segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Música teatral


A noite de sábado foi, como diria meu querido Edmundo Novaes, SEN-SA-CI-O-NAL. Primeiro, porque finalmente cumpri minha promessa de ir a uma das Noites Alto Falante, incrivel e milagrosamente sem imprevisto nenhum que me barrasse. De novo, SEN-SA-CI-O-NAL!

Segundo, o processo correu melhor do que o previsto e terceiro, porque as bandas que tocaram na Noite deram um show no sentido literal, figurado e todos os outros. Os convidados foram os cariocas do Manacá e os nossos debochados conterrâneos do Falcatrua. A galera (tanto das bandas quanto da organização) tava inspirada mesmo, e parece que a onda teatral circense respirada em BH nos últimos tempos - trazida pelo IMPETO (Invasão Mundial de Palhaços E Todos os Outros) e a passagem da Cia. Clowns de Shakespeare - também teve sua palhinha no palco da Cervejaria Official.

O Manacá, surpresa total pra mim, abriu a noite com seu som que contrastava o peso na guitarra, bateria e baixo com os toques de música nordestina e folclórica, presente em todas as composições. Aliás, esse é o grande diferencial da banda, que mistura doses de Cordel do Fogo Encantado a Queens of Stone Age e Led Zeppelin, e nada de gringuice chula como a de bandas neo-emo que disparam nas rádios em todos os cantos do Brasil.

Fui apresentada oficialmente ao Manacá neste show, mas qual não foi maior a minha surpresa ao ver a vocalista, Letícia Persiles, com um visual que levava a crer que ela tinha recém-saído de uma ‘aula de balé para meninas más’, com uma fuseau e saia de tule vermelhas, tatuagem no braço e uma blusa preta, além de maquiagem pesada nos olhos. Tanto o baixista, o baterista como o guitarrista tinham um look bem mais ‘careta’, como todos nós da platéia. A inspiração teatral da banda já se fez notar logo na nota de abertura, com músicas que lembravam uma harmonia de leve toque circense no fundo, e principalmente, as caras e bocas e rodopios de Missy Persiles. Ela era meio que um misto entre clown, dançarina de cabaré, atriz - e sim, bem lembrado - cantora. Os movimentos de gueixa da moça, contrastados com o frenesi do guitarrista foram elementos que, junto ao talento da banda, contribuíram para uma performance apaixonante – que se confirmou com o cover que fizeram do Canto de Ossanha. E ponto final, saem do palco. E quando achei que o Manacá ia fechar o show com a música angelical de Baden e Vinícius, o quarteto volta aos seus postos e fazem um ‘mergulho no inferno’ com a música Diabo.
Surpresa muito boa a desses cariocas.

Com letras cáusticas e performance igualmente teatral, a apresentação do Falcatrua confirmou a verve circense da Noite, fechando a festa de uma forma memorável. Já conhecia alguma coisa da banda, mas ainda não tinha visto uma apresentação deles ao vivo. E o negócio é bão dimais da conta! Além das tradicionais vestes compartilhadas por todos os membros - macacões quase primos desses de operários em obras da Cemig e da Copasa - a trupe do caricato André Miglio fez a galera mexer as cadeiras com seu ritmo dançante (e pensante). O jeito que as letras são cantadas/recitadas, junto às expressões, olhos esbugalhados e alterações cômicas no tom de voz fez com que a sensação fosse quase como a de ver um teatro musicado, bem bacana. Sabe aqueles chefs de cozinha que fazem combinações meio esdrúxulas do tipo ‘formiga, tomate seco e calda de chocolate’ numa mesma receita, mas que no fim a gororoba é um dos melhores pratos que você já experimentou? Pois o ensopado dos caras provou que eles sabem usar muito bem os ingredientes da vasta cozinha musical. Desde Pau de Arara Espacial e críticas ao panorama social, ganância e desrespeito ao espaço alheio em terras tupiniquins a covers de Beatles, Belchior e Gonzaguinha, só tenho a dizer que o conjunto da obra foi um espetáculo. A salada dos caras mostrou que eles mais que mereceram ir ao Jambolada este ano.


Ah, como vou sentir falta disso quando estiver nas terras de Cabral!