quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Início de inverno

Então as tardes aquareladas de amarelo ouro - e temperadas com o cheiro da manhã trazido pelos ventos frios do mar - foram aos poucos se vestindo de cinza, se envolvendo no enorme manto gris que cobre a cidade e a vista da minha janela. Até as gaivotas parecem sentir o mesmo friozinho por debaixo das penas, e, voando mais apressadamente entre um telhado e outro, talvez estejam procurando o pincel borrado de amarelo, caído da enorme paleta celeste.
(...)
O céu cinza-azulado de começo de tarde e o ar úmido de prenúncio de chuva convidam a apreciar a paisagem do lado de dentro das janelas das casas bem aquecidas. O vento frio leva pra longe a inspiração para corridas no parque e para encontros com os amigos, e traz consigo a vontade de se entregar ao ócio laborioso de completar os livros não-lidos e do perfume do chá fumegante à cabeceira da cama, que tem um gosto mais quente quanto mais frio estiver lá fora.
(...)
E os velhinhos... ah, os velhinhos portugueses! Saem aos montes, empacotados em seus agasalhos engraçados, talvez para saudar com suas conversas nos cafés mais um inverno que chega, que vai chegando de mansinho como um gato preguiçoso a se enroscar nas pernas da gente. Esses velhinhos e velhinhas não se contentam em ficar dentro de casa com um convidado dessa envergadura à porta.
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Ele bateu por aqui também, mas prefiro sorrir da minha janela a esse estranho ilustre... porque quando não se é velhinha e nem portuguesa, convém que seja assim.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Classe medíocre

A música eu já conhecia, mas o videozinho é genial. Nada melhor pra matar um pouquinho da saudade de casa (além de assistir Tropa de Elite com uma barra de chocolate bem grande no colo, é claro...).

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Today's fortune

"A well-directed imagination is the source of great deeds".

Prova de que o Orkut pode até ser útil ao colocar esses óbvios ululantes. Bom, né?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Um, dois, três fins de semana




Depois de uma tentativa frustrada de blogar aqui (a idéia de fazer um texto bonitinho no Word pareceu realmente não dar certo, e a máquina engoliu todas as minhas palavras quando eu já estava no fim... é de desanimar ou não é?!)

Mas enfim, a viagem a Madri era algo que ficava pairando sobre a minha cabeça, pendendo de um lado pro outro, sempre presente no ar e eu sabia que precisava falar disso (claro). A viagem em si foi há dois fins de semana, e não vai ter tempo que apague as memórias boas dessa escapadinha. Foram três dias muito bacanas, em que rolou quase de tudo: visita ao Museu do Prado, quase-jogo no estádio do Real Madrid, protesto de motoqueiros (em frente ao mesmo estádio), festa ao ar livre, desencontros com meu host (devia pular essa parte), quarto de hotel partilhado com mais 4 amigos, noite mal-dormida no aeroporto de Madri e um barzinho de tapas, hmmm... desses de tirar o chapéu (acho que o dono do bar devia conhecer o Fernando Alonso, tinha uma foto de todos os famosos espanhóis que passaram por lá e do Alonso tinha um pôster...).

(...)

Já no fim de semana passado, aconteceu a terceira edição do "Art no Flat", aquelas festinhas com exposição de arte que das últimas vezes tinham sido na sexta-feira (acho que é mesmo o melhor dia pra se fazer isso...). Dessa vez foi no sábado e não foi como as anteriores porque tinha menos gente (uma revoada de estudantes estava em Liboa em uma viagem promovida pela ESN da Univ. do Porto), e muitos dos que estavam lá eram amigos dos amigos, então, não conhecia metade deles. Mas enfim, foi bacana porque a Sofia, uma outra amiga do Tiago, expôs uns quadros (que ela utilizou a xilogravura pra fazer), e eram assim, bem pessoais porque meio que contava a história da família dela (com umas fotos de pessoas importantes na biografia da moça, sobrepostas com as datas de nascimento dessas pessoas). Muito bacanas os quadros...

(...)
(Atualizando: as fotos daí de cima são do fim de semana descrito logo abaixo. Na primeira, estamos a Marjorie, dona Dina, tia do Tiago, Olga ao lado do meu cabelo, ao fundo, e Ania à frente, e todas na casa da senhora simpática que fez a fotinho com a gente. Embaixo, estou com a cidadezinha de Sanabria, na Espanha, perto do olhar e longe das mãos... e que ventinho!
Continuemos pelo relato.)

E o fim de semana mais fresco na memória, este que acabou de terminar, foi super, mas super bacana. Três amigas (as polacas Ana e Olga e uma compatriota, a Marjorie) e eu fomos com o Tiago visitar uns parentes dele em Chaves, uma cidadezinha bem mais ao Norte (quase na fronteira com a Espanha), e foi muito, mas muito bacana ver como se parece o countryside Português (e de quebra um pouco do Espanhol também, porque de Chaves fomos visitar o vilarejo de Sanabria, já além da fronteira). Em Chaves ficamos na casa da tia do nosso bon ami, a dona Dina, que de portuguesa só tem a cara e o sotaque... ela nos recebeu tão bem que parecia ser mineira, sem bairrismo exagerado. Chegamos lá já era noite, e fomos dar uma volta pelo lugarejo. O frio tava de lascar, mas o passeio valeu a pena. Passamos perto da ponte de Trajano (que atravessa o rio Tâmega), que é uma construção romana com quase 2.000 anos de idade, feita por volta do fim do século I e início do século II. E o mais legal é que, como me contou a dona Dina, o "gentílico" dos moradores de Chaves não têm nada a ver com chaves, chavenses, "chaveiros" ou coisas do tipo. Eles são flavienses, porque quando foi fundada pelos romanos, Chaves se chamava Aquae Flaviae. (!)

