dose de Stone Temple Pilots - e de vinho do Porto, porque essas coisas sempre têm que vir em boa companhia. Não sei exatamente em que parte da onda estou, se na crista ou se no vale, ou se subindo para um ou descendo de outro... tudo ainda muito recente, um misto de euforia por ver as coisas finalmente funcionando, a monografia andando a passos largos e felizes, por vislumbrar um futuro que eu planejava mas que promete sair melhor que a encomenda - caso dê tudo certo - somado à nostalgia de uma Belo Horizonte que não existe mais (é, a inflação tirou e tira o sono de muita gente, e a classe medíocre continua no limbo para onde eu tive a felicidade de voltar), o horror do hiato criativo que me vejo obrigada a enfrentar todos os dias (medo do sucesso ou do fracasso?), a indignação de viver num país onde se falar em exploração do pré-sal não soa como boa noticia, somada à (no mínimo, horrivelmente desconfortável) sensação de ver a dignidade de um governo vendida a trinta moedas de prata (aliás, por um par de sapatos mais reforçados para a ministra d. Dilma usar nas eleições ano que vem) no dia em que Sarney saiu da forca, e me cansar de ler canalhice todos os dias no jornal até dar náusea. Bom, não tenho a menor dúvida de que estou mesmo de volta ao meu bom e velho Brasil, esperando, torcendo e contando com a melhor das possibilidades... a de que esse país não vai se acabar por causa da gripe suína - e assim diminuir o volume da novíssima CCS, o que seria uma provável catástrofe para a Saúde Pública.
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Bom, tirando esses pequenos detalhes (o disco continua a girar, soando à Led Zeppellin, ainda nas baquetas dos STP), a vida continua, no meu esforço homérico de fazê-la mais vivível e convivível, against all odds. É aquela velha história de todo intercambista que volta pra casa e fica chocado, etc etc. Em alguns casos, o choque passa rápido ou deve ser simplesmente inexistente. Em outros, o estado de choque demora um bocado mais, ou simplesmente não passa. Quanto a isso, não tenho novidade nenhuma além da de que vou ter que esperar mais um tempo pra ver em qual dessas categorias me enquadro. Como se a vida além-mar fosse sempre o Mar da Tranquilidade em que Neil Armstrong pisou pela primeira vez. Nem é preciso dizer que a realidade tá bem longe disso. Mas enfim. Agora eu sei que certos detalhes da experiência vão entrar em uma fase profunda de remodelação e de idealização, até se tornarem em mitos - resta saber se vão ser as memórias a ser reesculpidas ou se as lembranças é que vão continuar a metamorfose. Ou quem sabe, algumas memórias ainda se tornem em lembranças, no sentido kierkegaardiano da coisa (é. E pra completar, ainda estou me viciando em proto-existencialismo. Já chega perto do fim outro livro do mr. K. e quero ver qual vai ser o próximo...). Isso é outra coisa do conjunto enorme das que eu não faço a menor idéia. Talvez também seja mais saudável esperar para ver.
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Bom. A verdade é que os últimos meses e dias no Velho Continente foram uma espécie de superfast something e mais alguma coisa que eu não consigo nomear ainda. Nem sempre se consegue ser o próprio analista e nem sempre se está dentro de um filme de Woody Allen... ainda mais quando provincianismo belo-horizontino e sofisticação novaiorquina são traços de personalidade diametralmente opostos (isso explica a minha pseudo-bipolaridade?). Enfim. Já estava mesmo enjoada do Porto, no meu limite, e veio super, hiper, mega e blaster a calhar o pequeno tour pelo circuito já feito Alemanha-Reino Unido-Itália, mas com a variante "pacote anti-vergonha para quem diz ter estado na Europa": Berlim, Londres e Veneza on the stride. Estava morta de curiosidade e vontade de ir a Berlim e conhecer os dois lados do Muro (ou melhor, dos restos dele), rever uma amiga e andar por baixo da Brandenburg Tor, do mesmo jeito que estava morta de vontade de passar pelos canais de Veneza, ver a Piazza San Marco e imaginar um ou outro personagem shakespeareano me cruzar o caminho debaixo daquele sol escaldante de Julho. Só Londres eu achava meio overrated, mas resolvi ir para tirar as minhas próprias conclusões. Foi a volta perfeita. Nada melhor que me despedir de Portugal estando bem longe de lá (soa como... "meu saco tava literalmente cheio"?!), ou me despedir do Velho Continente estando bem mais perto dele. É, foi um pouco de cada coisa. Foi ótimo rever gente que eu sei que vai me fazer (e faz) falta, e conhecer mais gente que me faz falta igualmente. E não é preciso mais detalhe que isso. As sensações desse último mês foram o bastante para me fazer o mundo parar, girar mais rápido, mais devagar, chacoalhar - e de vez em quando, tudo de uma vez só. Foi ótimo e horrível ao mesmo tempo. Adorei.
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Bom, a continuação disso tudo foi, depois das despedidas portuenses, a pequena maratona de vôos que se seguiu depois de mais um dia energizante em Madri em ótima companhia, corridas pelo saguão de embarque em Guarulhos logo depois de sair da esteira das malas, uma temporada gringa mal planejada no Rio de Janeiro (algumas coisas não mudam mesmo, pqp), mas muito bacana (quem disse que portuga não é gente fina?), e uma visita germano-luso-dinamarquesa-mineira (não, quase carioca!) aqui na terra do pão de queijo. Foi ótimo, mas os detalhes ficam para um próximo capítulo. :-)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O dia em que o jornalismo morreu

