segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Time is an illusion. Lunchtime doubly so" ;-)

Não é falta do que fazer, é só um teste rotineiro de eficácia de válvulas de escape para noites chuvosas. Resultado: dois filmes consecutivos e quase em loop. Star Wars IV, que vergonhosamente eu nunca tinha assistido todo em sequência, e o Hithhiker's Guide to the Galaxy, quase tão bom quanto o livro. E aquela velha promessa de pegar emprestados, escavados ou comprados o restante dos livros da série para terminar de ler e matar a curiosidade. A gente sempre arranja um tempinho pra esses pequenos prazeres...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Indeferido

É a dark wave, só pode ser. Ou então essa chateação é prova de que sou uma pessoa que não sabe perder - o que também não deixa de ser algo pouco saudável, diga-se de passagem.

Às vezes (ok, sempre!) é um bocado complicado, muito difícil até, ter que lidar com o que a gente considera como grandes fracassos. O menos difícil nessas horas é tentar aprender com eles, naquela lógica da experimentação infantil de estímulo-resposta, até que não se ponha mais o dedinho na tomada ou a mão muito perto do fogo. E parece que em janeiro vai haver muito tempo para esse tipo de reflexão, ainda mais agora pelo tempo extra que confirmadamente recebi hoje. É verdade, a vida não é um sketch. É feita pra ser vivida pra valer. De vez em quando eu acho que me esqueço disso - o que torna a lembrança de certos fatos um pouquinho mais dolorosa.

É duro admitir e chegar à conclusão de que você é a única pessoa que se coloca entre você mesmo e o seu sucesso. Acho que "nunca na história desse país", tanto quanto hoje, tive esse sentimento horrível tão perto. E o pior é me sentir completamente impotente diante dele. Pelo menos em uma situação que eu já sei que não tenho mais como remediar. Mas é bom falar, extravasar, mesmo que num espaço em branco - ou em negro - desse vasto mundo virtual.

A minha experiência de estágio em rádio - que nem consta no meu currículo - é decididamente uma dessas coisas de que eu não gosto de falar, que ninguém em sã consciência faz questão de tornar público - aquele tipo de coisa que, ou foi a escolha errada decididamente, ou foi a escolha certa, mas no momento errado. Eu não gosto de falar disso. Dói. Mas o resquício do excesso de cristianismo que um dia já houve em mim não deixa de achar uma boa ideia fazer essa confissão, que embora pública de certa forma, não deixa de ser uma forma de catarse, de liberação. A cor-batina desse blog dá uma falsa impressão de invisibilidade.

Mas, enfim. Isso aconteceu lá pelos idos de 2006, já estava com 1/4 de pé na Europa mas queria muito experimentar o que eu pudesse antes de fazer qualquer coisa. Resolvi então me inscrever para o estágio de férias na rádio da UFMG. A seleção foi tranquila, fiz uma matéria sobre um assunto da vida acadêmica que já não me recordo bem. Mas lembro que ficou redondinha, com poucos segundos de diferença da duração total requerida, com cabeça, corpo, pé. Do jeitinho que a gente aprende na faculdade. Levei o tempo de um almoço para gravar, editar e fechar a coisa, para enviar pouco tempo antes da deadline. Me chamaram, achei super bacana.

Primeira semana, treinamento intensivo, e já comecei a ver que alguma coisa não estava muito bem comigo. Impressão minha, fantasia, claro. Mas nada foi pior do que chegar ao estúdio nas semanas seguintes e não conseguir fazer absolutamente nada, ficar naquela espécie de writer's block total (ou no caso, reporter, editor, e todas as funções que se possa imaginar numa redação). Hiato criativo ou incompetência? (chato ter que se ver obrigado a ficar com a segunda opção, não é?). Ainda não sei. Só sei que nunca consegui entender o motivo daquilo tudo. Acho que quanto pior eu me sentia, menos conseguia fazer, mais retraída ficava, menos conseguia pensar. E nessa fiquei. É chato ser motivo de piadinha (às vezes bem pouco sutis) e ter que concordar porque afinal de contas, há motivo de sobra para isso. Mais chato ainda é ver uma porta se fechar antes de tê-la conseguido abrir. Mas nada é sem motivo, e como já disse alguém que presenciou o triste fato, "a gente não apaga as nossas experiências, mesmo aquelas que nos incomodam. A gente aprende com elas e se fortalece dos erros".