E no domingo, acordamos cedo e depois do café visitamos uma pequena joalheria, negócio da família Laço, iniciada pelo avô do Tiago, e que agora estava sob os cuidados da dona Dina e de mais dois tios. O triste é que parece que depois deles ninguém mais quer tomar conta da loja, então a tradição de família corre o risco de morrer com eles... Mas depois da visita fomos à Sanabria, na província de Zamora, na região de Castilla e León. Já a estrada se mesclava com uma paisagem espetacular: estradas sinuosas em harmonia com árvores de todos os tamanhos, nuas e semi-nuas com folhas em tons de ocre, dourado e laranja. As montanhas lembravam Minas, mas a vegetação e as formações rochosas que as cobriam não deixavam esquecer nem por um minuto que aquilo era a Europa... e o nosso destino era um lugar simplesmente maravilhoso - um vilarejo quase que onírico, com casinhas que lembravam contos de fadas. Sem falar no castelo feito pelo conde de Benavente (do século XV) e de outras construções preservadas desde a época medieval (como o lugar que abriga a Câmara Municipal e a igreja de Santa Maria del Azogue, que é do século XII). E o lago de Sanabria, o lago... é um cenário paradisíaco: à frente, montanhas, atrás, uma floresta que ficava ainda mais interessante com aquelas folhas douradas caídas, iluminadas pela luz do entardecer e envolvidas por um vento que carregava as folhas e fazia ondulações na água (transparente) do lago. À beira do lago, um banco de areia que forma uma praiazinha, e a maravilhosa sensação de se ver as pedras coloridas no fundo das águas limpas e frias do Sanabria. Fizemos um piquenique por ali (que incluía pastéis de Chaves, cuja receita eu tenho que mandar pra minha avó) e depois fomos às montanhas, a uma hora dali. De novo aquele cenário lindo, com os picos das montanhas cobertos de neve à frente, até que finalmente chegamos mais perto do topo da montanha. Era lindo ver como mesmo debaixo de neve ainda tinha vegetação verde, e bem verde. A sensação de se estar dentro do congelador foi boa (diferente, claro), mas quando já não dava mais pra sentir as pontas dos dedos por debaixo das luvas, já tinha passado da hora de descer...
E depois, de volta à casa da dona Dina, jantamos uma feijoada trasmontana de dar água na boca, "conversamos" um pouco e fomos à casa de um outro tio do Tiago, o seu Zeca, que recebeu a gente de braços abertos e lareira acesa.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Bravo!

Hoje estava assistindo uns vídeos aqui, e não podia deixar de registrar o momento (pra morrer de saudade quando voltar pra casa...). Fui apresentada à música de Christofe Maé hoje. Muito prazer, Christofe... É um gajo muito bonito, canta super bem, e não duvido que saiba cozinhar e cortar a grama. Como fui parar aí? Bom, nada além de uma breve pesquisa sendo feita sobre o musical Le Roi Soleil para uma das aulas, com a ajuda indispensável da minha mais nova amiguinha Rosalina, que é apaixonada pelo dito cujo, e claro, com uma fluência muito maior que a minha presente igonorância en Français. Mas vamos à peça. Nela, Maé é irmão de Luís XIV, o Rei Sol. Simplesmente apaixonante! O negócio é uma super produção teatral que fala sobre a vida (amorosa, principalmente) de Luís XIV, envolve mais de cem pessoas no palco e mais de 500 na produção total e usa um misto de música barroca e moderna para compor as cenas. Superb!
Mas ainda, tem uma música que não me sai da cabeça desde ontem. Eu e essa mania de ouvir marchinhas de carnaval no meio da noite.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Aqui também é terra de Jeová

