sexta-feira, 19 de junho de 2009

O dia em que o jornalismo morreu

E essa quarta o STF decide que para ser jornalista no Brasil, não é mais necessário ter diploma. Gilmar Mendes comparou o exercício da profissão à de um "chef de cozinha, que não precisa ter diploma para preparar os pratos", e o surpreendente resultado de 8 votos a 1 é irreversível. Por enquanto. Mas eu fico me perguntando... se para exercer a profissão de jornalista não é necessário ter uma competência técnica específica, basta saber escrever bem, ter boa índole e compromisso com a verdade, então pra que serve a universidade? Bastava um curso de escrita jornalística e edição de vídeo e imagem, e pronto, tava feito. Mas o curso serve para fazer as pessoas pensarem a comunicação, refletir no nosso objeto de estudo, que não é uma coisa qualquer. Não concordo com a idéia de que uma falha de informação não tenha consequências graves e diretas. Informações já foram estopins de guerras e revoltas, serviram para fazer manipulações em massa (Hitler com o uso do rádio que o diga!), causam inúmeros processos judiciais, mortes por causa direta e indireta e outras coisas que levaria tempo pra enumerar. É exagero dizer que essa decisão foi um ato de descaso com a informação, mas foi o que soou aos meus ouvidos. Jornalismo não são só técnicas de comunicação, e a informação não é um produto qualquer. É preciso ter formação pra lidar bem com ela, pelo menos é o que eu acho. Fico triste porque isso é um ato de desvalorização da categoria no Brasil (que acho que nunca foi categoria de fato e de verdade por sempre ser tão frágil), que fica ainda mais enfraquecida do que já estava. Não permitir não-diplomados a exercer a profissão não é restringir a liberdade de expressão. Pra isso existem blogs, artigos de opinião, revistas especializadas. Faz sentido dizer que para escrever para um jornal basta ter uma boa formação humanística e saber passar a informação pra frente. É uma afirmação lógica. Mas acho que lidar com a informação é tão importante quanto lidar com o ensino de uma disciplina, por exemplo, e acho que é preciso saber bem como fazer isso, ter formação para fazê-lo. E a informação não está aí pra ser simplesmente passada. Precisa ser pensada. E acho que é pra isso que serve o curso de Jornalismo: para proporcionar a reflexão da informação, e não só servir como um curso de técnicas de comunicação. Se fosse só isso, estaríamos todos lixados! Também não vou dizer que só quem passou pela faculdade de Jornalismo tem a capacidade de refletir sobre a informação ou que tenha ética. Longe disso, seria muito reducionista (se nem quem passa pelos bancos da faculdade por quatro anos às vezes tem essa capacidade!), mas não acho que qualquer um possa ser jornalista. Pra ter liberdade de expressão, um sujeito não precisa se considerar jornalista, precisa?

Em pensar que para exercer a profissão de advogado nem é necessário o diploma. É preciso passar na prova da OAB, o que, acho eu, é uma forma de dizer aos navegantes que "é preciso saber o que se está a fazer e porquê". E depois, enchem escritórios de advocacia, cartórios, ou com um pouquinho mais de sorte viram deputados, senadores, ou vão trabalhar no STF pra votar decisões como essa.


Agora, é aquilo: os salários vão para as cucuias, a mão-de-obra, que já era barata, vai ficar a preço de atacado chinês, e a concorrência que não era pouca agora vai piorar um pouquinho. Mas acho que isso é uma prova de que talvez a classe jornalística não esteja transparecendo bem o seu papel crucial na sociedade (do tipo, o jornalismo é uma profissão tão importante que é necessário ter pessoas formadas nisso pra exercer?!), ou... sei lá, não esteja mostrando o que vale. Talvez se houvesse uma maior consciência de categoria, de classe, de unidade, isso seria diferente. Mas como toda moeda tem dois lados, vamos ter que mostrar o que valemos e mostrar pra que vale o nosso diploma. Quem quiser fazer jornalismo agora, eu acredito, vai ter que fazer o que faz porque gosta e realmente é aquilo que quer, e fazer o que faz por "amor à camisa". Ver o copo meio cheio em vez de meio vazio é sempre a melhor opção. :-/

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Clichês


Já sinto saudades daqui do Porto, mesmo antes de ir embora. Isso é um enorme clichê, eu sei. Lugar comum. Ou incomum. Ou um lugar pequeno e incomum, mas do tamanho do mundo. Como me disse uma portuense radicada na Alemanha outro dia... "o Porto é a saudade travestida de cidade". Acho que concordo. E isso porque já morei aqui tempo o bastante pra me saturar. Talvez tempo o suficiente pra descobrir que o tempo é curto e que passa depressa, ou tempo o suficiente pra me fazer perceber como os dias são bonitos do lado de cá, por entre casas velhas, morros íngremes, a poesia de uma tertúlia num domingo à tarde ou o cair do dia às margens do Douro. Já tenho saudades daqui, mesmo estando curiosa pra saber o que vem depois, ou onde vem depois... Talvez seja uma ansiedade injustificada, talvez não haja nada demais pra além do horizonte e pra além do oceano, talvez não haja ninguém a segurar o pote dourado aos pés do arco-íris pra mim. Mas é bom imaginar, é bom sonhar. E fazer planos. E realizar planos, que é mais importante que simplesmente fazê-los... É estranho se estar nesse interstício - quando ainda há tanto a fazer, tanta coisa pra experimentar, tanto a descobrir, mas há aquela sensação de que nada seria melhor do que sentir o cheiro, o gosto e as cores daquele céu azul do meu Horizonte Belo ou simplesmente passar uma tarde andando pelo Parque Municipal a pensar na vida e mais nada... demorou, mas tenho que admitir: tenho saudades de casa. E isso não é pecado nenhum. Mas é como eu costumo dizer: é sempre bom dar o tempo o suficiente pra se sentir saudade... pra querer ver o rosto das pessoas que te querem bem, pra sentir o vento da manhã quente ensolarada que te desperta a maioria dos dias do ano, pra comer aquele almoço que só a vó sabe fazer. E achar aquilo tudo uma delícia. E pensar duas vezes quando o reclamômetro disparar.

Mas isso tudo não é mais que uma montanha de clichês.

Tem gente que realmente leva um pouco mais de tempo pra perceber e realizar as coisas, e não tenho dúvidas de que nasci pra me enquadrar nessa categoria. Mas acho que por um lado, isso tem até uma beleza: mastigar e digerir as coisas devagar faz parte dos mandamentos da boa saúde... será que é por isso que me sinto tão pouco saudável nos últimos dias? :-)

Outro clichê.