Hoje meu pedido de tentar dar um novo começo - não apagar nem mudar, mas tentar fazer outras lembranças sobre aquilo que foi a experiência mais traumática que tive até agora - foi indeferido. E isso é daquelas coisas que a gente entende, concorda, mas não aceita.

E não adianta ficar chorando pelos cantos. A coisa agora é ir pra frente, não em caráter experimental, mas tendo a consciência de que é preciso dar o máximo para que a coisa saia bem (ou saia, ao mínimo, bem). E enfrentar os medos, against all odds. E não há nada mais desestimulante, nada mais doloroso que esses medos inconfessados. O medo do fracasso, o medo da perda, que só faz crescer quanto mais se quer algo, quanto mais se gosta de algo. Tive que aprender muito sobre isso durante o tempo que passei em Portugal. Nunca é fácil, mas aprende-se imensamente só de se ter a disposição de enxergar as coisas.

Às vezes eu fico me perguntando sobre o valor disso tudo. Pra quê se esforçar tanto, pra quê se cobrar tanto, se depois tudo vira pó, ninguém já lembra mais do seu nome, se todas as experiências que você teve vão, na melhor das hipóteses e em última instância, servir de alguma coisa a ninguém mais que não a você mesmo. Outras, fico pensando em construir algo que vai servir para muito além daquilo que vejo, que sinto, naquele sentimento altruísta meio infantil, meio fantástico, de ajudar a construir um mundo melhor que ainda está por se materializar. Entre os dois extremos, fico eu e as ideias que consegui juntar, me sentindo um pouco refém dessa montanha russa emocional, mas tentando ao máximo passar por tudo isso bem acordada, consciente de todos esses porquês, ainda que - de novo - isso doa mais do que ajude realmente. Mas é bom se manter vivo diante disso tudo, e tentar agir mais com ações do que com palavras. E eu acho que talvez está aí o meu maior erro - viver demais tentando olhar para fora da caverna, encarnar em excesso o papel de um personagem do Teatro do Absurdo - desdenhando a parte saudável do pragmatismo ocidental e norte-americano.

Isso seria resquício de quê?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Almost there!

E hoje finaliza-se um episódio de aproximadamente um mês de duração. O fim da tortura pela espera - minha, e de centenas de outros finalistas frenéticos e a essa altura, tão sem unhas quanto eu - pelo resultado daquilo que poderia ter sido uma ótima porta de entrada para dar azo à escrita no universo mágico dos textos de revista. Pelo menos nos próximos meses. Não vou poder fazer uma rodada dupla de comemorações como eu queria e esperava tanto, mas isso não quer dizer que eu não tenha motivos para comemorar: a minha suada monografia foi aprovada com louvor e passou com nota máxima pela banca, com indicações para uma continuidade do estudo num mestrado. Sou jornalista agora!! Por outro lado, tive que adiar a minha entrada no Curso Abril de Jornalismo, e reter a outra parte da festa.

Meus muitos parabéns aos talentosos colegas que passaram pela última peneira e vão entrar para a próxima turma do CAJ - muito churrasco, cerveja e bons textos pra vocês, sucesso e inspiração a todos! - e do lado de cá, fica ainda aquela sensação chata de bola na trave, mas a certeza feliz de que o jogo está bem longe dos 45 do segundo tempo. O plano de ataque poderia ter sido melhor, o nervosismo poderia ter sido menor e ajudaria certamente a não errar o passo e dar o branco na hora do lance, mas enfim... um jogo bonito minimiza um pouco o resultado ruim. E a gente sempre sabe quando é hora de avançar para o plano B, C ou D. Excesso de planejamento? Nem sempre... estar aberto às várias possibilidades é a melhor coisa a se fazer até que elas se concretizem. Talvez o único erro seja o excesso de ansiedade, que pode se tornar em certeza e virar um pouco de arrogância em certos casos. Com essas coisas, faz sempre bem a gente aprender para poder planejar melhor a próxima partida. :-)