E hoje, estava em casa tranquila à tarde, quando de repente a campainha do apê toca (quem teria tamanha ousadia em interromper minha sesta sagrada?). Uma das turcas vai lá atender. Bom, como elas não falam Português, lá se vai a Meghie salvar a pátria e a visita pouco oportuna. Bom, chegando à porta, qual não é a minha surpresa ao ver duas senhoras com os trajes de praxe (de saia e pastinha na mão), e uma delas me perguntando se eu aceitava uma pequena revista pra ler e coisa e tal (olha que pelo menos aqui eles não batem na porta num belo domingo de manhã...), mas me senti compelida a declinar delicadamente o pedido. Não, muito obrigado, mas sou agnóstica, sabe como são essas coisas. E tenho muita coisa pra ler, não daria muito tempo, sabe? E ela me perguntou se eu acreditava em Deus ou não, e eu disse que tinha as minhas dúvidas mas estava resolvendo isso. Daí ela começou a dizer que o problema dos estudantes de hoje é que crêem demais na ciência e se esquecem de cultuar o Criador, e etc.
- Não, mas a ciência não é a última verdade das coisas, é só a religião do jeito que é colocada que não faz muito sentido pra quem vê as coisas de outro modo.
- Mas se os jovens acreditassem mais em Deus, Ele poderia aumentar a capacidade de raciocínio e poderia até ajudar nos estudos também.
Como não ia dar pé mesmo, não rolou argumentação demais. Ouvi o que ela quis dizer e pronto. Dez segundos depois a senhora se despediu delicadamente e desceu as escadas, depois de ter dito que "apesar de baixinha, eu era jeitosinha e tinha um jeito engraçado".
Ao menos não tive que ficar mais de 5 minutos na porta escutando e ficando sem jeito de rebater por parecer rude demais. Fé é fé e ponto, não?

Mas olha, quem sabe domingo eu vá visitar um templo?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

mais outra

E o Porto continua lindo, o frio chegando e a vida, correndo. Desde que me mudei pra casa nova, já deu pra fazer muita coisa, aumentar a lista de contatos e ver que a vida na facul não vai ser tão fácil quanto parece. Continuo com as mesmas disciplinas, e pra além delas estou em Tradução, Cosmologia (afinal de contas, faz parte, né?) e comecei o Francês (for free!). E tô achando ótimo isso. As aulas aqui são BEM bacanas, e tive muito cuidado em escolher as disciplinas (de novo e mais uma vez, depois de ter reformulado a grade TODA). Mas fora isso, é bom andar pelo prédio, respirar o ar friozinho do pátio à noite e olhar a arquitetura da faculdade (que funciona nesse prédio desde 1996). Cada dia descobre-se um aspecto novo, um ângulo novo da coisa, mesmo sendo o mesmo.

A preguiça ultimamente tá aumentando numa proporção inversa à velocidade com que as coisas acontecem por aqui. Ou será que eu que desacelerei de vez? sei lá. Mas enfim, a novidade é que o ninhozinho pode virar de repente uma coisa bem bacana, tipo um "circuito cultural alternativo-caseiro-amador". Já nessa sexta vai ter uma exposição de fotografias de um amigo do Tiago, e a idéia é que haja depois umas noites de fado, música brasileira, enfim, o negócio é ir variando. Não é demais? Cool people, cool stuff... e mais um trago no narguile preparado à base de maçã, menta, água e Jack Daniels. Alguém aceita?
(...)
Mas olha, se não falei disso ainda, deixa eu registrar: as pessoas aqui, apesar de levar a língua Portuguesa pro lado mais literal da coisa, usam-na de uma forma tão mais poética. Imagina dizer que você vai descansar na relva ao invés de deitar na grama. Ou dizer que vai fechar a torneira pra não verter mais água dela. Ou conjugar impecavelmente todos os verbos com os "tus" e os "vós" no devido lugar. É tanto cuidado que chega até a ser justificável a implicância que os lusos têm com a gente, dizendo que fizemos uma espécie de "anomalia" com a língua que eles (orgulhosamente) inventaram. Dá pra tirar um monte de verbete da gaveta, desempoeirar, lustrar e colocar na roda.
(...)
E hoje, na ânsia de achar uns livros que precisava (e de quebra, uns DVDs também, já que videoteca por aqui não tem em cada esquina como no Brasil... eu diria até que é quase um artigo de luxo), fiz uma visita básica à biblioteca do Palácio de Cristal (Biblioteca Municipal Almeida Garret), pra saber o que precisava fazer pra me registrar lá. Bom, antes de chegar, atravessei uma extensão de jardins maravilhosamente arquitetados, e quase fiquei por lá mesmo admirando a paisagem... mesmo que já tivesse ido ao Palácio de Cristal, os jardins são sempre um espetáculo. Mas enfim, entrei no prédio. Parei pra pedir as informações que precisava aproveitei pra conhecer o lugar. Logo na entrada dos audiovisuais, um painel com fotos e a biografia do John Coltrane (!) me chamou a atenção. Abaixo, muitos CDs dele e nos dedos uma coceira louca de colocar tudo e escutar. Mas tinha que deixar isso pra outra vez... Mas enfim, ao lado tinha um outro painel: "Leia o livro e veja o filme". Todos sobre cinema português, com títulos pouco familiares pra mim (ao menos por enquanto). Andando um pouco mais, muita coisa de mitologia, música, cinema. Pra além dos livros, tem um acervo enorme de CDs, que vão de Miles Davis a Clash e Chemical Brothers, sem contar a seção especial dedicada às "músicas do mundo": sons vindos do Marrocos, muitas partes da África, China, e por aí vai. Há também uma parte dedicada à música brasileira (é claro), com os clássicos Tom, Chico, Maria Bethânia e Marisa Monte, mas também com Chico César na parada. Na seção de fado, um imenso de discos, tanto interpretados por vozes másculas quanto pour femmes. Vai me ajudar a conhecer mais de fado do que as músicas da Amália... Logo do lado, uma estante com divisões nem tão rigorosamente taxionomizadas, a tão procurada seção de DVDs. Claro que com nem tantos títulos assim (é bom lembrar de que se trata de uma bliblioteca), mas com poucos e bons, eu diria. Enfim, por último subi, as escadas de volta, e no pavilhão central da biblioteca, o prato principal. Na seção de literatura Portuguesa, um mar de títulos e mais títulos, é claro. São Saramago que me ajude...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Só pra constar