E essa quarta o STF decide que para ser jornalista no Brasil, não é mais necessário ter diploma. Gilmar Mendes comparou o exercício da profissão à de um "chef de cozinha, que não precisa ter diploma para preparar os pratos", e o surpreendente resultado de 8 votos a 1 é irreversível. Por enquanto. Mas eu fico me perguntando... se para exercer a profissão de jornalista não é necessário ter uma competência técnica específica, basta saber escrever bem, ter boa índole e compromisso com a verdade, então pra que serve a universidade? Bastava um curso de escrita jornalística e edição de vídeo e imagem, e pronto, tava feito. Mas o curso serve para fazer as pessoas pensarem a comunicação, refletir no nosso objeto de estudo, que não é uma coisa qualquer. Não concordo com a idéia de que uma falha de informação não tenha consequências graves e diretas. Informações já foram estopins de guerras e revoltas, serviram para fazer manipulações em massa (Hitler com o uso do rádio que o diga!), causam inúmeros processos judiciais, mortes por causa direta e indireta e outras coisas que levaria tempo pra enumerar. É exagero dizer que essa decisão foi um ato de descaso com a informação, mas foi o que soou aos meus ouvidos. Jornalismo não são só técnicas de comunicação, e a informação não é um produto qualquer. É preciso ter formação pra lidar bem com ela, pelo menos é o que eu acho. Fico triste porque isso é um ato de desvalorização da categoria no Brasil (que acho que nunca foi categoria de fato e de verdade por sempre ser tão frágil), que fica ainda mais enfraquecida do que já estava. Não permitir não-diplomados a exercer a profissão não é restringir a liberdade de expressão. Pra isso existem blogs, artigos de opinião, revistas especializadas. Faz sentido dizer que para escrever para um jornal basta ter uma boa formação humanística e saber passar a informação pra frente. É uma afirmação lógica. Mas acho que lidar com a informação é tão importante quanto lidar com o ensino de uma disciplina, por exemplo, e acho que é preciso saber bem como fazer isso, ter formação para fazê-lo. E a informação não está aí pra ser simplesmente passada. Precisa ser pensada. E acho que é pra isso que serve o curso de Jornalismo: para proporcionar a reflexão da informação, e não só servir como um curso de técnicas de comunicação. Se fosse só isso, estaríamos todos lixados! Também não vou dizer que só quem passou pela faculdade de Jornalismo tem a capacidade de refletir sobre a informação ou que tenha ética. Longe disso, seria muito reducionista (se nem quem passa pelos bancos da faculdade por quatro anos às vezes tem essa capacidade!), mas não acho que qualquer um possa ser jornalista. Pra ter liberdade de expressão, um sujeito não precisa se considerar jornalista, precisa?

