sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Parabéns, Oliveira!

O centenário de Manoel de Oliveira, um dos maiores ícones de Portugal e ainda em atividade. Isso é que longevidade!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Today I woke up with this song playing at the back of my head. I've heard it's about losing your faith... But I think it can be also about gaining it or else somehow. Can't it?
But I think this other song makes more sense for my day after all...

domingo, 16 de novembro de 2008

Ême, êne, é, ême, ó

É estranho como as coisas acontecem e vão acontecendo quando você tenta se dar conta da progressão e da lógica delas. Uma foto, uma pergunta, uma tarde, de vez em quando são santos remédios para cabeças cheias de assuntos mais importantes para se tratar que a própria existência parca e consumida às pressas, como um prato indigesto de que somos obrigados a nos satisfazer famigeradamente.
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As fotografias, fotografias… suportes da memória a curto prazo que às vezes não tem cheiros nem cores, talvez nem as cores com que entraram pelas lentes de uma câmera-lixo, e tudo isso fica ainda mais líquido levando-se em consideração que também o suporte físico deixa de ter lugar… acumulam-se imagens em telas de LCD sem que ao menos as tenhamos na lembrança – o que não necessariamente é o mesmo que não as tê-las na memória. Será que as fotos dos outros são as minhas memórias? Será que me aproprio ou posso me apropriar delas porque à partida são mesmo dos outros, ou será que são mais minhas exatamente por isso, por serem dos outros?… talvez por eu tê-las simplesmente vivido ao invés de tê-las tentado congelar e reter num instante fugidio da memória, que me fugiu exatamente por eu tê-lo tentado reter?
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Como congelar o tempo? Eu, se pudesse, congelá-lo-ia eternamente, só para não ter que senti-lo passar por mim olhando-me com o desdém de quem tudo pode fazer… sinto-o líquido, fluindo de dentro para fora e de fora para dentro, numa diferença enorme de fluxo (o fluxo que vem de fora sempre aumenta em progressão métrica geométrica, e o de dentro é sempre quase centimetrado)… como reter o tempo? Como reter os instantes? Como congelar essa água que flui quando se vê uma folha dourada se desprendendo de uma árvore, uma peça de música que toca no fundo, um poema que se quer ter sempre perto dos olhos e do coração, a emoção de se estar num lugar em que se pode entender, absorver e se raciocinar com a certeza de que se consegue captar absolutamente tudo (ou quase) por causa de uma língua tão linda quanto sensível que interliga almas e culturas…
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Não sei, talvez a melhor forma de se congelar o presente é vivendo-o, e não tentando elaborá-lo antes de acontecer. Acho que vivemos perdidos lembrando excessivamente do passado e tentando planejar o futuro igualmente em excesso, tentando ensaiar o maior número de cenários possíveis como se tivéssemos toda a teoria da Física Quântica compilada entre as orelhas, talvez engatilhada para um uso mais útil que apenas ensaiar. Confesso, eu não a tenho. E mesmo assim, tento ensaiar como se tivesse toda ela bem guardada e embrulhada para presente, prestes a se abrir a qualquer conexão sináptica mais forte ou com alguma elevação de temperatura cerebral decorrente de falta de sono prolongado ou stress acumulado…
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E assim vai-se, caminha-se, “vai-se andando”, como detesto ouvir dizer. Anacronicamente, no descontentamento de não se poder reter o presente por nunca estarmos atentos a ele o suficiente nos pequenos detalhes. Acho que quando se faz memórias - ou melhor dizendo, lembranças - é necessário que se tenha os cinco (ou seis, sete, ou oito…) sentidos bem atentos, completamente absortos na experiência, o que às vezes não é tão fácil assim quando se tem a terrível mania da antecipação e da assimilação relâmpago e fácil digestão das imagens, cheiros, sensações e lugares. Assim uma pessoa pode acabar tendo uma indigestão bem severa e talvez conseguir o contrário do que queria quando saiu à procura de experiências para colecionar, porque, como bem lembrou Kierkegaard… lembranças não são o mesmo que memórias… lembranças sobrevivem ou são ressuscitadas num ambiente completamente adverso àquele em que ela se deu (exatamente por causa desse contraste), são as sensações guardadas, as impressões, os sentimentos, as conexões reais e naturais que aconteceram na mente e na alma. Deixam uma marca indelével. As memórias precisam ser sempre ser alimentadas por algo que tencione e suscite trazer a lembrança à tona (mas que já não é lembrança se precisa de estímulo, então…). Mas é imediatizada e não demora muito a perder as cores e os sabores. É o tipo de coisa que ajuda muito em termos práticos, mas acho que não se mede a extensão de uma pessoa pela extensão da sua memória, mas sim pela extensão das suas lembranças (o que também é controverso, pode ser que a memória também seja uma boa medida…).
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Mas quero poder guardar mais lembranças que memórias.


Guardar (Antônio Cícero)

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Oh! Frankfurt...




Passado o “deslumbramento” inicial (que acho que é uma coisa que ninguém devia perder nunca, nem pela própria cidade), nada melhor que lembrar e relembrar…

Depois de um vôo bem chato – sim, pra quem já passou mais de 10 horas num “vuelo non-stop”, menos de 3 horas agora são incômodas e chatas… - finalmente cheguei ao “galpão” de Hahn, perto de Frankfurt, Köln e mais alguns lugares, e bem, ainda tinha mais uma hora e meia de ônibus pra chegar à cidade que eu queria. Depois de falar com a minha adorável host, a Helena, finalmente saí do galpão e estava a caminho da cidade dos arranha-céus. O caminho que eu via passar pela janela tinha mesmo uma paisagem convidativa, cheia daquelas florestas invernais com folhas salpicadas de dourado e ocre, algumas ainda pendendo das árvores e muitas delas pelo chão, sob o signo daquele céu azul de onde o sol brilhava timidamente, iluminando um trajeto que cheirava a bucolismo e que desembocava num contraste quase violento com aquele coração financeiro da Europa. Com a companhia de Nicola Conte, José González, e claro, Led Zeppelin no player, cheguei finalmente à Hauptbanhof, a estação principal dos trens em Frankfurt.

Aquele lugar coberto de um enorme céu metálico à la século XIX tinha uma data de trens da DeutscheBahn a ir e vir, uns talvez com atraso, outros talvez tão pontuais como se imagina serem as pessoas daquela parte da Germânia. Aquilo era um misto de shopping center, “quiosqueria”, estação e centro de informações, com a comodidade de terem telefones espalhados por todas as esquinas pequenas. Sendo assim, poucos minutos depois de ter usado um daqueles telefones, lá estava a Helena, num elegante casaco escuro e com um sorriso que me fez sentir confortavelmente bem-vinda à “Mainhattan”, como dizem.

A primeira coisa que fizemos foi parar em um café (só não me pergunte o nome!) quentinho, com almofadas e revistas em uma janela que dava para a rua - e para a GoethesHaus - e minha escolha não podia ser outra além da minha primeiríssima dose de Apfelwein – “pure, please… kein Saft mit der Wein, bitte!” – e ali ficamos a conversar por um tempinho, aproveitando o calorzinho do lugar e a minha inevitável expressão de novidade no rosto. Depois, no caminho até a casa, mais papo, a vista dos primeiros arranha-céus, o cheiro do parque que dá as frentes (ou as costas?) para o Banco Central Europeu e a Alte Oper, linda, com uma fonte na frente e uns cafés do lado, tipo “parisién style”. Nas ruazinhas pelos lados da Grüneburgweg, casas ao estilo neoclássico e um mercado de flores e vegetais que é uma graça.

Chegando à casa, tenho a surpresa de ser recepcionada por um adorável canino, mais conhecido como Pumba, que sem barulho nenhum recebe afagos de visitas e se sente feliz por dormir na cama dos seus pais, Georg e Helena. Adoráveis, todos eles… e com muito estilo. :-) Estilo, aliás, é mesmo uma palavra que define esses dois estudantes de Filosofia que conheci no país de Nietzsche e Marx. Helena estava sempre a sonhar com uma vida em meio ao século XIX, e Georg, um sujeito interessante e misterioso com quem gostaria de ter conversado mais, era mesmo o par perfeito da simpática menina de cabelos louros.

Feitas as devidas apresentações, era hora de perambular pela cidade, como boa turista que sou. :-) Mapa na bolsa e algum Alemão cru na língua, encontro arranha-céus, esculturas, cafés, ruas de calçadão, a Bolsa de Frankfurt (me doeu um pouco ver isso justo nessa época, mas acho que nem é pra tanto)… foi bom andar pela Schillerstrasse e outras ao redor sob aquele sol pálido que iluminava as praças, shopping centers, bancos e as muitas livrarias com preços convidativos, em meio àquela salada de alemães, turcos, indianos e gente da mesma categoria que eu, turistando talvez com essa mesma estranha sensação de não se querer ser turista…

Comi então a minha primeira bratwurst, pedida meio em Alemão, meio em Inglês e com um “danke schön!” no fim, ao que escuto um “you are welcome!” de volta, e depois continuei deambulando por aquela cidade que me pareceu ter um custo de vida abaixo do que eu esperava (que ótimo!), e fui finalmente parar ao Römer, essa praça de fundação romana que vem nos cartões postais e na imaginação dos turistas que visitam a cidade. É mesmo linda, principalmente à noite, com uma afluência enorme de pessoas e o rio Main logo à frente. E por falar em rio Main, atravessá-lo à noite foi mais que tirar fotos das ondas na água (hum… à noite? Essa foi mesmo má! hehe) e dos prédios que emergiam ao fundo… houve um bando de malucos que tava a seguir o curso do rio em uns barquinhos - na verdade, caiaques - munidos de chapéus de “viking-horns”, luzes intermitentes (seriam árvores de Natal ambulantes?), música e muita gritaria… pensei que fosse algum tipo de feriado nacional ou alguma coisa que se fazia de praxe, mas depois vim a saber que não era uma manifestação regular ou temporal. Achei bacana, e pensei que podia ser por algo que aconteceria no dia seguinte (de fato, houve a Maratona de Frankfurt no domingo) ou estavam tão felizes por ter mais uma brasileira simpática a olhar a cidade que não podiam conter a alegria e tiveram que se manifestar de alguma forma… modéstia pouca é bobagem lá nos trópicos!