Um adendo-atualização a este post aí de baixo (escrito a dois dias). Essa história de procurar um quarto de novo é meio longa, mas enfim, achei. Fica a uns 15 minutos a pé da casa onde estava e é muito, mas muito bacana. Lá moram duas turcas (que estão em Ramadã por agora...) e o dono da casa, que ao contrário do que costuma acontecer, não é um velhinho rabugento de hábitos intragáveis (tá, exagero). Ele tá estudando também (leia-se: fazendo doutorado em Astrofísica!), e é muito bacana de conversar, é desses caras inteligentes e viajados e sempre tem muita coisa pra dizer. Já com as turcas ainda não deu muito pra estabelecer um contato razoável, além de umas palavras sobre a casa e a faculdade. Mas vamos ver, não é? Mas enfim, e além de o Tiago (é, simples assim) ser um cara bacana, acho que nunca vou ter que chegar em casa e escutar coisas tipo Tony Carreira tocando em alto e bom som (em casa mesmo nunca peguei o pessoal escutando isso, mas é isso o que ouvem. E a mulherada adooooora! No show desse cara só se vê cabeças, vozes e braços de mulheres - usando corte Chitãozinho & Xororó style, sem brincadeira). Mas enfim, me animou bastante a idéia de que vou ter (além da minha pequena coleção) CDs do Kasabian, Blur, Oasis, R.E.M, Radiohead, Queen e coisas do tipo pra ouvir, além de DVDs do Kubrick e do Hitchcock pra assistir. Perfeito, n'est-ce pas?


Na foto: as turcas Ebru (sentada) e Yasemin, ao lado do Tiago, o quase-cientista-maluco... :-)

A anti-monotonia

Aconteceram muitas coisas desde a minha última complaint aqui sobre ciganear e não ciganear cidade afora. Definitivamente, monótona é a última palavra que definiria os meus poucos dias passados aqui. Bom, já fui à Guimarães, "onde Portugal começou". Também já conheço alguns lugares bacaninhas aqui e bem, muito mais gente do que imaginei que fosse conhecer em tão pouco tempo. Além de portugueses, já conheci gente da Escócia, da Polônia, República Tcheca, Espanha, Itália, França, e acreditem, até uns lituanos esta sexta. Haja Inglês pra gastar no meio de uma salada tão grande de culturas como está aqui. Bom, por mais incrível que pareça, vou mesmo e mudar mesmo do lugar onde estou. Achar um lugar ainda mais perto da Letras (e com a perspectiva de se gastar alguns Euros a menos) não está sendo tarefa das mais fáceis. Mas procurando, possivelmente se acha alguma coisa. E logo agora, quando minha companheira de quarto, a Manu, chegou à pouco. Mas enfim, né. Falando na Manu (é assim que chamamos a Emanuelle), a doidinha merece um espaço aqui pra uns comentários. Somos bem diferentes (a começar pela diferença entre Minas e Ceará). Ela é bem aquele estereótipo de brasileira que os gringos têm da gente: muito falante, sempre pra cima e de humor e jeito muito mais caliente que o meu de mineirinha come-quieto. Ela é bacana, mas às vezes ainda sinto um pouco de estranhamento com relação ao jeito de ser de pessoas que normalmente falam mais de cento e tantas palavras por minuto. Enfim, né. Mas ela é gente boa e já tá cumprindo o papel: duas das italianas que moram na casa já sabem até cantar a Garota de Ipanema. E o bacana é que uma delas se empolgou tanto, que ficava cantando a música o dia todo - e a noite toda também (exagero). Além disso, elas já conhecem alguma coisa de João Gilberto e Jorge Ben (entro nessa parte) e até sair pra sambar a gente já foi. Fim de semana passado, por exemplo, enquanto a galera tava se acabando de dança música latina e samba, acho que eu era a única brasileira non-samba dancer (right, Steven?!) presente no lounge. Mas o papo que bati com um “amigo do amigo da amiga” valeu muito a pena e compensou a minha falta de dotes sinestésicos pra dança (e não, muito ao contrário do que vocês estão pensando, não rolou pegação. Isso é algo que não é mesmo muito meu forte, embora seja bom de vez em quando...).


