terça-feira, 2 de outubro de 2007

A anti-monotonia

Aconteceram muitas coisas desde a minha última complaint aqui sobre ciganear e não ciganear cidade afora. Definitivamente, monótona é a última palavra que definiria os meus poucos dias passados aqui. Bom, já fui à Guimarães, "onde Portugal começou". Também já conheço alguns lugares bacaninhas aqui e bem, muito mais gente do que imaginei que fosse conhecer em tão pouco tempo. Além de portugueses, já conheci gente da Escócia, da Polônia, República Tcheca, Espanha, Itália, França, e acreditem, até uns lituanos esta sexta. Haja Inglês pra gastar no meio de uma salada tão grande de culturas como está aqui. Bom, por mais incrível que pareça, vou mesmo e mudar mesmo do lugar onde estou. Achar um lugar ainda mais perto da Letras (e com a perspectiva de se gastar alguns Euros a menos) não está sendo tarefa das mais fáceis. Mas procurando, possivelmente se acha alguma coisa. E logo agora, quando minha companheira de quarto, a Manu, chegou à pouco. Mas enfim, né. Falando na Manu (é assim que chamamos a Emanuelle), a doidinha merece um espaço aqui pra uns comentários. Somos bem diferentes (a começar pela diferença entre Minas e Ceará). Ela é bem aquele estereótipo de brasileira que os gringos têm da gente: muito falante, sempre pra cima e de humor e jeito muito mais caliente que o meu de mineirinha come-quieto. Ela é bacana, mas às vezes ainda sinto um pouco de estranhamento com relação ao jeito de ser de pessoas que normalmente falam mais de cento e tantas palavras por minuto. Enfim, né. Mas ela é gente boa e já tá cumprindo o papel: duas das italianas que moram na casa já sabem até cantar a Garota de Ipanema. E o bacana é que uma delas se empolgou tanto, que ficava cantando a música o dia todo - e a noite toda também (exagero). Além disso, elas já conhecem alguma coisa de João Gilberto e Jorge Ben (entro nessa parte) e até sair pra sambar a gente já foi. Fim de semana passado, por exemplo, enquanto a galera tava se acabando de dança música latina e samba, acho que eu era a única brasileira non-samba dancer (right, Steven?!) presente no lounge. Mas o papo que bati com um “amigo do amigo da amiga” valeu muito a pena e compensou a minha falta de dotes sinestésicos pra dança (e não, muito ao contrário do que vocês estão pensando, não rolou pegação. Isso é algo que não é mesmo muito meu forte, embora seja bom de vez em quando...).


Mas ainda falando no fim de semana pass-passado (retrasado é muito velho), depois de Guimarães, uns amigos e eu fomos pra Foz. O lugar é muito bacana, e a gente ficou caminhando pertinho da praia à tarde. Tava fazendo um friozinho de leve então tava assim tão bom... e depois que cheguei em casa, ainda fui jantar com uma amiga (a Ana, que me hospedou quando cheguei) além dela, do Nuno, do Gustavo e da Tânia, tinha uns amigos deles (o Timo, que é um finlandês que já já conhecia antes, e uns amigos dele tchecos, se me lembro bem). Foi bem bacana, e teve uma hora que uns acadêmicos nas roupas de Harry Potter (acho que fazia parte da praxe isso... essa época de praxe [leia-se trote]. Rola cada coisa! a galera maltrata mesmo os calouros! hahaha) tocaram uma serenata bem afinadinha pra galera sentada no restaurante. Bacana mesmo. E depois disso ainda deu tempo de dar uma voltinha com as meninas da casa onde eu tava ficando (!). :-O Rolou sambinha e tudo!
Mas não tem jeito, me jogo mesmo ao som do bate-estaca à la Chis Foxcat (Paola, meu bem, você que o diga! Ainda não achei ninguém que discoteque como ela aqui!) – estilo, que aliás, "bombou" este sábado depois da festa Erasmus aqui. Dessa vez, a Larissa tava comigo e umas amigas polacas também. Foi super!

(...)