Depois de ter o caminho de volta feito, e feliz por não ter sido difícil achá-lo sem usar o mapa, uma saidinha com o Pumba pelo parque, mais papo e um vinhozinho que ninguém é de ferro… estava bem feliz por pensar que podia me virar sem ter que depender inteiramente do meu Inglês, já que algumas das pessoas que encontrei ao longo do caminho não falavam outra coisa senão Deutsch. :-)

No outro dia de manhã, um domingo cinzento e frio, fui logo pra varanda ler um jornal e pensando que aquele gelo todo me faria muito bem pra acordar os neurónios. Bom, e no fim, fez mesmo… mais conversa no café da manhã com os meus adoráveis hosts (que a essas alturas devem até saber quando é que o Lula nasceu), era hora de traçar o próximo plano. Minha missão era então ir ao Städel Museum do outro lado do Main. No meio do caminho me chama a atenção uma batucada que se agitava persistentemente à distância, ainda meio que sob o efeito Doppler, que vai diminuindo à medida que me aproximo. Não era outra coisa senão a Maratona de Frankfurt, com direito à Coca-Cola pros maratonistas, transmissão na TV, muita música e uma grande festa na frente da Alte Oper. As estrelas principais? Um grupo de batuque de – adivinha de onde! – (we’re EVERYWHERE…) e os gringos sorrindo e alguns gingando naquele frio que quase cortava os meus ossos tropicais. :-)

Depois de mais um pouco deambular, uma parada no Römer e um shake da Haagen-Dazs antes, pra continuar a via sacra. Vi um museu atrás da pracinha, uma loja de brinquedos de madeira todos feitos à mão (hmmm, gracinha de Quebra-Nozes!), quase à Grimm, um septeto de cantores-músicos uniformizados à anos 40 sob a pele de militares russos (me pareceu) e cantando uma músicas tão mellow que era de comover qualquer passante. Mais à frente, um sorridente malabarista chinês que não entendia nada do que falassem com ele, mas que tinha uma concentração digna de um giggler do circo de Pequim ou de Moscou… e depois disso, algumas ruínas (cujos intertítulos não consegui ler muito bem, que frustrante…) e uma loja de souvenirs escondidos atrás da praça, e finalmente o outro lado do Main pra completar o meu destino inicial.

Mas acabo mudando de idéia ao me lembrar que o Deutsches Filmmuseum também ficava por ali, e, Bosch e Vermeer que me desculpem, mas tive que dar uma voltinha noutro lugar. :-) A visita toda daria um post talvez tão grande quanto esse, mas poder me virar mais uma vez sem o meu Inglês, poder ver os antepassados da camara obscura, filmes do Meliès e dos Lumiére rodando, tocar na armadura dourada da Maria-Robot de Fritz Lang (eu TIVE que passar o cantinho da unha no dedo da estátua pra ver se era de verdade… nem eu conseguia acreditar naquilo…!) e ver os scores originais da trilha sonora do Metropolis, poxa… foi simplesmente mágico e fez toda uma tarde se parecer com duas horas passadas depressa. Depois de algumas horas ali dentro, percebi o meu sacrilégio de não ter papel e caneta na mão (o que não costuma acontecer!), providenciei-os às pressas, mas, sorte minha… já tinha conseguido alguns registros em imagem daquele pequeno santuário. Fui a última pessoa a deixar o museu (ok, isso nem é a primeira vez que me acontece) e ainda antes disso fiquei de papo com uma senhora muito simpática que trabalha no museu, interessada pelo meu interesse e me desejou toda a felicidade do mundo depois. Um amor de pessoa.

De volta à casa, aqueles inevitáveis comentários de quem acabou de descobrir a pólvora, e pra fechar a noite, claro, um filme. Nada como ver Waking Life ao lado de gente que faz da Filosofia o objeto de estudo da vida toda... :-) E assim termina a noite e o fim de semana, porque no dia seguinte eu tinha que acordar bem cedo para deixar Chicago Am Main e voltar pro meu Porto pacato. Mas isso também já rende outra história…

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O conto de uma vida

Hoje, depois de um café da manhã um pouco nada saudável, mas necessário (uma xícara pequena de café de vez em quando faz milagres que a natureza não explica), estava eu, a ler uns escritos, escutando umas velharias, e surpreendentemente, me lembrando de uma pessoa – que hoje não sei se posso chamar de amiga, porque acho que nunca a entendi de verdade… ou talvez nem o quisesse - que já quase havia se desvanecido da memória. Depois de passadas algumas décadas, uma pessoa acaba se distanciando da sua juventude e começa a ver o inevitável vindo pela frente. Mas antes disso, tenho uma história pra contar.

Ana Carolina “Mayakovskaya” Andrade e eu andávamos na faculdade pelos nossos idos vinte e poucos anos, e foi mesmo lá que a conheci. Era uma menina linda e adorável, mas de gosto pouco ortodoxo (ou será que posso chamar aquilo de des-gosto?!) pela moda e pelas coisas que vestia (na verdade tenho a impressão que ela só se vestia porque era estritamente necessário… mas nunca a vi andar de pijamas pela sala de aula). Usava um corte de cabelo tão pouco ortodoxo quanto as suas roupas (aquele liso pontiagudo, curto e basiquíssimo fazia um conjunto perfeito com a sua quase ideia de não-roupa) e bem, a única coisa que a fazia ser descoberta uma pessoa adorável, à partida, era a conversa dela. Era-se mesmo meio difícil achar alguém que não tivesse nada a dizer nos corredores de Letras e Belas Artes daquela época (isso era requisito básico para os loucos que queriam se arriscar pelo livre pensamento e alguns pela tinta da pena) e menos difícil, na verdade, comum, era ver alguém que simpatizasse com as ideias de Marx (as verdadeiras, não com o que fizeram com elas na ex-URSS) porque achávamos que isso podia mudar o mundo… queríamos mudá-lo de fato, e sim, naquele Brasil de meados da década de 70, gostávamos de ir a cafés - leia-se, fumar uns charros escondidos - e discutir sobre tudo, ou quase (lembro-me que os assuntos variavam da morte do Herzog ou a independência de Angola à Nietzsche ou Kierkegaard – nada mais apropriado pra se discutir em um boteco…), assistir filmes do Godard (que sinceramente os preparados de erva ajudavam a entender bem melhor) e era assim, “nada de muito extraordinário” naquela pacata cidade então quase provinciana que era a nossa BH. E talvez porque gostássemos de seu ar juvenil e quase maroto, BH ia ser sempre uma jovem provinciana na nossa cabeça.

Mas voltemos à Carol. Ela fazia parte do meu grupo de amigos e acho que tinha um estranho desejo de morte violenta, ainda mais forte que o meu por reconhecimento do meu heroísmo fake: havia que se defender uma ideia, sempre, mas sair à noite para grafitar paredes em espaço público em crítica à ditadura e em favor dos exilados era um pouco demais, eu achava. Preferia o sossego dos meus pseudónimos a ter que correr o risco de me deparar com um polícia na rua e nunca mais voltar. Mas a Carol era meio assim. Na maior parte do tempo tinha um sorriso no rosto, gostava de conversas animadas, mas nunca dava as cartas. Tenho a impressão de que no fundo, no fundo, ela era uma tímida incorrigível, que tentava se expor ao máximo para que ninguém visse o que estava logo à vista: que era uma pessoa extremamente infeliz. Foi o que vim a perceber depois. Nas poucas conversas que tivemos sobre a sua infância e o que fizera até ali, Carol sempre me pareceu uma fortaleza emocional quase intransponível: me dizia que não gostava de depender de ninguém em aspecto nenhum, que achava que Nietzsche tinha razão e que a vida era mesmo assim, cada um por si e Deus por todos (embora eu ache que ela não acreditava realmente no que dizia, e talvez nutrisse a mesma não-crença pelo divino que eu tinha). E eu brincava, dizendo que daquele jeito ela ia acabar morrendo virgem, porque ninguém queria comer uma mal-comida de gosto amargo. E ela se ria disso, dizia que tinha uma quedinha pelo Pedro mas me fazia jurar que ele nunca o saberia, fingindo uma intangibilidade emocional que não fazia mais que enterrar ainda mais fundo os seus medos e seus desejos. Apesar disso, dizia que se identificava muito com seu pai, porque não o conhecera. E ela dizia que essa identificação tardia com ele é porque ela nunca chegou a se conhecer completamente (na verdade ela dizia “nem minimamente!”). E sempre que chegávamos nesse ponto da conversa, Carol tentava escapar pelos dedos, tão escorregadia quanto um peixe, e dizia “olha, mas eu tava vendo outro dia uma coisa bacana que a gente podia escrever e tal”…

E eu pensava que éramos mesmo amigas. Mas a Carol me assustava. Era uma pessoa com mais altos e baixos do que o comum (podia variar entre o silêncio total e absoluto numa animada roda de amigos ou podia se fartar de falar entre uma cerveja e outra numa ocasião parecida), e acreditava piamente que um dia tudo ia acabar e que não havia sentido em nada que estávamos a fazer (outra coisa que me assustava era seu niilismo), e achava que devia estudar filosofia depois porque achava estúpido e genial ao mesmo tempo, mesmo que no fim das contas isso não fosse servir de nada, que não entendia como Hegel e Platão poderiam estar inscritos numa mesma categoria e ser estudados num mesmo curso, que adorava o mito da caverna (talvez isso explicava a insistente fixação dela pelo não-ser, ou pelo menos do não-corpóreo ou qualquer coisa assim… me contou um dia que “se um dia pudesse tornar-se éter se sentiria completa”), e que achava que Epicuro é que tinha razão no fim das contas. A verdade é que acho que não me surpreenderia se ela também apoiasse Hitler se ela tivesse nascido alemã alguns anos antes. A Carol dizia que ele também tinha a sua razão. Ela vivia a me dizer que às vezes mais valia uma proposição não correta e bem elaborada do que uma verdade objetiva e incontestável, fácil por ser um dado adquirido. E acreditava mesmo nisso.

Me lembro que numa das últimas vezes que a vi, estávamos conversando uma bobagem qualquer num bar numa noite quente com uns outros amigos. Aquela então estranha figura não conseguia mais esconder seu ar soturno por trás do seu falso e ainda radiante sorriso. E ainda assim, falava, falava como se o mundo fosse acabar. Continuava a contestar com os seus grafites, a gostar de Cinema Novo, fumar os charros de sempre e a ler Sartre. Ela dizia que queria escrever e desenhar pro Pasquim, que queria se mudar dali, que queria ser estrela de rock e morrer nos porões da ditadura e ser cultuada como heroína nacional. A gente se ria muito disso, e sempre tive a certeza de que a Carol era meio fora de órbita mas tinha um grande futuro.