Mas ainda falando no fim de semana pass-passado (retrasado é muito velho), depois de Guimarães, uns amigos e eu fomos pra Foz. O lugar é muito bacana, e a gente ficou caminhando pertinho da praia à tarde. Tava fazendo um friozinho de leve então tava assim tão bom... e depois que cheguei em casa, ainda fui jantar com uma amiga (a Ana, que me hospedou quando cheguei) além dela, do Nuno, do Gustavo e da Tânia, tinha uns amigos deles (o Timo, que é um finlandês que já já conhecia antes, e uns amigos dele tchecos, se me lembro bem). Foi bem bacana, e teve uma hora que uns acadêmicos nas roupas de Harry Potter (acho que fazia parte da praxe isso... essa época de praxe [leia-se trote]. Rola cada coisa! a galera maltrata mesmo os calouros! hahaha) tocaram uma serenata bem afinadinha pra galera sentada no restaurante. Bacana mesmo. E depois disso ainda deu tempo de dar uma voltinha com as meninas da casa onde eu tava ficando (!). :-O Rolou sambinha e tudo!
Mas não tem jeito, me jogo mesmo ao som do bate-estaca à la Chis Foxcat (Paola, meu bem, você que o diga! Ainda não achei ninguém que discoteque como ela aqui!) – estilo, que aliás, "bombou" este sábado depois da festa Erasmus aqui. Dessa vez, a Larissa tava comigo e umas amigas polacas também. Foi super!

(...)

Mas como a vida não é feita só de fins de semana bacaninhas, café com os amigos e conversas com poloneses e lituanos, essa semana finalmente me decidi pelas disciplinas que vou cursar aqui na faculdade e jàa comecei a frequentar as aulas de forma mais consistente, fora de caráter experimental. Como jàa mencionei anteriormente, é tanta coisa que dá vontade de fazer tudo. Ah, se meu tempo desse... como em todo lugar, aqui há professores excelentes (e outros nem tanto) e o ambiente da faculdade de Letras é ótimo. Além de pessoas de vários países se cruzando pelos corredores, ainda tem a biblioteca (cara, e que biblioteca), que é a alma do prédio. Além dos mais de quatro andares que a compõem, tem uma espécie de reading lounge no último piso do subsolo, com sofazinhos, lâmpadas e mesinhas. Parece mais um café que um espaço de leitura. E assim, tem uma parte da hemeroteca só com jornais antigos do Porto. Ainda vou separar um tempo especial pra ficar só lá olhando a velharia mais bacana de tudo o que tem lá. Vi umas edições de jornais com mais de cem anos, coisa de 1903 pra lá. As notícias, os classificados, as anedotas e novelas de folhetim com aquele Português tão velho quanto as barbas de D. Pedro II ajudam a entender um pouco mais sobre a história dos nossos periódicos. Já os de hoje, são todos em formato de tablóide, e além de tradicionais como O Público (que só não fechou ainda porque seria um escândalo para os portugueses. Basta imaginar se a Folha ou o Globo um dia acabassem), têm uns gratuitos como o Metro e o Distak, que, muito ao contrário dos nossos “espreme-que-sai-sangue-e-mulher-pelada”, têm notícias relevantes, embora com a superficialidade de um jornal com pouco espaço. Mas é melhor do que ter “gostosonas na page three à The Sun e metade do jornal ocupado com milhões de fofocas dos famosos. E tudo o que eles sabiam falar aqui era sobre o caso Maddie (a menina inglesa Madeleine que desapareceu mo Algarve enquanto passava as férias com os pais). Coisas do tipo “O que a Polícia sabe sobre a mãe de Maddie”, “Caso Maddie sem solução”, “Mais uma pista para o caso Maddie” até muito pouco tempo lotavam os jornais aqui (quem sabe um cineasta português não faça um filme sobre o caso?!). Outro nas últimas rodas de papo era o treinador Português José Mourinho, “The Special One” que acabou de sair do Chelsea por mais de 25 milhões de Euros. Ele é o Beckham de Portugal em forma de técnico...

Já na TV (depois preciso dedicar um post só pra ela!), o que mais se vê são programas de auditório, e entretenimento em todas as formas e tipos nos canais “mainstream”. Sílvio Santos aqui seria uma figura ainda mais lendária do que ele já é no Brasil. Hoje fiquei sabendo que a TV só chegou em Portugal na década de 80 (o que explicaria MUITA coisa, se fosse assim de fato)*, e assim, o que a galera vê mesmo são coisas tipo Praça da Alegria (que passa todas as manhãs), muuuuuuuuuuitas séries americanas (como A Anatomia de Grey e o óbvio ululante, Friends), filmes (o bom é que eles NUNCA são dublados), e claro, novelas brasileiras! Bebel, Tais, Paula e Olavo são celebridades aqui. E como a Paraíso Tropical aqui não acabou ainda, os murmúrios giram todos em torno de “quem matou a Tais”. Depois de oito finais com assassinos diferentes gravados pela CGP, tenho certeza de que não vai ser o Olavo o “the one” (assunto de interesse nacional, como é que eu não ia comentar?!).

(...)

Ah, e um comentário sobre um dos últimos vídeos que assisti no Youtube. Não, não posso acreditar que depois daquele bando de pela-saco da direita da OAB paulista ficaram “Cansados” (porque o avião do presidente é mais seguro que o deles e o poder de compra diminui porque não dá pra comprar a Mercedes do ano, talvez), os nossos “faróis da modernidade” ainda vêm com mais essa. Inacreditável. Lula e Collor? Mas claro, eles devem ter um pacto com o diabo, só pode, pra se parecerem tanto... tanta semelhança nos atos de governo seria humanamente impossível, seria algo plausível somente nos tempos da ditadura militar. Meu Deus! Nesse universo de madame que nem sabe quanto é um salário mínimo e veneram Diogo Mainardi e colocam Arnaldo Jabor num pedestal, não tinha muito o que se esperar além disso, certo?


