quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Bravo!

Hoje estava assistindo uns vídeos aqui, e não podia deixar de registrar o momento (pra morrer de saudade quando voltar pra casa...). Fui apresentada à música de Christofe Maé hoje. Muito prazer, Christofe... É um gajo muito bonito, canta super bem, e não duvido que saiba cozinhar e cortar a grama. Como fui parar aí? Bom, nada além de uma breve pesquisa sendo feita sobre o musical Le Roi Soleil para uma das aulas, com a ajuda indispensável da minha mais nova amiguinha Rosalina, que é apaixonada pelo dito cujo, e claro, com uma fluência muito maior que a minha presente igonorância en Français. Mas vamos à peça. Nela, Maé é irmão de Luís XIV, o Rei Sol. Simplesmente apaixonante! O negócio é uma super produção teatral que fala sobre a vida (amorosa, principalmente) de Luís XIV, envolve mais de cem pessoas no palco e mais de 500 na produção total e usa um misto de música barroca e moderna para compor as cenas. Superb!
Mas ainda, tem uma música que não me sai da cabeça desde ontem. Eu e essa mania de ouvir marchinhas de carnaval no meio da noite.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Aqui também é terra de Jeová

E hoje, estava em casa tranquila à tarde, quando de repente a campainha do apê toca (quem teria tamanha ousadia em interromper minha sesta sagrada?). Uma das turcas vai lá atender. Bom, como elas não falam Português, lá se vai a Meghie salvar a pátria e a visita pouco oportuna. Bom, chegando à porta, qual não é a minha surpresa ao ver duas senhoras com os trajes de praxe (de saia e pastinha na mão), e uma delas me perguntando se eu aceitava uma pequena revista pra ler e coisa e tal (olha que pelo menos aqui eles não batem na porta num belo domingo de manhã...), mas me senti compelida a declinar delicadamente o pedido. Não, muito obrigado, mas sou agnóstica, sabe como são essas coisas. E tenho muita coisa pra ler, não daria muito tempo, sabe? E ela me perguntou se eu acreditava em Deus ou não, e eu disse que tinha as minhas dúvidas mas estava resolvendo isso. Daí ela começou a dizer que o problema dos estudantes de hoje é que crêem demais na ciência e se esquecem de cultuar o Criador, e etc.
- Não, mas a ciência não é a última verdade das coisas, é só a religião do jeito que é colocada que não faz muito sentido pra quem vê as coisas de outro modo.
- Mas se os jovens acreditassem mais em Deus, Ele poderia aumentar a capacidade de raciocínio e poderia até ajudar nos estudos também.
Como não ia dar pé mesmo, não rolou argumentação demais. Ouvi o que ela quis dizer e pronto. Dez segundos depois a senhora se despediu delicadamente e desceu as escadas, depois de ter dito que "apesar de baixinha, eu era jeitosinha e tinha um jeito engraçado".
Ao menos não tive que ficar mais de 5 minutos na porta escutando e ficando sem jeito de rebater por parecer rude demais. Fé é fé e ponto, não?

Mas olha, quem sabe domingo eu vá visitar um templo?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

mais outra

E o Porto continua lindo, o frio chegando e a vida, correndo. Desde que me mudei pra casa nova, já deu pra fazer muita coisa, aumentar a lista de contatos e ver que a vida na facul não vai ser tão fácil quanto parece. Continuo com as mesmas disciplinas, e pra além delas estou em Tradução, Cosmologia (afinal de contas, faz parte, né?) e comecei o Francês (for free!). E tô achando ótimo isso. As aulas aqui são BEM bacanas, e tive muito cuidado em escolher as disciplinas (de novo e mais uma vez, depois de ter reformulado a grade TODA). Mas fora isso, é bom andar pelo prédio, respirar o ar friozinho do pátio à noite e olhar a arquitetura da faculdade (que funciona nesse prédio desde 1996). Cada dia descobre-se um aspecto novo, um ângulo novo da coisa, mesmo sendo o mesmo.