É verdade. E tinha mesmo. Pena que não chegou a ter. Mas hoje acho que seu maior erro era ler Mayakovsky compulsivamente (coisa que só vim saber depois)… Notei a falta da Carol numa semana que ela de repente parou de ir à faculdade e parecia ter se cansado das nossas saídas e das nossas conversas com o pessoal. Tentávamos ligar pra casa dela e saber o que havia acontecido, se tinha viajado, e não tínhamos resposta. Eu e uns amigos fomos até o apê onde ela morava, e parecia não ter ninguém, e pessoa alguma sabia o que havia acontecido. Todo mundo pensou logo que ela havia ido em uma viagem pra descanso da pele, mas eu, com as minhas lentes do Apocalipse, pensei logo que ela tinha tido realizado seu sonho louco de complexo de mártir e finalmente a polícia a tinha visto fazendo um dos seus grafites. Teríamos decretado feriado nacional no dia da morte de Santa Carol, se ao menos tivéssemos a certeza de que isso tinha acontecido. E acho que ela ficaria mesmo muito feliz. Mas o que aconteceu de fato foi os vizinhos notarem um cheiro muito forte vindo do apartamento da Carol, onde ela insistia em morar sozinha (o que se justificava segundo o que ela tinha me dito uma vez: "detesto pessoas que usam a mesma máscara todos os dias...". Paranóia?). E sim, minhas suspeitas não estavam erradas de todo, infelizmente. Depois da notícia que ninguém queria ouvir, o pânico, a incompreensão, a revolta, viu-se um bilhete por baixo da arma do crime, em que se podia ler nas últimas linhas: “me perdoem, sei que essa não é a melhor maneira (não recomendo isso a ninguém), mas parece que pra mim já não tem jeito. Pedro – ame-me”. Tive raiva, me senti muito mal por não ter feito nada antes e depois de tudo cheguei à conclusão de que aquela foi uma morte covarde mas talvez fosse mesmo a única saída. Alguns escritos foram encontrados escondidos entre os seus pertences em várias partes da casa, bem à sombra do alcance de qualquer pessoa, quase camuflados. Pude ler alguns, e aquele mosaico enorme começou a compor a face daquela personalidade frágil e brilhante. Quanto aos maiores amores da vida dela – Mayakovsky e Pedro, segundo os seus escritos – bom, um deve ter ficado numa imensa tristeza póstuma a ver alguém usar a sua anti-recomendação como modelo de morte mais de quarenta anos depois da sua. Quanto ao outro, parece ter absorvido a interioridade e o humor soturno da sua amante travestido com os mesmos sorrisos, como se fosse uma maldição saída da pena de E. Allan Poe.

E eu depois disso comecei a grafitar paredes e fui trabalhar no Pasquim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Pra não deixar passar em branco










Ou em preto (minha cor de fundo favorita!). Porque se uma imagem vale mais que mil palavras, várias delas então me economizam um monte...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mais uma

E hoje começa o U. Frame...! Que rufem as câmeras! ;-)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Meghie Acorda in Lisboa


Depois de uma ida um tanto conturbada (juro que não ouvi a merda do despertador), de chegar à "cidade grande" com a sorte de ter encontrado uma pessoa que ia no mesmo caminho que eu - CCB! - reparei logo que em Lisboa não se fala tanto português assim afinal. No autocarro, escutava Inglês à minha frente, espanhol atrás, polaco do lado e um português - é sério! - timidamente muito mais pro fundo dos bancos, quase imperceptível. Mas enfim.

A primeira parte do plano já tá cumprida: vim a Lisboa, participei da tão esperada Noite de que falei, fiquei lá ajudando e conversando com o pessoal, falei MUITO (imaginem que de repente me vi sentadinha nos minifutons que eu achei que ia ficar só observando, e acabei mais ou menos entrevistando e sendo entrevistada por muitas pessoas - umas interessadas em Sociais, outras meio desapontadas por acharem que, "ah, mas então você não trabalha com ratinhos de laboratório nem coisa do tipo?!")... mas no fim, saí viva e feliz de lá, com uns nuggets a mais no estômago, cheirando a água de framboesa e com vontade de conhecer os ratinhos de uma das meninas de Genética que tavam a falar com o pessoal. :-) Além disso, tive a sorte de encontrar um couch a tempo pra surfar (tem certas coisas que nem Newton explica!), na casa do Rafa, um sujeito que é uma mescla de simpatia, bom humor, inteligência e muito bom gosto pras artes e pras coisas boas da vida (um "espanto de rapaz"... pena não ter proseado mais!), e isso ainda na companhia de mais 3 andarilhas como eu (quer dizer, eu bem menos, mas viajando mesmo assim), e toda a gente muito bacana. Desnecessário dizer que eu REALMENTE precisava me afastar um pouco do meu objeto de paixão desses últimos 380 e poucos dias. Como em toda relação saudável, tem hora que a gente tem que dar um break e um tempo pra cabeça e pro coração. Pra mim já tava muito mais que na hora de fazer isso... e tentar descobrir um pouquinho mais do epicurismo perdido e me afastar do meu espelho de narciso distorcido e quebrado por excesso de visionamento. Acho que funcionou um pouco... A cada dia que passa tenho mais certeza de que preciso acabar com esse vício de procrastinar as coisas e de adiar a minha vida. Já dizia a canção.

Ver Lisboa fora dos comentários, mesmo que vergonhosamente tarde, veio a calhar e me ajudou a entender melhor o Porto e algo dos portugueses. Foi tudo literalmente "out of the box"... depois que saí do CCB, fui me encontrar com o meu host, que estava, junto com a galera do MAL, fazendo algum barulho pros olhos - e pros ouvidos também - com um screening de curtas projetados num lençol e ao ar livre, que dava com uma vista linda ao longe, como só a arquitetura de Portugal poderia oferecer. Foi MUITO bacana. Bom saber que tem gente que se importa com o que lhes entra pelos olhos e faz alguma coisa! :-)

Rolou pub crawling também, claro, e se não fosse tão baixinha, delicadamente surrupiava uma luminária em forma de couve que vi em um dos bares (e nesse ainda faziam uma exibição de filmes - sabe aqueles seventies de família no parque? pois é! - conjugados com uma música bacana pra agitar o pessoal. Achei a descontinuidade um barato). E depois aproveitei para andarilhar e palmilhar as ruas da cidade (ao menos mais do Bairro Alto), com os meus pequeninos e famigerados pés, na companhia de duas gringas que brevemente se transformaram em três, com a chegada de outra CSer da Argentina. Andamos muito, conversamos algo, tomamos mate e me deu vontade de ir na mala dela pra Ushuaia ou Bariloche ao invés de voltar pro Porto... quem sabe quando eu estiver mais perto de casa? :-)

Fui à rua do Norte, fiquei babando nos vinis velhos e na quinquilharia vintage que eles vendiam em todas as lojas, tive algum tempo para andar pela rua Augusta, levar um dedo de prosa com o Fernando Pessoa na frente d'A Brasileira, visitar livrarias, fazer umas compras (ou pelo menos esperar as minhas companhias a fazê-las... embora não pudesse resistir a isso completamente enquanto estava a serpentear pelas ruas estreitas do Bairro Alto), ir à Praça do Comércio observar o movimento e o Tejo ao fundo... depois, de volta ao aquário, um pouco de música num lugar que me lembrava A Obra e umas batidas em electro-qualquercoisa num outro pub, inundado de alemães (aliás, como todo o centro lisboeta). E ainda na sexta - um dos detalhes que colorem e apimentam essas visitas - fomos a um restaurante ("nossa, é ilegal, que legal!") caboverdiano (se me lembro bem) tomar uma sopa de galinha, ou, no caso de muita fome, comer uma kizumba. No sábado fomos à Casa do Alentejo, um lugar esplendoroso de decoração árabe, que mais se parecia com um spa do que um restaurante. Lindo, lindo, lindo. :-)

No domingo, rolou massagem na praça do Comércio (costas, mãos e aromaterapia! huummmm!), Feira Ladra (e eu que achava que a dos Aflitos era invenção brasileira...) e uma exposição baseada na obra do Saramago. E depois disso, ufa, tinha que descansar porque era domingo afinal... :-) Depois de conhecer um pouco do Bairro Alto e da Baixa, falta presenciar uma noite de fado em Alfama.

Mas no fim, achei linda a mistura de cores, sabores, cheiros e estilos world-lisboetas. Você sai à noite e se sente completamente à vontade com as suas madeixas afro-beat. Se estiver vestido com roupa com um quê de estranha, melhor ainda. :-) Me parece que em Lisboa as pessoas têm consciência de si e do seu lugar no mundo. Adorei a forma de conjugar as coisas, combinar e experimentar. Foi só um pouquinho, mas acho que é mais ou menos como descrevi à minha irmã: "Gente de tudo enquanto é jeito e estilo. Bolsas feitas de pneu de carro e de blusa de manga comprida. Bricolagem em bolsa velha, reciclado, monumentos, elétrico subindo e descendo rua, rua Augusta, Bairro Alto, sessão de curtas num lençol estendido no meio de uma pracinha...". E acho que é isso. \o/
P.S.: Na foto, Cecília, a tomadora de mate, o "eléctrico" descansando da ladeira e ao lado, essa que vos fala. :-)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ossos do ofício

Bacana. No Clube de Jornalistas dessa quarta, um debate interessante sobre as cores e contornos que a relação direta entre violência, imigração e preconceito tem tomado em Portugal. O assunto, claro, que não podia estar mais em voga, era essa velha idéia de associar imigrantes à onda de assaltos violentos que tem atacado Portugal com uma certa força nesses últimos tempos. Acho que não cheguei a comentar, mas quando daquele assalto ao BES em Lisboa - último caso famosíssimo de violência coberta pela imprensa e na agenda dos portugueses - achei um absurdo terem que transmitir imagens ao vivo, e a reportagem que vi na SIC à noite se parecia mais com uma novela das 8 que um telejornal. Tive a imprensão de que "nunca na história desse país" um banco já havia sido assaltado, ou o que o valha. Horas mostrando a agonia das vítimas, ligações telefônicas à família do sujeito (que morreu - "menos um na escumalha que suja o nosso Portugal!"), e aquele tom cínico de uma cobertura feita pra chocar e pra aumentar a xenofobia aqui - que, venhamos e convenhamos, já não é pouca. Assim, sem contar que depois disso houveram mais um monte de assaltos nos Correios, teve até um sujeito que matou o filho e o tio, se não me engano, e me parece que quem fez isso não saiu da América do Sul.
Mas enfim... e vir gente dizendo que a violência em Portugal aumentou por causa da taxa de imigração que cresce todo dia... e pior, ver político falando esse tipo de coisa usando eufemismo (aliás, nem isso!). Complicado. Bom, mas o negócio é que o debate tava mesmo interessante e é uma pena a gente já saber de antemão que os níveis de audiência de uma chatice dessas é infinitamente menor à que assistiu ao sequestro ao vivo, com ou sem balde de pipoca do lado. :-(
(...)
Enquanto isso, bem mais pra baixo da linha do Equador, o Observatório da Imprensa nada na "contramão" e comemora o bicentenário da imprensa brasileira. Eu sei lá, tenho os meus sentimentos, mixed feelings, eu diria. Porque por um lado, é claro que tem-se muito a comemorar, as evoluções todas que aconteceram, desde a Gazeta do Rio de Janeiro de início passamos a jornais como o Sol e o Pasquim, e agora a Folha de São Paulo e publicações como a Caros Amigos e por aí vai, mas por outro lado... bom, por outro lado todo mundo sabe que tudo na vida tem seu lado podre e o Jornalismo não é incólume (antes muito pelo contrário), e é muito complicado isso de ser maniqueísta e achar que publicações são como personagens de novela mexicana: ou completamente "abomináveis e tendenciosos", ou completamente "à serviço da verdade e da liberdade de expressão". Mas enfim... acho que no fim, é de se comemorar, porque mesmo nos erros, tentam sempre fazer acertos e mesmo na invasão por vezes famigerada do espaço privado, o espaço público não permanece uma incógnita na vida das pessoas (bom, ao menos não se deveria!). Acho que Maquiavel não ia ser muito fã, mas o que importa. ;-)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um não sei o quê de dizer sem querer dizer...

