domingo, 6 de setembro de 2009

Estado de insônia, mais uma vez. Momento perfeito para mais um post. Para acompanhar: uma dose de Stone Temple Pilots - e de vinho do Porto, porque essas coisas sempre têm que vir em boa companhia. Não sei exatamente em que parte da onda estou, se na crista ou se no vale, ou se subindo para um ou descendo de outro... tudo ainda muito recente, um misto de euforia por ver as coisas finalmente funcionando, a monografia andando a passos largos e felizes, por vislumbrar um futuro que eu planejava mas que promete sair melhor que a encomenda - caso dê tudo certo - somado à nostalgia de uma Belo Horizonte que não existe mais (é, a inflação tirou e tira o sono de muita gente, e a classe medíocre continua no limbo para onde eu tive a felicidade de voltar), o horror do hiato criativo que me vejo obrigada a enfrentar todos os dias (medo do sucesso ou do fracasso?), a indignação de viver num país onde se falar em exploração do pré-sal não soa como boa noticia, somada à (no mínimo, horrivelmente desconfortável) sensação de ver a dignidade de um governo vendida a trinta moedas de prata (aliás, por um par de sapatos mais reforçados para a ministra d. Dilma usar nas eleições ano que vem) no dia em que Sarney saiu da forca, e me cansar de ler canalhice todos os dias no jornal até dar náusea. Bom, não tenho a menor dúvida de que estou mesmo de volta ao meu bom e velho Brasil, esperando, torcendo e contando com a melhor das possibilidades... a de que esse país não vai se acabar por causa da gripe suína - e assim diminuir o volume da novíssima CCS, o que seria uma provável catástrofe para a Saúde Pública.
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Bom, tirando esses pequenos detalhes (o disco continua a girar, soando à Led Zeppellin, ainda nas baquetas dos STP), a vida continua, no meu esforço homérico de fazê-la mais vivível e convivível, against all odds. É aquela velha história de todo intercambista que volta pra casa e fica chocado, etc etc. Em alguns casos, o choque passa rápido ou deve ser simplesmente inexistente. Em outros, o estado de choque demora um bocado mais, ou simplesmente não passa. Quanto a isso, não tenho novidade nenhuma além da de que vou ter que esperar mais um tempo pra ver em qual dessas categorias me enquadro. Como se a vida além-mar fosse sempre o Mar da Tranquilidade em que Neil Armstrong pisou pela primeira vez. Nem é preciso dizer que a realidade tá bem longe disso. Mas enfim. Agora eu sei que certos detalhes da experiência vão entrar em uma fase profunda de remodelação e de idealização, até se tornarem em mitos - resta saber se vão ser as memórias a ser reesculpidas ou se as lembranças é que vão continuar a metamorfose. Ou quem sabe, algumas memórias ainda se tornem em lembranças, no sentido kierkegaardiano da coisa (é. E pra completar, ainda estou me viciando em proto-existencialismo. Já chega perto do fim outro livro do mr. K. e quero ver qual vai ser o próximo...). Isso é outra coisa do conjunto enorme das que eu não faço a menor idéia. Talvez também seja mais saudável esperar para ver.
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Bom. A verdade é que os últimos meses e dias no Velho Continente foram uma espécie de superfast something e mais alguma coisa que eu não consigo nomear ainda. Nem sempre se consegue ser o próprio analista e nem sempre se está dentro de um filme de Woody Allen... ainda mais quando provincianismo belo-horizontino e sofisticação novaiorquina são traços de personalidade diametralmente opostos (isso explica a minha pseudo-bipolaridade?). Enfim. Já estava mesmo enjoada do Porto, no meu limite, e veio super, hiper, mega e blaster a calhar o pequeno tour pelo circuito já feito Alemanha-Reino Unido-Itália, mas com a variante "pacote anti-vergonha para quem diz ter estado na Europa": Berlim, Londres e Veneza on the stride. Estava morta de curiosidade e vontade de ir a Berlim e conhecer os dois lados do Muro (ou melhor, dos restos dele), rever uma amiga e andar por baixo da Brandenburg Tor, do mesmo jeito que estava morta de vontade de passar pelos canais de Veneza, ver a Piazza San Marco e imaginar um ou outro personagem shakespeareano me cruzar o caminho debaixo daquele sol escaldante de Julho. Só Londres eu achava meio overrated, mas resolvi ir para tirar as minhas próprias conclusões. Foi a volta perfeita. Nada melhor que me despedir de Portugal estando bem longe de lá (soa como... "meu saco tava literalmente cheio"?!), ou me despedir do Velho Continente estando bem mais perto dele. É, foi um pouco de cada coisa. Foi ótimo rever gente que eu sei que vai me fazer (e faz) falta, e conhecer mais gente que me faz falta igualmente. E não é preciso mais detalhe que isso. As sensações desse último mês foram o bastante para me fazer o mundo parar, girar mais rápido, mais devagar, chacoalhar - e de vez em quando, tudo de uma vez só. Foi ótimo e horrível ao mesmo tempo. Adorei.
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Bom, a continuação disso tudo foi, depois das despedidas portuenses, a pequena maratona de vôos que se seguiu depois de mais um dia energizante em Madri em ótima companhia, corridas pelo saguão de embarque em Guarulhos logo depois de sair da esteira das malas, uma temporada gringa mal planejada no Rio de Janeiro (algumas coisas não mudam mesmo, pqp), mas muito bacana (quem disse que portuga não é gente fina?), e uma visita germano-luso-dinamarquesa-mineira (não, quase carioca!) aqui na terra do pão de queijo. Foi ótimo, mas os detalhes ficam para um próximo capítulo. :-)