Em pensar que para exercer a profissão de advogado nem é necessário o diploma. É preciso passar na prova da OAB, o que, acho eu, é uma forma de dizer aos navegantes que "é preciso saber o que se está a fazer e porquê". E depois, enchem escritórios de advocacia, cartórios, ou com um pouquinho mais de sorte viram deputados, senadores, ou vão trabalhar no STF pra votar decisões como essa.


Agora, é aquilo: os salários vão para as cucuias, a mão-de-obra, que já era barata, vai ficar a preço de atacado chinês, e a concorrência que não era pouca agora vai piorar um pouquinho. Mas acho que isso é uma prova de que talvez a classe jornalística não esteja transparecendo bem o seu papel crucial na sociedade (do tipo, o jornalismo é uma profissão tão importante que é necessário ter pessoas formadas nisso pra exercer?!), ou... sei lá, não esteja mostrando o que vale. Talvez se houvesse uma maior consciência de categoria, de classe, de unidade, isso seria diferente. Mas como toda moeda tem dois lados, vamos ter que mostrar o que valemos e mostrar pra que vale o nosso diploma. Quem quiser fazer jornalismo agora, eu acredito, vai ter que fazer o que faz porque gosta e realmente é aquilo que quer, e fazer o que faz por "amor à camisa". Ver o copo meio cheio em vez de meio vazio é sempre a melhor opção. :-/

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Clichês


Já sinto saudades daqui do Porto, mesmo antes de ir embora. Isso é um enorme clichê, eu sei. Lugar comum. Ou incomum. Ou um lugar pequeno e incomum, mas do tamanho do mundo. Como me disse uma portuense radicada na Alemanha outro dia... "o Porto é a saudade travestida de cidade". Acho que concordo. E isso porque já morei aqui tempo o bastante pra me saturar. Talvez tempo o suficiente pra descobrir que o tempo é curto e que passa depressa, ou tempo o suficiente pra me fazer perceber como os dias são bonitos do lado de cá, por entre casas velhas, morros íngremes, a poesia de uma tertúlia num domingo à tarde ou o cair do dia às margens do Douro. Já tenho saudades daqui, mesmo estando curiosa pra saber o que vem depois, ou onde vem depois... Talvez seja uma ansiedade injustificada, talvez não haja nada demais pra além do horizonte e pra além do oceano, talvez não haja ninguém a segurar o pote dourado aos pés do arco-íris pra mim. Mas é bom imaginar, é bom sonhar. E fazer planos. E realizar planos, que é mais importante que simplesmente fazê-los... É estranho se estar nesse interstício - quando ainda há tanto a fazer, tanta coisa pra experimentar, tanto a descobrir, mas há aquela sensação de que nada seria melhor do que sentir o cheiro, o gosto e as cores daquele céu azul do meu Horizonte Belo ou simplesmente passar uma tarde andando pelo Parque Municipal a pensar na vida e mais nada... demorou, mas tenho que admitir: tenho saudades de casa. E isso não é pecado nenhum. Mas é como eu costumo dizer: é sempre bom dar o tempo o suficiente pra se sentir saudade... pra querer ver o rosto das pessoas que te querem bem, pra sentir o vento da manhã quente ensolarada que te desperta a maioria dos dias do ano, pra comer aquele almoço que só a vó sabe fazer. E achar aquilo tudo uma delícia. E pensar duas vezes quando o reclamômetro disparar.

Mas isso tudo não é mais que uma montanha de clichês.