Fica difícil sorrir quando se vê uma pessoa do seu lado passando por uma calamidade... ainda mais quando é familiar e profunda. Porque quando é assim, a dor não é só sua, e as dores somadas, assim como as alegrias somadas, têm um montante final sempre maior que as individuais. O coração fica apertado quando você, mesmo sem ver, mais ou menos imagina o grito contido, o choro calado e a injustiça do pedido "sê forte" nessas horas, e não pode fazer nada para ajudar e tentar ao menos aliviar um pouco a lancinante dor. Nunca sabemos lidar com a morte. Nem quando ela está perto, nem quando está longe, ou mesmo ao lado da pessoa do lado. Repentina ou esperada, vai ser sempre um elemento surpresa, um jogo para o qual não temos mais cartas na manga e nem peças sobre o tabuleiro...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

11 de Setembro

Deixa eu registrar isso: 11 de Setembro. Ainda não há memorial, mas há respeito.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Vidinha pacata!

Hoje quando acordei e liguei o pc pra trabalhar, a primeira coisa que me saiu foi um suspiro. "Ah! Mc Luhan..." porque só mesmo ele explica esse agarramento inexplicável com a net e esse vício pro trabalho que me atacou nesses últimos dias. Será que é só fruto na necessidade ou os meios de comunicação são mesmo uma extensão minha?
(...)
E vou indo, caminhando e cantando e seguindo a canção, com saudade de casa, mas com perspectivas bem bacanas. Ainda não tinha comentado nada, mas só pra ficar registrado: depois de ter adiado vergonhosamente a visita, no fim do mês a Meghiezinha vai a Lisboa para escutar mais um bocado de fado, tomar um café onde pisaram os pés do Fernando Pessoa e participar de um evento sobre Ciência (não necessariamente nessa ordem), para cujo site dou a minha singela participação de diletante através do blog. Tá a ser muito interessante porque o pessoal que escreve lá sempre posta umas coisas curiosas e rola espaço para debates legais e que rendem boas idéias. Recomendo. :-) E pra quem estiver na Europa dia 26 a dormir ou a passear em uma das cidades em que vai acontecer o Researchers' Night, fica o convite. Depois dou o meu relato! :-)
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E hoje fiquei surpresíssima com um post que colocaram no site de Jornalismo da facul (e de quebra também no site da facul), falando da minha experiência aqui na terra do bacalhau. Senti o mesmo estranhamento que um elefante deve ter ao ver a sua imagem refletida num espelho (ok, há controvérsias... já ouvi falar que eles conseguem se reconhecer no reflexo!). Depois do choque inicial, achei bem bacana, e uma forma de encorajar a galera a cruzar espaços em busca de uma experiência no mínimo muito interessante pra vida toda. Mas descobri que sou mesmo mineira demais e que adoro fazer as minhas coisas quietinha no meu canto e ficar sempre "near the spotlight, never under it". Mas achei mesmo uma gracinha! Bons comentários sobre a gente são sempre bacanas. ;-)
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Semana que vem começo a fazer mais uma coisa: dessa vez vou ajudar na assessoria a cobrir a 1a edição do UFrame, o Festival Internacional de Vídeo Universitário, promovido pela UPorto (e colaboração da Univ. da Coruña) para estimular a produção audiovisual entre os acadêmicos que andam por cá. Vai ser uma competição de vídeos feitos por universitários, e as projeções vão bem além do documentário, fição e animação. Vão competir também vídeos feitos via Second Life e via celular, e além disso vão ser organizados workshops e masterclasses bem interessantes sobre cinema, televisão, sua evolução e suas muitas linguagens. O Festival só começa em Outubro, mas até lá muita água vai rolar...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Que venha Higgs!

Porque nem sempre noites sem dormir têm que ser ociosas! Hoje de madrugada, por exemplo, os cientistas do Cern na França enfim ligaram o LHC. Muito bacana isso! :-) É a busca do primo mobile, partícula de Deus, ou mais cientificamente falando, o boson de Higgs (uma partícula que por enquanto só existe em teoria, mas que conjectura-se que seja ela que carrega as outras com massa). É a maior máquina científica de que se tem notícia (vai que na Rússia já fizeram uma ainda maior e enterrada ainda mais fundo a bel-prazer do Kremlin... vai saber se realmente não têm tecnologia pra isso!), é resultado da cooperação de mais de 100 países dentro e fora da Europa (até onde sei também Brasil), "consumiu" mais de EUR 3,5 bi e é um grande túnel circular enterrado a 175m abaixo das fronteiras entre Suíça e França. São tubos enormes de supercondutores magnéticos com paredes revestidas com hélio a menos de 2 graus Kelvin (!!), onde os felizardos prótons escolhidos para a experiência vão ser soltos em feixes em direções contrárias para se chocarem lá dentro a quase à velocidade da luz - e nos chocarem a nós aqui de fora quando tudo der certo. :-) O pessoal do Cern vai usar quatro detectores diferentes para captar e analisar dados sobre a colisão (CMS para detectar Higgs, LCHb para anti-matéria, Atlas para a matéria escura e Alice para o pós-Big Bang).
O bacana disso tudo (além de ter tido um bom começo) é que vai se poder ver de relance o que aconteceu a bilionésimos de segundo depois do Big Bang (ou seja... uaaaaau! isso nunca foi feito antes!), vai se avançar em muito nas idéias sobre a matéria escura, anti-matéria e claro, o boson de Higgs. Por enquanto o que se sabe é que a coisa funciona - essa colisão de hoje, de baixa intensidade, foi só um teaser para a próxima colisão (dessa vez à toda) que deve acontecer pelo ano que vem.
Fico imaginando o impacto enorme que um experimento desses pode ter na compreensão de nós próprios, no entendimento da Cosmologia e nas conexões da Internet :-). Mas é melhor eu ir me ocupar dos meus textos de Filosofia do que ensaiar cálculos e fórmulas... ;-)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Last year in Marienbad

Ontem completaram-se exatos 365 dias desde que pisei no Porto pela primeira vez. Data muito especial esse 4 de setembro...
Ainda me lembro dos cheiros, das primeiras sensações, da curiosidade infantil e quase científica de conhecer um lugar que era o mais longe que eu já tinha ido de casa alguma vez... eu e meus 21 anos completos há não muito tempo, com malas na mão, muitas idéias na cabeça, uma coragem enorme e um país completamente desconhecido à minha frente. Me lembro do tempo que gastei entre mapas e perdida em ruas por onde hoje consigo serpentear de olhos fechados, o ter que me adaptar à ordenação desordenada da planta da cidade, o ter que adaptar um idioma que eu pensava conhecer tão bem, a pessoas novas, a hábitos novos, a responsabilidades novas... Hoje quando retrocedo um ano, vejo que além da evolução normal que uma experiência dessas dá a qualquer pessoa (mesmo que não queira), não consigo evitar as saudades da inocência do desconhecido, das sensações das primeiras descobertas, das primeiras grandes mudanças. As descobertas não cessaram, obviamente, mas acho por vezes que preciso recuperar aquela noção de que o tempo que tenho aqui é pouco e que não vai demorar muito a se esvair, e portanto, precisa ser aproveitado ao máximo. Sinto que poderia tê-lo aproveitado muito melhor do que o aproveitei, mas fico feliz de saber que ainda vou ter um tempo extra de fôlego e fazer algumas coisas que ainda não fiz, seja por displicência, seja por falta de tempo ou por falta de grana no bolso. Não que esteja com muito mais tempo do que tinha há um ano, uma diferença significativa na quantidade de euros na conta ou coisa assim. Mas acho que gerenciar os recursos de uma forma eficaz é uma habilidade que eu ainda tô pra aprender, embora já tenha tido muitas aulas práticas disso. E nem é preciso um curso de administração pra isso, que bacana. :-)
Acho que nada na vida vai pagar os momentos de intenso barulho, intenso silêncio, de intensas relações, de intenso aprendizado (e auto-aprendizado) e a recente e valiosa independência que, mesmo que seja um pouco relativa, gozo agora. É difícil falar e fazer um balanço das coisas, tudo parece simplista demais, etéreo demais, e nada consegue conter o que a gente quer dizer... Muito mais do que conhecer novos lugares, pessoas, livros e tudos (ou quase), o que continua a me intrigar é essa viagem para dentro, que só viajando para fora se pode fazer. Confesso que ainda tenho um pouco de medo de me perder nessa vastidão dos meus porquês, que são muitos e continuam a aumentar junto com as experiências, o se saber jogar com os bons e os maus inesperados, o reconhecer nas pessoas as pessoas que são e olhar pra frente com uma idéia do que quero e do que não quero, e agir e fazer as coisas como se cada dia fosse o último. Não sei se é meu sono ou a minha insônia, mas acho que de vez em quando a gente precisa escrever sobre qualquer coisa que vai na cabeça. O que tento fazer é ordenar os caminhos de rato que se abrem entre as idéias e fazer com que tudo siga um fio mais ou menos coerente. Nossa, que sono. :-)
Mas conhecer um pouco de como as coisas funcionam aqui, a intensidade da ligação de Portugal com a sua história, com os descobrimentos, enfim, acho que é meio complicado entender isso a fundo, porque, acho que assim como em Itália e outros países com mais de mil anos de idade, a história pesa muito, às vezes tanto que as pessoas não conseguem dissociar a glória do passado e a aventura do presente na própria maneira de ser. Tudo era tão melhor "nos tempos dourados da Revolução", "tá tudo se degringolando e não tem mais jeito", e coisas do tipo, que soa meio dissonante pra uma pessoa jovem que vem de um país quase não jovem quanto (dadas as devidas proporções!) e que, apesar de toda a merda acontecendo, dos roubos, das mortes, dos números de guerra civil nas capas dos jornais e das corrupções que acabam com o bom humor de qualquer cidadão, enfim, mesmo apesar disso tudo, ainda vê-se motivos pra festejar. Não que Portugal não tenha seus motivos e as pessoas não festejem, mas acho que o pessimismo é um pouco mais pungente e mais latente aqui... (ou talvez nem tanto, ou talvez muito mais que só um pouco, e eu com essa tentativa de mania pseudo-européia de ver as coisas não percebo diteito, vai saber) Além do mais, aquilo que a gente considera como política de "discriminação e segregação", classismo, you name it, é gritante. Mesmo. É ridículo ver calouros na faculdade chamando veteranos de "senhor doutor" e lamber os sapatos deles, e é quase tão estranho ter que tratar um professor pelo título e pelo sobrenome, ou escutar um sujeito dizendo que "porque o sujeito é africano então isso, isso e aquilo"... e mesmo ver gente de vez em quando te olhando torto por causa do tamanho do cabelo, do jeans largo ou por não se parecer com nada que já viram antes... (me parece que só o meu sotaque de Português - pra quem entende, claro - é que diz que eu venho do Brasil... a galera de Erasmus aqui acha que eu sou canadense, americana, sul-africana, o caralho a quatro, e ficam de boca aberta quando falo que vim da minha verdejante pátria sul-americana...). Acho que a sociedade aqui é extremamente hierarquizada. Tanto cuidado com os pronomes de tratamento, das tantas diferenças entre o "você" e o "tu", em ser impecável na forma de apresentação, em ter que usar certos termos e não outros, nas prioridades de tratamento... enfim. Sem falar no padrão de comportamento que conhecemos muito bem (acho que mesmo invariável em tudo enquanto é lado, quem sabe seja diferente em lugares como a Holanda e a Finlândia) do lance "seu nome, seu bairro", quase como um fala-povo mesmo... de as pessoas valorizarem mais o que vai na sua carteira do que aquilo que vai entre as suas orelhas. É o que você faz, e não o que você gosta que importa. E quando não se fala muito logo à primeira, fica ainda pior... enfim, mas o bom é que a vida Erasmus ultrapassa em muito esse peromenor. ;-)
E chega de escrever por hoje, que preciso recarregar meu léxico gasto!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