A preguiça ultimamente tá aumentando numa proporção inversa à velocidade com que as coisas acontecem por aqui. Ou será que eu que desacelerei de vez? sei lá. Mas enfim, a novidade é que o ninhozinho pode virar de repente uma coisa bem bacana, tipo um "circuito cultural alternativo-caseiro-amador". Já nessa sexta vai ter uma exposição de fotografias de um amigo do Tiago, e a idéia é que haja depois umas noites de fado, música brasileira, enfim, o negócio é ir variando. Não é demais? Cool people, cool stuff... e mais um trago no narguile preparado à base de maçã, menta, água e Jack Daniels. Alguém aceita?
(...)
Mas olha, se não falei disso ainda, deixa eu registrar: as pessoas aqui, apesar de levar a língua Portuguesa pro lado mais literal da coisa, usam-na de uma forma tão mais poética. Imagina dizer que você vai descansar na relva ao invés de deitar na grama. Ou dizer que vai fechar a torneira pra não verter mais água dela. Ou conjugar impecavelmente todos os verbos com os "tus" e os "vós" no devido lugar. É tanto cuidado que chega até a ser justificável a implicância que os lusos têm com a gente, dizendo que fizemos uma espécie de "anomalia" com a língua que eles (orgulhosamente) inventaram. Dá pra tirar um monte de verbete da gaveta, desempoeirar, lustrar e colocar na roda.
(...)
E hoje, na ânsia de achar uns livros que precisava (e de quebra, uns DVDs também, já que videoteca por aqui não tem em cada esquina como no Brasil... eu diria até que é quase um artigo de luxo), fiz uma visita básica à biblioteca do Palácio de Cristal (Biblioteca Municipal Almeida Garret), pra saber o que precisava fazer pra me registrar lá. Bom, antes de chegar, atravessei uma extensão de jardins maravilhosamente arquitetados, e quase fiquei por lá mesmo admirando a paisagem... mesmo que já tivesse ido ao Palácio de Cristal, os jardins são sempre um espetáculo. Mas enfim, entrei no prédio. Parei pra pedir as informações que precisava aproveitei pra conhecer o lugar. Logo na entrada dos audiovisuais, um painel com fotos e a biografia do John Coltrane (!) me chamou a atenção. Abaixo, muitos CDs dele e nos dedos uma coceira louca de colocar tudo e escutar. Mas tinha que deixar isso pra outra vez... Mas enfim, ao lado tinha um outro painel: "Leia o livro e veja o filme". Todos sobre cinema português, com títulos pouco familiares pra mim (ao menos por enquanto). Andando um pouco mais, muita coisa de mitologia, música, cinema. Pra além dos livros, tem um acervo enorme de CDs, que vão de Miles Davis a Clash e Chemical Brothers, sem contar a seção especial dedicada às "músicas do mundo": sons vindos do Marrocos, muitas partes da África, China, e por aí vai. Há também uma parte dedicada à música brasileira (é claro), com os clássicos Tom, Chico, Maria Bethânia e Marisa Monte, mas também com Chico César na parada. Na seção de fado, um imenso de discos, tanto interpretados por vozes másculas quanto pour femmes. Vai me ajudar a conhecer mais de fado do que as músicas da Amália... Logo do lado, uma estante com divisões nem tão rigorosamente taxionomizadas, a tão procurada seção de DVDs. Claro que com nem tantos títulos assim (é bom lembrar de que se trata de uma bliblioteca), mas com poucos e bons, eu diria. Enfim, por último subi, as escadas de volta, e no pavilhão central da biblioteca, o prato principal. Na seção de literatura Portuguesa, um mar de títulos e mais títulos, é claro. São Saramago que me ajude...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Só pra constar



Um adendo-atualização a este post aí de baixo (escrito a dois dias). Essa história de procurar um quarto de novo é meio longa, mas enfim, achei. Fica a uns 15 minutos a pé da casa onde estava e é muito, mas muito bacana. Lá moram duas turcas (que estão em Ramadã por agora...) e o dono da casa, que ao contrário do que costuma acontecer, não é um velhinho rabugento de hábitos intragáveis (tá, exagero). Ele tá estudando também (leia-se: fazendo doutorado em Astrofísica!), e é muito bacana de conversar, é desses caras inteligentes e viajados e sempre tem muita coisa pra dizer. Já com as turcas ainda não deu muito pra estabelecer um contato razoável, além de umas palavras sobre a casa e a faculdade. Mas vamos ver, não é? Mas enfim, e além de o Tiago (é, simples assim) ser um cara bacana, acho que nunca vou ter que chegar em casa e escutar coisas tipo Tony Carreira tocando em alto e bom som (em casa mesmo nunca peguei o pessoal escutando isso, mas é isso o que ouvem. E a mulherada adooooora! No show desse cara só se vê cabeças, vozes e braços de mulheres - usando corte Chitãozinho & Xororó style, sem brincadeira). Mas enfim, me animou bastante a idéia de que vou ter (além da minha pequena coleção) CDs do Kasabian, Blur, Oasis, R.E.M, Radiohead, Queen e coisas do tipo pra ouvir, além de DVDs do Kubrick e do Hitchcock pra assistir. Perfeito, n'est-ce pas?