Tem gente que realmente leva um pouco mais de tempo pra perceber e realizar as coisas, e não tenho dúvidas de que nasci pra me enquadrar nessa categoria. Mas acho que por um lado, isso tem até uma beleza: mastigar e digerir as coisas devagar faz parte dos mandamentos da boa saúde... será que é por isso que me sinto tão pouco saudável nos últimos dias? :-)

Outro clichê.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Quando dormir quase deixa de ser um hábito, e a sensação de embriaguez é quase a mesma de quando se está meio sóbrio, meio stoned, meio after-post-qualquer coisa, meio over, over tudo isso... nada melhor que uma boa companhia para passar os minutos, que por eles só já passam sem que a gente se aperceba muito disso. Saudades de casa? Ansiedade por mais um dia em que não se sabe como vai terminar? Saudade do que se foi e do que será? Ou será simplesmente a tristeza que não tem fim... como já dizia Jobim? Essa tristeza que é como o mar, que vem em ondas, costuma ser revolta de tempos em tempos, deixa espaço para a sua benevolente calmaria na estação baixa... e é tão vasta que se perde de vista? 
É bonito isso de ser triste?

domingo, 24 de maio de 2009

De trás para frente, de frente para trás

24 de Maio de 2009, 1:49. Vão-se quase 3 meses de intermitências, tempo o suficiente pra digerir muita coisa do meu assaz conturbado "monthly me", porque daily nunca o foi, desde o início. O tempo passa sempre de trás para frente, com os segundos passando pelo fio do tempo sem cessar, mas hoje me deu vontade de contar algumas coisas de frente para trás, a começar das poucas horas que se passaram. Há pouco menos de duas horas, estive - a tiracolo da Manaíra, uma amiga porreta de Maceió - a ensaiar uma entrevista muito bacana depois de um show bastante intimista da Stacey Kent. A voz aveludada da moça saía ainda mais fluída ajudada pela pronúncia clássica e perfeita daquele Inglês que todo anglófono não-britânico adorava ter. Sem contar, claro, com o facto de ter como plano de fundo aquele ritmo todo jazzy que enchia os ouvidos da feliz audiência, presente naquela sala que não era nem a Casa da Música, nem Passos Manuel, nem teatro algum. Não faltava nada no auditório da FEUP: a acústica estava ótima, a iluminação bem pensada, e o show... foi lindo. Adorei escutar Águas de Março e Samba Saravá em francês, o Corcovado à Bebel Gilberto e Stacey Kent quase que à Nara Leão. Sua personalidade simpática e ar apaixonado (isso também ajuda, e muito... os olhares cruzados com os do marido, saxofonista e compositor Jim Tomlinson em palco davam pistas de onde vinha a inspiração) deram o tom. E o ser simpática e interessada pelas pessoas e pelos lugares também fizeram a entrevista fugir do trivial. Muito bacana. Maybe I should play the journalist more often!

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Depois, equilibrar trabalhos tem sido de novo, um desafio. Gerir mal o tempo e os recursos disponíveis é praticamente um suicídio na sociedade pós-neo-moderna desse prozaquiano século XXI. A isso nem faço comentários. Mas é aquilo que tava lendo outro dia e que já não me lembro mais quem disse: "there's no such thing as hard work, just work that's not done on time"... ou a lei de Alzheimer, aquela que diz que "uma pessoa vai cumprir uma tarefa usando necessariamente todo o tempo que tem disponível para executá-la" ou coisa assim. Ou seja, se tiver um mês pra fazer um trabalho, vou fazer aquilo em 29 dias e 23:59 horas. Se tiver uma semana, uso apenas todos os 7 dias que tenho (ou talvez os 6 e alguma coisa que restam). Bah. Papo cansativo. Só sei que amanhã vou enfiar a cara no meu projeto de PIUE e ver no que dá. E depois, as coisas vão acontecendo... é bom ver que elas se desenvolvem e se desenrolam de alguma forma. Entrar pra colaboração na UPMedia tá sendo muito bom pra me sentir mais viva e mais "multitask", com a Aiesec a mesma coisa. E depois ainda há as otras cositas más.