...



Saudade que me bateu de repente de ver esse filme...


(...)


Depois de um fim de semana assaz agitado (com direito a várias apresentações musicais nas noites de sexta e de sábado - variando entre o jazz da Jacinta e o funk dos Buraka Som Sistema - , chá e pizza com os amigos, encontros com CSers, ida à praia em Gaia e a uma sessão de cinema - em 3D!), cansei de descansar (ai, que mentiiiira!) e sinto que tenho de voltar ao trabalho (voltar? tou mesmo delirando... voltar de onde nunca saí!), que aperta mais a cada dia que se passa. Devo ter uma disposição muito mais elástica do que eu imaginava ter! :-)

Hoje - depois de uma não tão breve, mas bem interessante reunião pedagógica que varou algumas poucas horas depois das 10 da noite - fui eleita "Miss Clumsiness" da WSI Boavista. Adorei o título, acho que tem mesmo tudo a ver comigo... :-) ainda mais pela solidariedade criativa das minhas colegas em me dar um brinquedinho fálico em formato de pirulito (ou aliás, é o contrário... é um pirulito em formato de brinquedinho e a inversão foi completamente inconsciente. Freud explica!). Achei uma graça. Quem sabe da próxima me dão um desses de chocolate. Alguém se habilita a dividir? :-)

sábado, 16 de agosto de 2008

so, so cute!

Não podia deixar de postar essa animação. Que graça! Uma delicadeza nórdica tocante. The Danish Poet é um curta de 2006 de autoria da ilustradora norueguesa-canadiana Torill Kove e ganhou o Oscar de Melhor Animação o ano passado. É narrado pela (também norueguesa) atriz Liv Ullmann (mãe da escritora Linn Ullmann, que tem por pai o Ingmar Bergman). É simplesmente lindo... fala de como os detalhes da vida e as aparentes coincidências podem mudar todo o curso de uma existência, de uma forma que nem nos damos conta. É de ver e rever... chamem as crianças para a sala! :-)

domingo, 10 de agosto de 2008

Mais a gosto

Depois de o mês ter se iniciado com tropeções e pontapés (tenho que dizer, muito mal... não só em casa quanto em todo o resto), parece que a coisa se estabilizou agora e melhorou bastante com uma presença algo inusitada (!), que me deixou surpresíssima... a minha nova companheira de flat já está por cá (pelo menos não por agora, que está de volta à casa na Ucrânia para umas férias, mas para todos os efeitos, as coisas dela estão aqui...), bem antes de chegarem as companheiras do quarto ao lado.
A surpresa toda é porque se trata de uma pessoa com longa história na casa e que eu nem imaginava que fosse conhecer um dia. :-) A Svitlana é uma ucraniana muito simpática, interessante e muito consciente de si. No pouco tempo que passamos juntas (ela ficou só uns 2 dias aqui antes de ir pra casa e volta no fim do mês), percebi que ela é uma pessoa que sabe jogar muito bem com os atributos que tem, além de ser possuidora de uma energia incrível. É quase uma garota de Ipanema... porque não passa despercebida! :-) Houve uma empatia muito bacana e espero que dure. Porque em dois dias já saímos, trocamos telefones e idéias, coisas que demoraram mais de dois meses pra acontecer com as minhas saudosas turcas... e isso não se explica só porque ambas falamos Português, é claro.
(...)
Ontem, ao me sentar calmamente numa livraria, saboreando o ambiente e folheaando uns livros, me deparei com um outro título (Ensaios de Amor) de um autor que já referi antes - o Alain de Botton - e fiquei uns bons minutos completamente absorta naquela (boa) literatura de auto-ajuda, que acho que resgata muito da idéia da filosofia nos seus primórdios: ajudar as pessoas a pensar as suas vidas (afinal de contas, pra quê Sócrates ia parar um sujeito na rua e travar uma conversa com ele e fazer com que ele repensasse seus conceitos se isso não fosse para ajudá-lo?). E sobre o amor então... nunca vão se escrever coisas o bastante a esse respeito e nem todos os pontos de vista lançados desde que "se fez a luz" são o suficiente para esgotar o assunto, embora esteja já superexplorado. Mas enfim... o pouco que li (uns curtos capítulos) foi o suficiente pra querê-lo sobre a mesinha de cabeceira e reforçar a demolição dos pré-conceitos sobre best-sellers e livros de auto-ajuda, começada anteriormente com outro livro do mesmo rapaz.
Livro esse, que aliás, é sobre o qual eu havia prometido colocar algumas impressões aqui. Pois bem, o tal é "O Consolo da Filosofia" (no Brasil, "As Consolações da Filosofia"), do dito cujo citado aí em cima, e é um achado. Imagino que o de Botton tenha feito um esforço homérico para falar de seis filósofos (Sócrates, Epicuro, Sêneca, Michel de Montaigne, Schopenhauer e Nietzsche) e conseguir não chatear nem aborrecer o leitor, e mais que isso: fazer com que tudo seja lido avidamente, para muito além da "vigésima página". Nesse não-ficcional, de Botton oferece conselhos da filosofia sobre problemas que deixam a vida de qualquer sujeito com cores menos vívidas: a impopularidade, a falta de dinheiro, a frustração, a inadaptação, a rejeição amorosa e as dificuldades em geral, além de dar um vislumbre do "caminho da felicidade" através dos conselhos de Epicuro. Ele abusa do bom humor e de figuras (tanto gráficas quanto de linguagem), o que faz com que a leitura seja ainda mais leve e bem digerível. :-) Pra se ter uma idéia, fiquei completamente passada com um dos conceitos Schopenhaurianos sobre o amor (uma pessoa se apaixona pela outra na inocente inconsciência de que o que quer não é aquela pessoa e nem ser amado por ela, mas procura uma forma de garantir que a composição perfeita da próxima geração, porque "o intelecto compreende apenas o estritamente necessário para promover a reprodução e permanece excluído em grande parte das resoluções reais e das decisões secretas da própria vontade"), ou com a defesa apaixonada de Nietzsche da dor como pedra fundamental de desenvolvimento de um sujeito (eu já meio que concordava com a idéia, mas uma coisa que a gente já sabe, quando apresentada com uma outra vestimenta, fica mais interessante e reforça a essência da idéia anterior...).
Bom, não vou fazer um inventário aqui, mas acho que pra quem estiver curioso, vale muito a pena (ok, mais dinheiro entrando no mercado editorial... não admira que o de Botton tenha virado praticamente um rock star nos últimos anos!) ;-)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Saudades de Epicuro

Porque tem hora que dá vontade de ir morar no Jardim... nada melhor que uma vida auto-sustentável ao natural. Menos cartões de crédito e contas bancárias, e mais valor às pessoas pelo bem mais valioso que têm: a própria condição humana.
(...)
Utopia, distopia e anacronismo... o tripé que uso pra me equilibrar!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Primeiro dia de agosto. Sol a brilhar no Porto, calor, muito calor, e uma estranha sucessão de eventos que faz com que a lembrança da entrada para o mês "do azar", como gostam de dizer alguns ocidentais, fique na memória pra não ser riscada na agenda como os outros dias. Voltava eu à tarde pra casa depois de ter dado um pulo no Instituto de Sociologia. Ao chegar, vejo um lençol estendido na porta de vidro da entrada, e pensei, "talvez tenham deixado um carrinho de bebê aqui embaixo e foram buscar mais coisas em casa enquanto a criança dorme e não querem que bata sol na cabecinha dela...". Ao entrar, vi que a situação era completamente o reverso do que pensava a minha inocente imaginação: a princípio achava que era um berço, mas olhando depois, vi que era na verdade quase isso, mas ao invés de ser para descanso temporário, era uma "caixa" para descanso eterno: sim, um caixão... claro que fiquei chocadíssima e fui prestar as minhas condolências ao vizinho que tinha acabado de perder a mãe, que morava no andar de cima e me parecia já estar doente há tempos. Mas a morte sempre choca e desperta os sentimentos mais solidários nas pessoas. Meu Deus, que horror... bem-vindo mês de agosto! :-(

Mas, pra completar, o dia começou com a volta da Larissa pra casa (nossa saudosa República das Bananas!) já logo cedo, e se eu não morasse na mesma Minas Gerais que tanto gosto, já teria colocado o pé esquerdo no poço molhado da saudade e terminava de cair lá dentro, porque quase todo mundo já foi embora a essa altura e por mais otimista que se seja, acho um pouco impossível poder rever todas as pessoas que conheci aqui... mas sempre dá-se um jeito de minimizar isso usando meios mais fáceis. Viva a hipermodernidade e as amizades mais perto de casa mais uma vez! :-)

Hoje o vazio ficou um pouquinho maior no meu aconchego português. Quando se para pra pensar nas horas e horas somadas de papo e de cerveja, rolos de filosofias de boteco entrecortadas de risos e abraços, os desencontros e as discussões que sempre fazem a gente pensar sob um outro ângulo... a Larissa vai mesmo fazer muita falta. E isso sem falar na acessoria jurídica que também era parte da simpatia da menina! Sem isso, acho que minha vida hoje ia ser MUITO mais complicada... :-) Volta, Lala!
E isso de hoje me fez ficar a pensar na importância dos mínimos momentos, do now, de fazer a coisa agora, de curtir agora, de falar agora, de fazer o que seja agora. Porque, por mais que eu pense que muitíssimo provavelmente meu destino para o próximo semestre já tem lugar traçado, e bem longe de casa, é bom lembrar que também vai ter um fim, a porta aberta para um novo começo.
E a vida continua (e a saudade tb!) :-)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Vive la vie!