Mas como a vida não é feita só de fins de semana bacaninhas, café com os amigos e conversas com poloneses e lituanos, essa semana finalmente me decidi pelas disciplinas que vou cursar aqui na faculdade e jàa comecei a frequentar as aulas de forma mais consistente, fora de caráter experimental. Como jàa mencionei anteriormente, é tanta coisa que dá vontade de fazer tudo. Ah, se meu tempo desse... como em todo lugar, aqui há professores excelentes (e outros nem tanto) e o ambiente da faculdade de Letras é ótimo. Além de pessoas de vários países se cruzando pelos corredores, ainda tem a biblioteca (cara, e que biblioteca), que é a alma do prédio. Além dos mais de quatro andares que a compõem, tem uma espécie de reading lounge no último piso do subsolo, com sofazinhos, lâmpadas e mesinhas. Parece mais um café que um espaço de leitura. E assim, tem uma parte da hemeroteca só com jornais antigos do Porto. Ainda vou separar um tempo especial pra ficar só lá olhando a velharia mais bacana de tudo o que tem lá. Vi umas edições de jornais com mais de cem anos, coisa de 1903 pra lá. As notícias, os classificados, as anedotas e novelas de folhetim com aquele Português tão velho quanto as barbas de D. Pedro II ajudam a entender um pouco mais sobre a história dos nossos periódicos. Já os de hoje, são todos em formato de tablóide, e além de tradicionais como O Público (que só não fechou ainda porque seria um escândalo para os portugueses. Basta imaginar se a Folha ou o Globo um dia acabassem), têm uns gratuitos como o Metro e o Distak, que, muito ao contrário dos nossos “espreme-que-sai-sangue-e-mulher-pelada”, têm notícias relevantes, embora com a superficialidade de um jornal com pouco espaço. Mas é melhor do que ter “gostosonas na page three à The Sun e metade do jornal ocupado com milhões de fofocas dos famosos. E tudo o que eles sabiam falar aqui era sobre o caso Maddie (a menina inglesa Madeleine que desapareceu mo Algarve enquanto passava as férias com os pais). Coisas do tipo “O que a Polícia sabe sobre a mãe de Maddie”, “Caso Maddie sem solução”, “Mais uma pista para o caso Maddie” até muito pouco tempo lotavam os jornais aqui (quem sabe um cineasta português não faça um filme sobre o caso?!). Outro nas últimas rodas de papo era o treinador Português José Mourinho, “The Special One” que acabou de sair do Chelsea por mais de 25 milhões de Euros. Ele é o Beckham de Portugal em forma de técnico...

Já na TV (depois preciso dedicar um post só pra ela!), o que mais se vê são programas de auditório, e entretenimento em todas as formas e tipos nos canais “mainstream”. Sílvio Santos aqui seria uma figura ainda mais lendária do que ele já é no Brasil. Hoje fiquei sabendo que a TV só chegou em Portugal na década de 80 (o que explicaria MUITA coisa, se fosse assim de fato)*, e assim, o que a galera vê mesmo são coisas tipo Praça da Alegria (que passa todas as manhãs), muuuuuuuuuuitas séries americanas (como A Anatomia de Grey e o óbvio ululante, Friends), filmes (o bom é que eles NUNCA são dublados), e claro, novelas brasileiras! Bebel, Tais, Paula e Olavo são celebridades aqui. E como a Paraíso Tropical aqui não acabou ainda, os murmúrios giram todos em torno de “quem matou a Tais”. Depois de oito finais com assassinos diferentes gravados pela CGP, tenho certeza de que não vai ser o Olavo o “the one” (assunto de interesse nacional, como é que eu não ia comentar?!).

(...)

Ah, e um comentário sobre um dos últimos vídeos que assisti no Youtube. Não, não posso acreditar que depois daquele bando de pela-saco da direita da OAB paulista ficaram “Cansados” (porque o avião do presidente é mais seguro que o deles e o poder de compra diminui porque não dá pra comprar a Mercedes do ano, talvez), os nossos “faróis da modernidade” ainda vêm com mais essa. Inacreditável. Lula e Collor? Mas claro, eles devem ter um pacto com o diabo, só pode, pra se parecerem tanto... tanta semelhança nos atos de governo seria humanamente impossível, seria algo plausível somente nos tempos da ditadura militar. Meu Deus! Nesse universo de madame que nem sabe quanto é um salário mínimo e veneram Diogo Mainardi e colocam Arnaldo Jabor num pedestal, não tinha muito o que se esperar além disso, certo?


* a história não foi exatamente bem assim... injustiça deixar isso passar em branco!

3 comentários:

Ana disse...

Quem é que te disse que a tv chegou a Portugal na década de 80? Nãoooo!!!!!
Foi no ano de 1957 quando a RTP emitiu o primeiro programa a partir da Feira Popular de Lisboa! Nessa altura eram poucos os que tinham tv e a minha mãe conta que na década de 60 os vizinhos juntavam-se em casa dela porque era das poucas na rua que tinha tv...
A minha irmã que nasceu em 1975 ainda se lembra de ver desenhos animados a preto e branco, mas eu já não (nasci em 1980)...

Maggie Mae disse...

Bem que eu estranhei mesmo quando me disseram isso... depois fui checar isso e vi que não era bem assim (mas não coloquei adendo nenhum aqui) mas o adendo já está colocado e pronto, agora tá consertado o negócio.
:-))

Anônimo disse...

Aprendi muito