Mas disso tudo, o episódio não deixa de ser enriquecedor em si. Aliás, foi uma vivência extremamente interessante, tão intensa quanto a espera. A primeira sensação, a incredulidade de ter sido uma das menos de 300 escolhidas entre 3272 candidatos do Brasil quase todo, foi muito mais emocionante que passar no vestibular. Senti como se eu tivesse, de repente, passado em Medicina na USP. A minha habitual languidez foi embora no mesmo milésimo de segundo em que senti cargas enormes de adrenalina dando voltas a 1000km/h pela minha corrente sanguínea. Esfrego os olhos, me levanto da cadeira pra tomar um ar, faço um refresh na página da lista pra ver se era aquilo mesmo ou se eu tinha tido uma mera ilusão diótica. Não, era mesmo aquilo e eu felizmente não estava enganada!

Depois, a espera pela entrevista, a falta de sorte de ter a data marcada fora das condições normais de temperatura e pressão - eu estava num ônibus, voltando pra casa recém saída de uma sessão do ForumDoc, e por isso quase não entendi nadinha do que estava sendo falado comigo, tive que pegar o número pra ligar de volta e coisa e tal - mas no fim, a data e o lugar estavam acertados.

Dia da entrevista, coração aos pulos, taxa de ml de suor por cm2 de pele ligeiramente maior que o normal (sem falar na tentativa de manter a calma e disfarçar tudo isso atrás de um sorriso meio amarelo e meio tranquilo). Entro na sala, dou de cara com o responsável pelos próximos momentos de tensão - e não só isso: pelo Curso também (que, fortunately, também é jornalista). Gostei muito. Nem o aparente talento natural em deixar pessoas à vontade parece ter ajudado muito. Com as mãos por baixo da mesa, eu tremia, suava, e via a terrível nuvem branca do hiato criativo tapando o sol dentro da sala. E foi branca mesmo. Só isso explica o fato de eu ter errado a idade do meu pai (quem cairia no ato falho de dar 57 anos a uma pessoa nascida em 1957?!), ter me esquecido que o filme cuja crítica eu queria comentar era o Abraços Partidos do Almodóvar (não rolava de jogar um "sabe aquele filme do Almodóvar com a Penélope Cruz?!"), ou ter me esquecido da maioria dos nomes das revistas que eu queria mencionar ou ter ficado na dúvida cruel de que a National Geographic era editada pela Abril aqui desse lado do Ocidente, porque isso era um detalhe do qual eu estava quase certa, mas não podia me dar ao luxo de errar, então preferi não mencionar. É. O excesso de adrenalina atrapalhou mais que ajudou, isso é fato. E talvez ter indicado conhecer uma pessoa bacana que conheci em uma das experiências pré-profissionais mais traumáticas que já passei na vida não tenha resultado em uma boa ideia, afinal (ou eu tinha me esquecido de que as pessoas precisam de contextos para formar conceitos sobre as outras?).

Mas mesmo que tudo isso soe a uma experiência desastrosa, não impediu a conversa de fluir bem e simpaticamente. Aliás, foi super bacana, bem interessante e eu gostei bastante. É pena não ser dessa vez o poder continuar o papo, mas acho que talvez numa próxima oportunidade.
Quem sabe?

Essas aventuras fazem bem ao espírito, e tudo depende de como se faz para chegar bem ao fim da viagem, mesmo em face aos pequenos revezes no percurso. É engraçado isso de a tristeza também ter seu lado alegre, dependendo do ângulo em que se olha para ela. É bom olhá-la bem dentro dos olhos e tentar enxergar o que ela está tentando esconder, e não tem muita receita nem fórmula para isso. É preciso encarar bem de perto para poder enxergar alguém nos olhos. E isso é coisa para quem tem coragem de fazê-la.

Por enquanto, vou ter muita coisa a pensar e filosofar - muitos olhares a fazer. É bom aprender com essas coisas. Não foi mesmo Sartre quem disse que o importante é o que fazemos com o que nos acontece, e não o contrário? :-)