Essa música resume em muito boas ondas a sensação que foi estar na Cité esse fim de semana, ainda que de relance. Tudo o que se faz pela primeira vez tem um sabor especial, e eleve-se isso à décima potência em se tratando de visitar a Paris de Balzac, Victor Hugo, Molière, Luis XIV e tantos outros. Tudo o que eu disser da beleza e do lirismo da cidade vai soar como lugar comum - e o é, realmente - e sobre cada frase que eu pensar em colocar aqui, de certeza alguém já escreveu livros e livros sobre cada palavra em separado. O que deu pra sentir foi o cheiro, ver a explosão de cores (e de pessoas) vindas de todas as partes, ainda que não pudesse apalpar as imagens demoradamente e ruminá-las como o faria um turista atento.

A viagem começou logo cedo, numa conversa com a agente de bordo:

- Look, I'm booked to seat on 97, but there's no 97 here...

-There's no seat booking, you can sit anywhere. (!)

-Ah... true, true. I'd forgot about that... Thanks!

É ÓBVIO que não poderia me esquecer desses detalhes que fazem da Ryanair uma companhia toda especial... ! :-) Se ao menos abrissem uma filial no Brasil pra fazer a alegria da galera...

Mas chegando ao destino, a minha primeira oportunidade de gastar meu parco francês foi balbuciar "avez vous Internet?" e "je prends une baguette" a uma atendente sorridente que queria me cobrar mais de 4 euros pelo pãozinho. Levei um susto, mas isso se resolveu com a plaquinha do preço que falava melhor que a minha pseudo-francofonia. Fui então telefonar ao Tiago - que já deveria estar a caminho de Beauvais a essa altura - e então começou a minha longa espera (tá, a partida toda espera é longa pra quem tá esperando!), na companhia de um livro e da minha perfumada baguete.

Chegam Tiago e Larissa, e vamos ao que interessa... saudades desfeitas, entramos em Paris e pela primeira vez avisto o Arco La Défense brilhando contra o sol, e depois a Champs-Elysées e o Arco do Triunfo à vista, que dava com a cidade se preparando para receber mais uma edição do Tour de France. Conversas no carro. Risos das piadas da Larissa. Paisagem hipnotizante do lado de fora. E tudo isso entremeado nos meus botões com as lembranças dos filmes do Truffaut, um dos meus romances preferidos, saído da pena de Balzac, e um misto de músicas da Edith Piaf e do George Brassens pra completar. Um pouco mais tarde, somos recebidos por um casal, parentes de um dos tios do Tiago, seu José e dona Margarida, e são, como muitos outros portugueses, residentes na França já há quase o dobro da minha idade. Gente muito receptiva que me lembrou em muito os mineiros e o pessoal da família back in town...

Ah, mas esse sábado à noite... numa espécie de mini-tour pela Cité - que só não pude aproveitar mais por causa do sono já quase no caminho pra casa - Tiago, Larissa e eu fomos a um lugar perto do Museu do Homem, onde havia um punhado de turistas como eu (acho que só se falava Japonês) mirando, admirando e fotografando a bela Eiffel (na sua nova maquiagem de UE). A torre ao fundo para massagear a vista, música árabe para preencher os ouvidos e ambulantes de origem africana fazendo o triste e necessário trabalho deles com as suas quinquilharias me testificaram o que uma vez alguém disse... "como Londres, Nova York e Tóquio, Paris não pertence mais aos franceses, mas ao mundo...". Terra de todo mundo e de ninguém, sob cuidado dos parisienses e da Mairie. :-) Mas, continuando sobre o sábado à noite... depois de passar pelo Trocadero, passamos pelo Sena, e pelas Pirâmides do Louvre que só pude ver do lado de fora, mas que deixaram "borboletas no meu estômago". Lindo, lindo, lindo... Foi pena não ter tido tempo o bastante para ir ao Sacre-Coeur e ao Centro Georges Pompidou ou a Versailles, mas passar pela praça da Concórdia, pelo Père-Lachaise (o Balzac e o La Fontaine ficam pra uma próxima visita... porque o Jim Morrison foi o primeiro da fila, claro) e por um lugar que julgo ser o Montmartre (e viva a Amélie!), avistar a Notre-Dame do Quasímodo de uma das pontes sobre o Sena e passar momentos irrepetíveis com pessoas muito queridas... simplesmente impagável!

Agora eu tenho certeza de que fiz uma coisa fundamental na vida de um ser humano... :-) E ainda com uma trilha sonora que tive a sorte de calhar com o momento, e que vai ficar pra sempre no fundo dos meus tímpanos cada vez que alguém me disser, "me conte como foi Paris vista pela primeira vez". Valeu, Tiago!

Mais um detalhe: observar a interação entre as pessoas foi igualmente interessante, embora não a fizesse de uma maneira "arguta" por causa da falta de tempo e pelo orgasmo visual que inebriava todos os meus sentidos. Mas a confluência de africanos e árabes, pra além dos turistas, é óbvio, foi uma coisa que me chamou a atenção porque finalmente pude ver isso fora das páginas dos jornais ou do ecrã da minha tv. Não é chocante (pelo menos não mais quanto deveria ser) ver pessoas a te pedir dinheiro na rua, e ao atravessá-la ver gente fazendo compras na Gap ou na Louis Vuitton, ou ver uma madame apressada pra uma festa vestida num diáfano tubinho preto da Coco Chanel. Foi aí que comecei a pensar na política de "imigração seletiva" do desafortunado Sarkozy e do osso duro de roer que essas controvérsias sobre as políticas de abertura da UE entre os vizinhos de cá têm trazido... é europeu e "gringo" demais pra cuidar! Rapadura é doce, mas não é mole mesmo!

Mas enfim, foi mesmo TUDO de bom ter dado essa fugidinha necessária, pelos momentos passados ao lado de pessoas especiais, pelos risos, sustos (!), fotos, lembranças... na verdade, o meu cartão de memória em Paris estava vazio, logo, saiu de lá menos preenchido do que os de Titi e Lala... mas nem por isso com menos qualidade! :-)

E viva la vida! \o/

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Efeito Cocaína



Desafio qualquer sujeito que entenda a palestra (e a língua inglesa minimamente) a ignorar o assunto e deixá-lo passar em branco. Duvido que eu seja uma rara espécie de pessoas que se pergunta o que vai dentro da caixola quando se está apaixonado, quando não se está apaixonado e quando se está apaixonado por estar-se apaixonado... Acho que todo mundo se pergunta sobre as razões de coisas sem razão como essa. Eu, por exemplo, já me fiz inúmeras perguntas sobre "as sem-razões do amor" (o Drummond que me perdoe), algumas delas também feitas pela dra. Helen Fisher nessa apresentação. Parafraseando um pouco: "The less my hope, the hotter my love" (Terêncio)... "the brain system that works for craving, for motivation, for focus becomes more active when you can't get what you want"... Tudo bem que todo mundo sabe que "romantic love is a kind of addiction", e é até poético dizer isso liricamente, mas acho que não nos damos conta da reviravolta que isso faz com os pobres neurônios e com os lóbulos cerebrais etc etc. E mais ainda, pensar que o efeito de se estar apaixonado é parecido com o da cocaína... bom, no máximo, eu achava que fosse como um inocente rolo de marijuana comprada nos Países Baixos. Mas se é pra viciar, que porra, que vicie direito. Acho que nem uns bons charros de maconha pura fazem isso à primeira lufada. Mas acho que paixão faz, né?

(...)

Deixando isso de lado e voltando pra minha vida que continua a correr à tangente dos perigos de uma paixão arrebatadora por um único objeto de contemplação (um único muso?! hahahaha), permitam-me fazer a descrição dos brinquedinhos que me ajudam a passar o tempo (aliás, nem preciso de nada sob esse título!): um DVD (Caro Diario, do Nanni Moretti) esperando ser assistido, um livro pelo meio esperando ser terminado (e dessa vez é um certo Alain de Botton com "aplicações práticas de filosofia de todos os tempos" pra ajudar a melhorar o cotidiano da sujeita, mas nem mesmo eu diria que um dia colocaria algo do tipo "O Consolo da Filosofia" na bolsa e na cabeceira da cama. Até agora está sendo super bacana, mas conto tudo quando chegar no final), alguns muitos arquivos referentes à gestão do meu trabalho (so help me God!), uns jornais marcados em assuntos que preciso ler (ah, eu e a lei da espiral do silêncio...), umas músicas do Sufjan Stevens no meu player (ei, pá... cadê a Mariza, a Amália e a Ana Moura?!) e muitas lembranças da semana louca que se passou, entre asilo para amigos des-casados (em ambos os sentidos), MUITO calor e horas a menos de sono.

(...)

Esse fim de semana, por exemplo, começou na sexta a noite (oh, novidade!) e a menos de 7 horas do fechamento já o considero por encerrado, achando que merece até balanço das atividades: depois de sair da escola na sexta, fui correndo pra casa preparar uma salada pra dividir num jantar na casa de uma amiga venezuelana. Tive que esperar por uns amigos que iriam comigo (ou eu iria com eles, já que eles é que tinham as direções do endereço na cabeça melhor que eu as tinha no papel...) e bem, fomos. Não pude ficar até o fim por causa do adiantado da hora (tinha que me despedir de uma amiga espanhola na mesma noite) e saí correndo de lá da mesma forma que cheguei. Fui dar um abraço nessa amiga minha, cheguei no lugar e fui presenteada com a companhia de alguns amigos que conheci na faculdade e uma extra (uma francesa que fala português como se estivesse aqui há um semestre!).

Chegando lá, depois de um papo bacana, todos fomos muito bem mimados com um super, mega, hiper interessante e intimista toque de guitarras espanholas - melhor dizendo, violão português - de um cara que se parecia com o Paco de Andalucia e dedilhava as cordas do violão como se aquilo fosse a coisa mais fácil do mundo, ora como se estivesse a fazer sexo com a guitarra, ora como se estivesse a acariciar os cabelos da namorada, numa perfeição de combinação de acordes e ritmos que ninguém queria acreditar que apenas seis arranjos seriam tocados. Aquilo na frente dos olhos era uma anestesia quase orgásmica para os ouvidos. Ou pode ser que eu estava simplesmente a fim de escutar um violão bem tocado...