* a história não foi exatamente bem assim... injustiça deixar isso passar em branco!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Eu e essa vocação pra cigana que nem eu mesma sabia que tinha no DNA... putaqueopariu!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

C'est la vie!

Rua do Breiner, "onde estou a fazer morada por cá"

Nessa mais de uma semana que não posto nada aqui, aconteceram MUITAS coisas que nem caberiam na página se eu fosse contá-las todas. Sim, depois da tal via-crucis consegui achar um quartinho super bacana, mas é pena que eu não contava com a astúcia da minha companheira de quarto de não vir pra cá assim que chegasse porque claro - essa é uma informação crucial - a faculdade de Psicologia fica a "alguns quilômetros" do centro da cidade (que mesmo assim é perto, dadas as proporções da cidade aqui). Mas enfim, isso está pra ser arranjado e eu estou com a cabeça muito mais fria do que normalmente ficaria se estivesse em outras épocas. Além do que, a dona da casa me acha uma "fofinha" e isso com certeza vai me ajudar a ir ficando na casa enquanto minha outra roomate não chega. E também, depois de problemas com banco, horários, milhões de vezes perdidas na cidade (em que as ruas não são paralelas, o que dificulta um pouco o senso de espaço pra quem já não tem muito), já era hora de respirar um pouco e sentar pra escrever.

Cabeça fria, aliás, é uma coisa que essa cidade está me sabendo fazer bom exercício. A paciência é uma das virtudes que se parecem mais necessárias (necessárias não, cruciais) pra minha sobrevivência aqui. Os horários da faculdade, por exemplo, são os mais loucos que eu já poderia ter imaginado na vida. Alguém aí já pensou em frequentar uma disciplina que acontecesse às segundas-feiras de manhã (leia-se 10h30 da manhã, que é quando a vida começa aqui) e depois às sextas-feiras às 15h30 ou 17h30? Sem contar as aulas que acontecem às 13h30 ou outras de 8h30 da manhã. Mas pra compensar, as matérias daqui são um verdadeiro sonho de consumo. Imagina você fazer Jornalismo e poder frequentar aulas nos cursos de História da Arte, Filosofia, Línguas e Culturas, Relações Internacionais e coisas do tipo. Imagine fazer disciplinas como esta, esta ou esta. Ou frequentar um dos cursos livres como este. Levando por esse lado, não vejo problema nenhum com os horários! Ah, e sem contar que o pessoal aqui parece meio freak (claro, recebem gente de tudo enquanto é canto do mundo) e fazem umas ofertas de cursos nas línguas mais esdrúxulas que você imaginar (as mais recente que vi foram Romeno e Neerlandês. Claro! Como é que eu nunca tinha pensado em aprender Romeno antes?! Como consegui viver até agora sem falar nada de Árabe?).

Mas no mais, a cidade é linda e sabe conjugar muito bem o antigo e o moderno. Ao mesmo tempo em que se tem um sistema de transporte como o Metro do Porto (excelente se comparado aos nossos metrôs!), há também costumes antigos como o do traje acadêmico (os chapeuzinhos são em ocasião da formatura, na univ. do Minho) que surgiu há séculos e até hoje alguns estudantes usam. É bonito, mas à primeira vista parece um tanto antiquado. E como eu já disse, sem dúvida esse é o lugar com mais gente de 60 e tantos anos que já vi na vida. Há velhinhos por todos os lados: nas praças, nas calçadas, nos autocarros, cafés. Mas também tem uma quantidade de estudantes que é impressionante na cidade. Brasileiros, então, nem se fala! Quando cheguei aqui tive a impressão de que no Porto havia mais cariocas do que o próprio Rio de Janeiro, porque todos os brasileiros que conhecia até então, por estranha coincidência, eram cariocas. Mas há uma mistura de gaúchos, mineiros, pernambucanos e catarinas que dá um resultado bem bacana no final. E assim, o bacana é que tem MUITO Erasmus (estudantes vindos de outras partes da Europa) por aqui. Só na casa em que estou, vivo com duas italianas e ontem recebi a notícia de que mais duas estão pra chegar. Tem uma turca com quem eu talvez vá dividir meu quartinho, e acho ótimo que não seja outra italiana. Não que sejam chatos, mas diversidade é sempre bom. É muito fácil atravessar a rua e ver poloneses, espanhóis, franceses, alemães, enfim, gente dos mais variados lugares passeando, farreando e estudando por aqui. Massa demais!
E assim, voltando aos acontecimentos, já deu tempo de ir ao Parque da Cidade, uma exposição super bacana do Harald K. (ô nomezinho complicado!) e do François Dufrène (bacaaaaaana!) na Fundação Serralves. A Ribeira é maravilhosa, com aquelas casinhas todas e o monte de cafés que agitam o lugar. Bom demais mesmo. Ah, e os portugueses estão me saindo melhores que a encomenda. Aquela idéia do "sr. Juaquiiiim" ou do "dom Manuellll" (com um L bem enrolado) que só entendem as palavras que a gente fala no sentido literal e não conseguem ver um palmo à frente do nariz não são de todo verdade. Verdade sim, que eles lêem as coisas BEM mais literalmente que nós, mas todos os portugueses que conheci até agora tem um senso de humor mais refinado, são muito bem articulados e bem agradáveis. Pude atestar isso na terça, dia cheio (e como!) mas que ainda assim me deu tempo de conversar com um português bem fixe, o Ricardo, e pude atestar bem isso da natureza simpática dos portugas. Na terça também (finalmente!! já não aguentava mais!) assisti pela primeira vez um filme inteiro num cinema em Gaia (pertinho do Porto). A película foi Os Fantasmas de Goya, e eu nem vou me estender muito porque é capaz de a página do blog nem carregar se a coisa fica muito maior do que já está. Mas o Javier Bardem e a Natalie Portman estavam ÓTIMOS!! Mais por ela que por ele, mas foi um alívio ver um filminho com companhias agradáveis como foram as minhas esse dia.