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Putz, tô com um sono...
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E o que eu não fiz ainda foi algo que acorda comigo e dorme em cima da minha cabeceira todos os dias: colocar em palavras (on-line, ao menos... porque palavras existem em todos os meios possíveis e os que a gente inventa) a minha grande viagem, a viagem dentro da viagem dentro da viagem nessa epopeia europeana que está prestes a chegar ao fim do primeiro capítulo.

Sem dúvida que dias curtos, intensos e muito interessantes fizeram muito bem pra mim e pra minha saúde mental, mesmo nas coisas que não foram tão boas assim, mesmo nas mais complicadas e um bocado twisted. E o bom disso tudo é que tenho a certeza de que fiz um bocado mais que o simples turistar para postar fotos no quadro imantado das memórias no fundo da gaveta, Facebook ou coisa assim (embora isso não impeça de disponibilizar as imagens pra quem não esteve lá)... Mas antes de tudo, acho que é preciso se estar preparado para visitar um lugar, porque aquele impulso, aquela vontade e aquela curiosidade que te impelem de ir pra algum canto não é nada mais do que o lugar a te escolher, antes de você escolhê-lo. Isso não precisa ser um impulso pra ser respondido de imediato nem ruminado em excesso, pode ser uma coisa acalentada durante muito tempo, ou tempo nenhum, mas o que conta é se você estava preparado para ir, se você realmente esteve lá. Eu espero ter estado em todos os lugares em que estive. O contraste de pessoas e paisagens em tão pouco tempo foi quase que um tratamento de choque. Do calor (humano, claro e inclusive) das ruelas e castelos imponentes italianos, vespas estacionadas aos montes, pessoas tagarelando e gesticulando em alto tom e a bela língua de Dante a ser falada em cantados diferentes foi diametralmente o oposto dos céus cinzas do lar do Manchester United. Eu que pensava que não falava nada de italiano e que tinha um Inglês fluente (óbvio que Italiano é Italiano e que a língua falada em Manchester ou em Glasgow tá bem longe do Inglês)... E fazer essas viagens tendo como companhia as lentes de uma câmera, uma mala e alguns papéis simplesmente não tem preço. As pessoas que me foram cruzando o caminho também fizeram com que ele se tornasse ainda mais especial. Mas porque fizeram parte da viagem que encontrei lá, esperando que eu a vivesse. Tudo o que eu queria era simplesmente me diluir naquele(s) lugar(es), me mesclar com a paisagem, sentir as pessoas, entender o que me passava pela retina. Porque estar de olhos abertos e tê-los fechados ao mesmo tempo deve ser algo doloroso demais pra ser percebido, admitido. E daí fecham-se os olhos logo de uma vez e vai-se apenas tirar fotos pra ver em casa mais tarde.
Time will tell...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

E o Porto continua a surpreender :-)

Eu tinha mesmo que registrar isso, absolutamente: pela primeira vez presenciei algo que nunca pensei em ver na minha estadia aqui no Porto, e ainda mais nesse pequeno ponto da rua de Augusto Luso... as pessoas nas lojas também pareciam meio anestesiadas, com uma expressão de surpresa boa no olhar, quando viam pelas portas e pelas janelas a ínfima neve que caia daquele céu branco, testemunhando aquele frio espetáculo. Afinal, só aqui no Porto, há quem diga que não neva há mais de 20 anos...
O frio entrava quase a cortar as narinas, mas nada como saudar esse clima com o qual sou tão pouco familiar. :-)
E o Porto continua lindo, com ou sem neblina, e me sinto mais em casa nesse lugar a cada dia que passa. Acho que só mesmo depois de algum tempo no Brasil é que vou perceber que fui embora...