Na foto: as turcas Ebru (sentada) e Yasemin, ao lado do Tiago, o quase-cientista-maluco... :-)

A anti-monotonia

Aconteceram muitas coisas desde a minha última complaint aqui sobre ciganear e não ciganear cidade afora. Definitivamente, monótona é a última palavra que definiria os meus poucos dias passados aqui. Bom, já fui à Guimarães, "onde Portugal começou". Também já conheço alguns lugares bacaninhas aqui e bem, muito mais gente do que imaginei que fosse conhecer em tão pouco tempo. Além de portugueses, já conheci gente da Escócia, da Polônia, República Tcheca, Espanha, Itália, França, e acreditem, até uns lituanos esta sexta. Haja Inglês pra gastar no meio de uma salada tão grande de culturas como está aqui. Bom, por mais incrível que pareça, vou mesmo e mudar mesmo do lugar onde estou. Achar um lugar ainda mais perto da Letras (e com a perspectiva de se gastar alguns Euros a menos) não está sendo tarefa das mais fáceis. Mas procurando, possivelmente se acha alguma coisa. E logo agora, quando minha companheira de quarto, a Manu, chegou à pouco. Mas enfim, né. Falando na Manu (é assim que chamamos a Emanuelle), a doidinha merece um espaço aqui pra uns comentários. Somos bem diferentes (a começar pela diferença entre Minas e Ceará). Ela é bem aquele estereótipo de brasileira que os gringos têm da gente: muito falante, sempre pra cima e de humor e jeito muito mais caliente que o meu de mineirinha come-quieto. Ela é bacana, mas às vezes ainda sinto um pouco de estranhamento com relação ao jeito de ser de pessoas que normalmente falam mais de cento e tantas palavras por minuto. Enfim, né. Mas ela é gente boa e já tá cumprindo o papel: duas das italianas que moram na casa já sabem até cantar a Garota de Ipanema. E o bacana é que uma delas se empolgou tanto, que ficava cantando a música o dia todo - e a noite toda também (exagero). Além disso, elas já conhecem alguma coisa de João Gilberto e Jorge Ben (entro nessa parte) e até sair pra sambar a gente já foi. Fim de semana passado, por exemplo, enquanto a galera tava se acabando de dança música latina e samba, acho que eu era a única brasileira non-samba dancer (right, Steven?!) presente no lounge. Mas o papo que bati com um “amigo do amigo da amiga” valeu muito a pena e compensou a minha falta de dotes sinestésicos pra dança (e não, muito ao contrário do que vocês estão pensando, não rolou pegação. Isso é algo que não é mesmo muito meu forte, embora seja bom de vez em quando...).


Mas ainda falando no fim de semana pass-passado (retrasado é muito velho), depois de Guimarães, uns amigos e eu fomos pra Foz. O lugar é muito bacana, e a gente ficou caminhando pertinho da praia à tarde. Tava fazendo um friozinho de leve então tava assim tão bom... e depois que cheguei em casa, ainda fui jantar com uma amiga (a Ana, que me hospedou quando cheguei) além dela, do Nuno, do Gustavo e da Tânia, tinha uns amigos deles (o Timo, que é um finlandês que já já conhecia antes, e uns amigos dele tchecos, se me lembro bem). Foi bem bacana, e teve uma hora que uns acadêmicos nas roupas de Harry Potter (acho que fazia parte da praxe isso... essa época de praxe [leia-se trote]. Rola cada coisa! a galera maltrata mesmo os calouros! hahaha) tocaram uma serenata bem afinadinha pra galera sentada no restaurante. Bacana mesmo. E depois disso ainda deu tempo de dar uma voltinha com as meninas da casa onde eu tava ficando (!). :-O Rolou sambinha e tudo!
Mas não tem jeito, me jogo mesmo ao som do bate-estaca à la Chis Foxcat (Paola, meu bem, você que o diga! Ainda não achei ninguém que discoteque como ela aqui!) – estilo, que aliás, "bombou" este sábado depois da festa Erasmus aqui. Dessa vez, a Larissa tava comigo e umas amigas polacas também. Foi super!

(...)