Bem, mas depois disso, ficamos no Contagiarte (meio vazio pra uma sexta) ainda, dançando e conversando, com a impagável presença de um David que eu não conhecia nos corredores da faculdade (esse menino merece um post inteiro, sou fã! Sempre achei que ele fosse quase que uma espécie de "buda português iluminado"... hehehe). Decidimos então por continuar a festa em algum lugar ("porque afinal de contas, a Soraya vai embora amanhã!" hahaha), e depois de pensar em ir dançar algures, fizemos das opções a melhor: algumas garrafas de vinho na mão e o mapa da Foz em mente, fomos à praia ver o sol nascer... aquela lua cheia estava tão cheia naquele céu tão limpo, as conversas e as músicas brasileiras tão boas, a areia tão fria e as pessoas tão quentes, umas do ladinho das outras que nem acampamento infantil, que bah... é uma das noites portuguesas que de certeza têm lugar na minha memória de longo termo! :-)

E depois disso, como já tinha combinado com a minha amiga Agnieszka "Pitoresca", iríamos a Braga (aliás, iríamos não, fomos de fato!), e às 8h30 lá estava eu (egressa à apenas meia hora à casa e com a cama olhando pra mim a implorar que eu não fosse embora) na Estação São Bento, pronta pra outra. Chegando a Braga, tivemos que suportar um calor praticamente infernal (combinação explosiva... acho que minha pressão arterial foi ao chão com todo aquele calor, e se juntando ainda à noite sem dormir, nem preciso dizer que eu estava imprestável!), mas faríamos tudo pra chegar no Santuário de Jesus do Monte... até aguentar aquele calor úmido insuportável (sei lá, deviam fazer uns 30ºC e poucos mas a sensação térmica era de 40ºC)! Chegando no lugar, subimos alguns lances de escadas que se misturavam com um verde fenomenal e uma "capelinha" a cada curva, e quando finalmente chegamos ao pé das escadarias, resolvi que ia ficar por ali mesmo (já tava bom demais... porque não sou católica e nem estava a pagar promessa nenhuma!), enquanto a minha amiga Pitoresca, demonstrando uma resistência fenomenal, continuou no seu caminho para o alto (!), enquanto eu tirava um cochilo no meio do verde (pra quem já aguentou o calor do Marrocos, aquilo devia ser piada). Voltamos, depois de dar umas voltas na cidade quente, depois de vermos algumas portas abertas, depois de almoçarmos numa tasquinha que nos saiu melhor que a encomenda (mais em conta só mesmo a cantina da FLUP!), depois de tomar todo o chá gelado que estava quente... finalmente entramos no comboio de volta, e mal entrarmos as portas do nosso Porto querido, minha amiga espanhola me liga a me convidar para um jantar e se ele poderia ser feito na minha casa. Sem argumentos pra discordar, disse que sim na hora e poucas horas depois já estávamos a comer uns huevos de la reina, torradas e de sobremesa, a primeira broa com erva doce de verdade (erva legal! hahaha!!) feita por moi. Com as mesmas amigas que dividiram horas felizes comigo na noite anterior, fomos ao Piolho, como era inevitável... depois, como já não conseguia mais, finalmente fui pro lugar de onde vim - minha cama - e depois de conversar com a família e ler alguma coisinha no jornal, estou aqui, ainda um pouco cansada, mas me sentindo muito bem, e ainda melhor porque totalmente sã (longe das misturas perigosas com fermentados e destilados), e ainda melhor porque não precisei cerveja, ervas legais nem ilegais pra ter um ótimo fim de semana.

Minha mãe ficaria tão orgulhosa de mim. :-)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Bloguezinho, que saudade de você

Given fact: coisa pra blogar é o que não falta! E já que não falta, vamos falar de algumas por agora... Pois bem, vamos aos fatos então (essa música dos Doves no fundo me bateu uma saudade imensa de casa e vontade de escrever agora...).
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Importantíssima notícia velha e vem primeiro na ordem das efemérides: infelizmente Portugal não chegou até a final do Europeu. Cara, me deu uma pena enorme, mas acho que eles foram até bem até onde chegaram. Mas acho também que a Espanha mereceu a sua vitória suada e com um pouco de sorte contra a Alemanha. Afinal de contas, uma taça depois de mais de 40 anos sem sentir o gostinho do nobre metal da UEFA é uma coisa que nem imagino como é. Mais difícil imaginar isso quando se tem menos de 30. :-)
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Bueno, e depois disso, ainda tem todas aquelas coisas da política, do não da Irlanda e da Polônia (o dos irlandeses não estranha muito, mas da Polônia... será que isso foi só pra chamar a atenção? Não foi mesmo o presidente polaco quem mais deu força pro Tratado Europeu dar certo?? bem... vai saber!), a briga do PSD com o governo, com o Bloco de Esquerda, etc etc etc... - calma, eu tenho um plano: vou fazer minha lição de casa e ainda vou conseguir entender isso tudo pra explicar melhor depois...
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Além disso, também tem o acontecido inacontecível que só mesmo vendo pra se acreditar: eu, me, moi and myself perdendo um show dos Radiohead em Glasgow (com passagens compradas, bilhete arranjado e planos para passar uns dias nas Highlands)... dá até vergonha de confessar isso, mas foi por uma boa causa: tinha acabado de assinar o contrato que vai me manter aqui em Portugal por mais uns meses, e porque não tem lógica um sujeito trabalhar duas semanas e pedir uma de férias assim, right away. Mas a probabilidade de eu pegar um show dos Head aqui em cima nos próximos 6 meses é bem maior do que se eu estivesse na minha amada pátria latina. Além do mais, ainda tem a NME pra ajudar...
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Mas em compensação rolou um jantarzinho aqui em casa há mais ou menos duas semanas (aliás, quem falou em jantarzinho? Tinham mais de 15 aqui em casa!), que foi simplesmente um e-s-p-e-t-á-c-u-l-o: chamei a galera pra vir cozinhar aqui em casa, e a idéia era mesmo essa, de todo mundo trazer algo pré-pronto, terminar aqui, trocar receitas e impressões sobre a comida da galera. Dava pra dar uma volta ao mundo em um pratinho desses - rolou pastelzinho da Carélia finlandês, sobremesa austríaca, pimento uruguaio, sushi, sopa húngara, bolinhos polacos, sardinhas portugas de São João, além de pão de queijo e frango com molho de milho verde. Depois disso ainda rolou bolinho de chocolate do aniversário da Ana Lucía, minha linda amiga venezuelana que está de férias em Paris por agora... e é pena a Larissa não poder ter vindo pra me ajudar com a apresentação do pão de queijo! :-)
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E depois, ainda tem a minha parte: o aprendizado enorme desde fins de maio, não só pela pressão da época de provas na faculdade (burrinha eu... pra quê fazer 5 matérias enquanto se pode fazer 2 ou 3?! mas não me arrependo!). (Bah, graças a Deus): das 5 disciplinas já tenho resposta de 3 e todas têm resultado positivo. Foram os 7 e 7,5 da minha vida que pela primeira vez não considerei medíocres. Não pelo grau de dificuldade das matérias (tá, até que Análise do Discurso foi meio foda sim), mas pela vida de Erasmus. Só mesmo vivendo pra saber como é...
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A segunda parte do aprendizado de desde fins do mês que deixou de ser mês passado há oito dias(e a que deu mais nó na cabeça até agora): o treinamento intensivo e em partes pra que eu finalmente me tornasse membro da staff do Wall Street Institute aqui no Porto. Cara, isso foi e continua sendo foda: um teste de memória, de habilidade, de competência e tudo o mais que se possa imaginar, que eu sequer acredito que consegui ficar até agora. São tantos detalhes, tantos procedimentos diferentes, tantos arquivos, tanta tarefa pra desempenhar, que achei que não fosse mesmo dar pé. Já cheguei a chorar no expediente, a achar que não ia dar conta, pedir pra me mandarem embora antes de o tempo de experiência acabar, etc etc etc... mas sobrevivi, pelo menos até agora. Acho que a minha coordenadora foi mesmo com a minha cara ou que realmente o céu se abriu e resolveu mandar uns raios de luz pra minha cabeça... "Meghie, you've got to learn to be more formal". "Dress formal, speak formal, act formal". "Use the third person when addressing students" são só alguns conselhos que ficaram de acompanhamento do prato principal do sem-fim de documentos e arquivos pra estudar, pra saber e pra aplicar. É certo que ainda estou em fase de experimentação, mas admito que entrar pra esse trabalho foi uma viragem enorme pra minha vida pacata aqui, e não posso negar que estou a gostar imenso do desafio, mesmo apesar de sentir por vezes me demorar um pouco to catch up things - mas enfim, isso veio bem de encontro com meu plano A (ficar aqui no Porto por mais pelo menos um semestre), além de exigir de mim mais do que a habilidade em lidar com as pessoas (e saber tirar uns cafezinhos da máquina em alguns milésimos de segundo. Embora isso também seja uma habilidade importante e muito útil... um sujeito nunca sabe quando vai precisar pô-la em prática!). Bom, o resumo da ópera é que tudo isso veio muito a calhar e estou a gostar muito, além de cruzar os dedos para que fique mais tempo pra além de quando o mês de experiência terminar. Ao menos o contrato assinado já não está mais no plano etéreo... :-)
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A segunda parte do meu plano A é ainda dar andamento no projeto de pesquisa na sociologia da FLUP, que ficou meio parado nas últimas semanas por ser humanamente impossível - ainda que seja eu a fazer (hmmm, até parece!) - trabalhar em duas coisas ao mesmo tempo quando se passa quase metade do dia a desempenhar um papel, mais um quarto do dia a estudar as coisas que se precisa para se desempenhar o tal papel e o outro quarto do dia a... festejar e se despedir da galera (quem falou em dormir aqui?! isso, como diriam minhas fofas irmãs, é coisa pra os fracos! hehehe), porque merecem, porque são pessoas especiais, porque tivemos momentos bacaníssimos juntos e porque esse foi um ano inesquecível. O que se inicia pelos vistos também vai ser: já tenho coisas planejadas pra daqui a nem sei quanto tempo, e coloque-se na lista a volta pra Aiesec nos próximos meses, exercitar meus dotes de jornalista, porque não vale isso de se e graduar pra morrer de fome depois... (eita, que exagero!), e claro, viajar o que não viajei e além de tudo, me dedicar pro meu TCC. Pow, agora vou parar pra ir ali e respirar porque só de pensar já dá pra ficar sem fôlego. Eu e minha mania de me fazer passar por workaholic... acho que até convenço, né? ;-)
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E, falando em despedidas e momentos inesquecíveis, estou planejando o meu próximo post pra responder ao pedido de um amigo: colocar as impressões das pessoas que vão pra casa sob as lentes dos meus óculos de aros finos. Isso vai mesmo ter que ficar pra depois, mas vai vir.
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E isso tudo antes do dia 26. Nem acredito que ele enfim vai chegarrrr!! Avião, mochila nas costas e Land Rover por fim!

terça-feira, 3 de junho de 2008

let'em rock!