E pra fechar, ontem assisti uma peça de teatro de rua MUITO BACANA na parte baixa da cidade. Era um teatro de bonecos muito bem articulado e que foi uma viagem, literalmente. A encenação foi feita por um só ator, que fazia todas as vozes e efeitos sonoros (com apitos uma gaita e muito fôlego) do pequeno cenário (uma mesa com areia, cercada por luminárias grandes e com personagens feitos de penas, pano, pregadores de roupa, um carrinho e uma vaquinha de brinquedo, e claro, bonecos, naviozinhos e toda uma pequena parafernália criativa), que era passagem direta pra memórias da infância. Tudo bem que o cara era francês e eu, cá pra nós, de francês não parlê nien (ô falta de cultura, hein?!), e fiquei lá só vendo as encenações e fazendo um guessing game com o que ele talvez queria dizer, mas que era impossível não sacar nada porque a expressividade do ator lá tava uma arte. Mas os detalhezinhos, as piadinhas com os italianos (que só vim a saber depois da peça), não saquei nada. Mas muito bem, quem sabe eu "desista do Romeno" e vá aprender algum Francês?!

domingo, 9 de setembro de 2007

Sobre via crucis, picheleiros e castanholas

E finalmente, depois de uma via-crucis bem longa (e puta cansativa) pela cidade, consegui achar um quarto. É bem perto da faculdade e da parte mais central do Porto e é um lugar que vale a pena pela qualidade. Mas por esta semana estou ficando na casa da Ana, que a propósito é jornalista e tem um senso de humor que, julgo, é um pouco incomum para os portugueses (ainda com aquela idéia pré-concebida sobre o humor deles de antes de vir pra cá, mas com o tempo descobre-se isso). Cada conversa trivial acaba sendo fonte de mais verbetes novos e diferentes do nosso Português. Já deu pra sacar uma centena deles nessa semana que estou aqui. Daqui a pouco saio da cidade apetecida por comer um chouriço mas talvez precise pedir à minha irmã que vá ao talho por mim (mas isso não antes de dizer a ela pra se lembrar de colocar a carne no frigorífico da cozinha), porque estou no meio de uma conversa muito gira com o picheleiro que foi olhar umas instalações da cozinha e não posso deixá-lo lá a monologar, por mais chato que seja falar da vida de como os queques da zona sul não o pagam bem por seu trabalho.
(...)
Mas enfim, a cidade tem aquele quê de provinciana, apesar de grande, e é o lugar com mais gente de cabelos brancos por metro quadrado que já vi. As lojas de doces e quitutes são de dar (muita) água na boca e gostei muito mais da fruta do figo puro do que se ele estivesse em compota, como a gente come na terrinha. Já meio que começo a me acostumar com os jeitos e trejeitos desse lugar e não espero que me adapte totalmente, mas que pelo menos consiga escrever como o pessoal daqui porque isso com certeza me será BEM útil.
(...)
Hoje visitei uma feira medieval muito interessante (dos Hospitalários no Caminho de Santiago) que acontece anualmente aqui no Porto (Matosinhos, na verdade, que é Grande Porto) no Mosteiro de Leça do Bailio, que é um castelo lindo e faz com que a gente se sinta realmente na Europa. A atmosfera da noite fresca ajudou ainda mais a criar o clima da coisa e foi tudo muito bacana. Logo de cara, o que chamou mais atenção foi o som das gaitas de fole, já à porta do descampado que dá para o castelo. E lá dentro havia um sem-número de barracas, cujos vendedores estavam vestidos à caráter (eles e mais uma porção de atores e suporters do evento). Lá eles vendiam de tudo: desde pasteizinhos de Belém e queijo de cabra a leitura de cartas de tarô, passando pelas barracas de sapatos e gorros medievais, ervas de chá (com as respectivas utilidades indicadas), artesanato da época, gaiolas, enfim, uma porção de coisas (até narguile pra vender tinha). Além disso, os falcões, as encenações de teatro - e principalmente a música (com direito à castanhola, charamela, tamboril, corneto e tudo mais) - completavam o cenário super interessante, capaz de apaixonar qualquer turista que se preze.
Eu ADOREI o negócio lá. Foi bom demais da conta!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