Mas como a vida não é feita só de fins de semana bacaninhas, café com os amigos e conversas com poloneses e lituanos, essa semana finalmente me decidi pelas disciplinas que vou cursar aqui na faculdade e jàa comecei a frequentar as aulas de forma mais consistente, fora de caráter experimental. Como jàa mencionei anteriormente, é tanta coisa que dá vontade de fazer tudo. Ah, se meu tempo desse... como em todo lugar, aqui há professores excelentes (e outros nem tanto) e o ambiente da faculdade de Letras é ótimo. Além de pessoas de vários países se cruzando pelos corredores, ainda tem a biblioteca (cara, e que biblioteca), que é a alma do prédio. Além dos mais de quatro andares que a compõem, tem uma espécie de reading lounge no último piso do subsolo, com sofazinhos, lâmpadas e mesinhas. Parece mais um café que um espaço de leitura. E assim, tem uma parte da hemeroteca só com jornais antigos do Porto. Ainda vou separar um tempo especial pra ficar só lá olhando a velharia mais bacana de tudo o que tem lá. Vi umas edições de jornais com mais de cem anos, coisa de 1903 pra lá. As notícias, os classificados, as anedotas e novelas de folhetim com aquele Português tão velho quanto as barbas de D. Pedro II ajudam a entender um pouco mais sobre a história dos nossos periódicos. Já os de hoje, são todos em formato de tablóide, e além de tradicionais como O Público (que só não fechou ainda porque seria um escândalo para os portugueses. Basta imaginar se a Folha ou o Globo um dia acabassem), têm uns gratuitos como o Metro e o Distak, que, muito ao contrário dos nossos “espreme-que-sai-sangue-e-mulher-pelada”, têm notícias relevantes, embora com a superficialidade de um jornal com pouco espaço. Mas é melhor do que ter “gostosonas na page three à The Sun e metade do jornal ocupado com milhões de fofocas dos famosos. E tudo o que eles sabiam falar aqui era sobre o caso Maddie (a menina inglesa Madeleine que desapareceu mo Algarve enquanto passava as férias com os pais). Coisas do tipo “O que a Polícia sabe sobre a mãe de Maddie”, “Caso Maddie sem solução”, “Mais uma pista para o caso Maddie” até muito pouco tempo lotavam os jornais aqui (quem sabe um cineasta português não faça um filme sobre o caso?!). Outro nas últimas rodas de papo era o treinador Português José Mourinho, “The Special One” que acabou de sair do Chelsea por mais de 25 milhões de Euros. Ele é o Beckham de Portugal em forma de técnico...

Já na TV (depois preciso dedicar um post só pra ela!), o que mais se vê são programas de auditório, e entretenimento em todas as formas e tipos nos canais “mainstream”. Sílvio Santos aqui seria uma figura ainda mais lendária do que ele já é no Brasil. Hoje fiquei sabendo que a TV só chegou em Portugal na década de 80 (o que explicaria MUITA coisa, se fosse assim de fato)*, e assim, o que a galera vê mesmo são coisas tipo Praça da Alegria (que passa todas as manhãs), muuuuuuuuuuitas séries americanas (como A Anatomia de Grey e o óbvio ululante, Friends), filmes (o bom é que eles NUNCA são dublados), e claro, novelas brasileiras! Bebel, Tais, Paula e Olavo são celebridades aqui. E como a Paraíso Tropical aqui não acabou ainda, os murmúrios giram todos em torno de “quem matou a Tais”. Depois de oito finais com assassinos diferentes gravados pela CGP, tenho certeza de que não vai ser o Olavo o “the one” (assunto de interesse nacional, como é que eu não ia comentar?!).

(...)

Ah, e um comentário sobre um dos últimos vídeos que assisti no Youtube. Não, não posso acreditar que depois daquele bando de pela-saco da direita da OAB paulista ficaram “Cansados” (porque o avião do presidente é mais seguro que o deles e o poder de compra diminui porque não dá pra comprar a Mercedes do ano, talvez), os nossos “faróis da modernidade” ainda vêm com mais essa. Inacreditável. Lula e Collor? Mas claro, eles devem ter um pacto com o diabo, só pode, pra se parecerem tanto... tanta semelhança nos atos de governo seria humanamente impossível, seria algo plausível somente nos tempos da ditadura militar. Meu Deus! Nesse universo de madame que nem sabe quanto é um salário mínimo e veneram Diogo Mainardi e colocam Arnaldo Jabor num pedestal, não tinha muito o que se esperar além disso, certo?


* a história não foi exatamente bem assim... injustiça deixar isso passar em branco!