Porque toda vez que vejo alguma coisa do Rock In Rio Lisboa na mídia me dá uma vontade de ter ido... ao Coachella!
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Ganda fé em Portugal na Eurocopa. Bacana demais... Mas será que São Cristiano Ronaldo vai dar conta?
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E eu que achava que o problema com o abastecimento de peixe era só ficção do Abdel Kechiche com o "Segredo de um Cuscuz"... mas não! O pessoal aqui tá de greve mesmo, e isso tá pior que a gripe espanhola nos portos do sul da Europa. Acho que a pescada que eu prometi mandar por correio pra casa vai ter que esperar... (aliás, não só pelo preço do peixe. Com o petróleo indo pras estratrosferas desse jeito não sei nem como é que vai ser possível mandar o que quer que seja pra casa!)

segunda-feira, 26 de maio de 2008




Hmmm... Recomendo. Esse livro do português J. P. Coutinho foi uma ótima companhia esse fim de semana nos intervalos entre os teoréticos e os filmes que ocuparam os outros 80% das minhas pobres 48 horas de descanso. Me parece que por enquanto só saiu em Portugal (pela Quasi ed.), mas antes de voltar pra casa levo um exemplar pra quem quiser emprestado. ;-)

O Coutinho é colunista da Folha, e aqui compila algumas de suas crônicas (os "sambas" e os "chorinhos") de uma forma muito leve e irreverente. Despeja na cabeça do leitor a sua vasta sapiência (e sua "velha opinião formada sobre tudo"...), dividindo suas impressões sobre os mais variados assuntos, desde literatura a culinária ou política internacional.

Mas o mais interessante é a forma como ele se dirige aos leitores brasileiros, como usa e abusa do seu domínio refinado do Português para aproximar as partes do velho e o novo continente que falam a mesma língua.

De novo, recomendo!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

This is (not) so last week!

Porque recapitular os dias de sol antes das deadlines é uma terapia que impede a pessoa de arrancar os curtos cabelos da cabeça... :-)


Domingo, 11 de Maio de 2008:

Uma pequena viagem (a Coimbra!) era mesmo indispensável para nos despedirmos em grande estilo do Tiago antes que ele tomasse seu rumo para os fiordes dinamarqueses. Larissa, Vinícius, Joana e eu fomos com ele até lá, e foi simplesmente adorável. A cidade é um pouco maior do que eu imaginava e era ainda mais Ouro Preto style do que o centro histórico do Porto, imaginem. Chegando lá, fomos direto comer doces, é claro, e pra nossa surpresa, entramos numa padaria que tinha uma maquininha de senhas e uma tela de LCD pra chamar os números. (Hein, filial do SEF? Não, era padaria mesmo...) E pra nossa surpresa ser ainda maior, realmente todas aquelas senhas tinham utilidade! Tinha mesmo gente pra encher a padariazinha, mesmo sendo em Coimbra e não em Lijjjjboa... (acho que depois daquela padaria o lugar mais cheio da cidade talvez fosse a igreja mais próxima) e depois disso, nos deparamos com uma concentração de bikers (e não é que não é a primeira vez que a gente viaja junto e vê uma concentração de malucos sobre duas rodas? da outra vez foram os motoqueiros madrileños que pararam o trânsito perto do estádio do Real Madrid, no ano passado...) que estavam numa espécie de "rally nas ruelas" a se esbaldar - como nós - naquela linda manhã de sol (não teve como não lembrar do meu irmão nessa hora... tenho a certeza de que ele ia fazer a festa!). Depois disso, fomos andando pela cidade, e como o tempo era curto, fomos ver as instalações da tão famosa Universidade de Coimbra. É quase tão velha quanto a nação portuguesa (é do século XIII) e é o que sempre movimentou a cidade. Lá, o cheiro da história se mistura com o da vida universitária, temperada com as mensagens pró-revolução e pró-feminismo rabiscadas nas paredes das ruelas de pedra por onde andamos... os prédios das faculdades são lindos e a vista do Mondego do terraço de frente pra faculdade de Direito também não está no gibi! Depois de atravessar o Mondego (não, não foi a nado!) chegamos ao lugar que é o sonho de todas as pessoas que não ultrapassam os aceitáveis 1,60m de estatura (não é a minha casa, lembre-se bem...): é o Portugal dos Pequenitos, um parquezinho onde a gente passou o resto da tarde se divertindo que nem criança. É um lugarzinho MUITO fofo! Tem um monte de miniaturas de casas-museuzinhos que representam as colônias portuguesas. É lindooooo! Pena que a casa do Brasil e da Índia estavam fechados esse dia, mas tinham várias outras, e a que mais me chamou a atenção foi a de Macau. Gente, tinham umas maquetezinhas de festa chinesa tão bonitinhas e tão bem fetinhas que dava vontade de virar miniatura e entrar... uma graça! e lá tinham umas casinhas típicas de várias regiões de Portugal, e pasmem, até uma miniatura de mosteiro... tudo isso com um monte de plaquinhas explicando a história de todos os lugarezinhos (sob um ponto de vista meio triunfalista, mas pra divertir vai bem), etc e tal. Miniaturas da história da moda no mundo numa outra casinha, um mapa enorme com os descobrimentos dos Portugueses numa parede ao ar livre... eu ia adorar ter uma aula de história ou de geografia num lugar desses quando estava na quarta série!

Depois voltamos e tivemos o fechamento da despedida com um jantarzinho e umas cervejas com os amigos. Foi muito bom, como sempre é juntar a galera e bater papo até altas horas...

Terça, 13 de Maio de 2008:

Quase 8 da noite (com o céu de 4 da tarde), encontro o Tiago fazendo os últimos ajustes para a viagem e cuidando da parte mais importante de todo o tempo que ele ia passar dirigindo: a trilha sonora. E ele foi embora pra Dinamarca, rumo aos seus pequenos desvios antes de chegar lá, e já passou por Bordeaux, Viena e agora já deve ter saído da “Praga do nosso amigo Kafka”. Já sinto falta desse rapaz em casa....

Mas ainda na terça, fui à estréia de “O Segredo de um Cuscuz” (La Graine et le Mulet, de Abdellatif Kechiche) e levei a Vivi (uma amiga gaúcha que só não vive mais no mundo da lua do que eu porque realmente não tem jeito... adoro!) a tiracolo. O filme foi muito bom, mas acho que teria aproveitado bem mais se tivesse tido um sono mais longo na noite anterior. :-)

O resto da semana:

Na quarta, quinta e sexta posteriores, trabalho, trabalho e mais trabalho, noites variando entre 3, 4 e 5 horas de sono por noite (quer dizer, acho que eu e todos os alunos normais que insistem em colocar em risco a sanidade mental todo fim de semestre. Viciados em adrenalina!). Mas isso não me impediu de asssistir “Os Amantes Constantes” na quinta... esse era um filme que eu já queria ver mesmo antes de vir pra cá. Meio longo, mas é lindo. Um espetáculo.

Na sexta, acordo bem cedo e vou pro aeroporto resolver o que tinha de resolver. Agora, com toda certeza, se nada der certo, no dia 16 de agosto coloco meus all stars em Guarulhos por volta das cinco da tarde...

No sábado, depois de fazer alguns ajustes num trabalho, Vivi e eu vamos a uma palestra em Serralves (do Documente-se), e saímos correndo de lá pra comprar umas coisas pra jantar e depois ir ao teatro. Alguém já chegou a quase entrar num teatro com sacola de compra? Não fossem as bolsas tamanho família, a gente tinha feito isso mesmo, numa boa... :-) Mas a peça que vimos foi "A Dama do Mar", baseada na obra de Henrik Ibsen. O preço foi uma facada (esperava que fosse a metade do que pagamos... acha que vida de estudante é fácil?), mas valeu super a pena. Tava tão boa que quando acabou, pensei que fosse algum intervalo intencional. Nem parecia que já tinha passado mais de uma hora desde o início!

No domingo, mais trabalho, trabalho e trabalho, mas como ninguém é de ferro, fui assistir “Escuta-me”, da cia. Era uma vez... teatro, a convite da Ana. Embora eu tenha já chegado depois da história do “fio”, achei a iniciativa muito bacana, um tipo de trabalho que merece ser reconhecido (porque acho que fazer teatro é sempre uma tarefa árdua - mas gratificante - e quando se trabalha com pessoas com algum tipo de deficiência, a tarefa é um pouco mais árdua , embora deva ser duplamente gratificante...)!

Depois disso, estava a voltar pela avenida da Boavista, quando vi o Serralves e resolvi entrar, pois como era ainda demasiado cedo para a conferência que eu queria ver, ficaria ali no museu vendo o que tinha de interessante. Acertei na segunda proposição, mas quanto ao que eu queria fazer lá, bem, tive que voltar pra casa e trabalhar, né? Mas chegando lá, vi uma instalação liiiiiinda, A Fonte de Cem Peixes. Adorei! se pudesse levar uma cópia de um peixinho desses num saquinho, não ia achar nada mal! Saindo de lá, fui a uma que não podia ser mais aminha cara (e que vou abreviar na descrição aqui porque senão fico horas só nisso!): a Vinil (que tem a logo da exposição igual ao selo da Virgin, pra começar), uma exposição de capas de disco m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!!!... e claro, como já sabem, me esbaldei mesmo. O bacana é que não era só as capas de disco: tinha desde capas desenhadas por artistas (muito além de Andy Wahrol e sua banana num fundo branco), quadros, "esculturas sonoras", obras com bolachões de muitos formatos, vídeos, e uma mesa que me parecia a entrada pro céu: players com mais de 300 cds pra audição de toda aquele monte de aristas loucos que brincavam com o som como se brinca com as palavras. Conheci a galera de um movimento muito louco, o Fluxus, de que a única pessoa que eu conhecia era o John Cage e já tinha ouvido falar alguma coisa de Nam June Paik. Achei ótimo o dripping do George Brecht, escutei o Charles Bukowski na maior trip, além de umas coisas que a Yoko Ono fazia no tempo que a minha tia-avó era hippie... MUITO bom!!

(...)

Mais notícias no próximo capítulo... porque isso aqui tá ficando maior que uma novela! ;-)