First Impressions on Earth


E aqui estou eu, "curtindo" o calor (sim, calor digno de BH nos seus piores dias) dessa cidade curiosa que é o Porto. Depois de uma viagem longa e excessivamente cansativa - além do trajeto BH-Rio by bus, das filas no Galeão e de toda a espera pra decolar - finalmente me aportei em terras lusitanas. Mas a viagem, mesmo longa e cansativa, teve seus pontos a favor, claro. Um deles são as impagáveis traduções de filmes pra Português lusitano. Imagine que eu vim assistindo uns filminhos lá e tipo, tava o Homem Aranha versão emo-gostosão no ar. Muito bem, parei pra ver e algumas cenas depois o Tobey Maguire vira pra Kirsten Dunst e diz: "you were great", traduzido por "tu estiveste formidável" (!), e outras coisas do mesmo naipe. A televisãozinha do plane foi o que me ajudou a passar algumas horas, as que não estava cochilando (mal) ou lendo alguma coisa. Mas cheguei.


Cheguei aqui ontem, e bem, já andei uma partezinha da cidade que deu pra ter uma noção de como são as coisas aqui. Bom, a cidade é grande, embora as distâncias sejam menores, e há muito dessa harmonização do velho com o novo. Na rotunda da Boavista, por exemplo (a praça mais legal que vi até agora) tem uma escultura enorme do herói português Mouzinho de Albuquerque e data do século XIX, e logo mais à frente tem a Casa da Música, que é bem mais moderna e arrojada. As duas vistas juntas são algo muito bacana de se ver e têm uma harmonia linda. Adorei! E também tem a praça da reitoria que é um espetáculo. É a praça Gomes Teixeira , mais conhecida como praça dos Leões, e é lá que fica o café Piolho (nome estranho pra um café tão famoso, né?) que ainda não pude conhecer por dentro. Mas essa praça num conjunto é linda demais. Tudo nesse lugar (centro histórico do Porto) lembra Ouro Preto. Uma das ruas que desemboca nessa praça, a Travessa de Cedofeita, é o retrato -menos íngreme- das ladeiras ouropretanas que eu gosto tanto. Os prédios que vi da Universidade até agora são todos lindos. O da reitoria tem um museu conjugado e por dentro me lembrou o museu da Inconfidência, na praça Tiradentes. As pessoas, além do sotaque engraçadíssimo (diga-se de passagem que tive vontade de rachar de rir no meio do saguão de um supermercado ao ouvir um anúncio publicitário da rede no alto- falante. Sensacional!), são muito solícitas e andam arrumadinhas (talvez isso eu também aprenda antes de voltar).


Por enquanto estou na casa de uma amiga que conheci por um site de mochileiros e ainda estou à procura de uma "morada definitiva", o que não acho que vai ser muito difícil de achar. O calor tá de matar - hoje os termômetros registraram 37 graus - mas em compensação, uma garrafinha de água mineral, dessas de 500 ml, me custou 0.09 euros hoje. Nem acreditei quando vi. E sim, tem vinho do Porto aqui por menos de 4 euros a garrafa. É, rapaz... achando que é brincadeira?! Mas a única coisa que tomei foi água e suco, que aqui eles chamam de sumo. Mas, falando em isso que eles chamam daquilo, vou fazer posts posteriormente só sobre isso. É cada coisa que dava pra fazer um dicionário! hahahahaha


Cenas dos próximos capítulos virão. Minha "insônia" já tá indo embora.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Música teatral


A noite de sábado foi, como diria meu querido Edmundo Novaes, SEN-SA-CI-O-NAL. Primeiro, porque finalmente cumpri minha promessa de ir a uma das Noites Alto Falante, incrivel e milagrosamente sem imprevisto nenhum que me barrasse. De novo, SEN-SA-CI-O-NAL!

Segundo, o processo correu melhor do que o previsto e terceiro, porque as bandas que tocaram na Noite deram um show no sentido literal, figurado e todos os outros. Os convidados foram os cariocas do Manacá e os nossos debochados conterrâneos do Falcatrua. A galera (tanto das bandas quanto da organização) tava inspirada mesmo, e parece que a onda teatral circense respirada em BH nos últimos tempos - trazida pelo IMPETO (Invasão Mundial de Palhaços E Todos os Outros) e a passagem da Cia. Clowns de Shakespeare - também teve sua palhinha no palco da Cervejaria Official.

O Manacá, surpresa total pra mim, abriu a noite com seu som que contrastava o peso na guitarra, bateria e baixo com os toques de música nordestina e folclórica, presente em todas as composições. Aliás, esse é o grande diferencial da banda, que mistura doses de Cordel do Fogo Encantado a Queens of Stone Age e Led Zeppelin, e nada de gringuice chula como a de bandas neo-emo que disparam nas rádios em todos os cantos do Brasil.

Fui apresentada oficialmente ao Manacá neste show, mas qual não foi maior a minha surpresa ao ver a vocalista, Letícia Persiles, com um visual que levava a crer que ela tinha recém-saído de uma ‘aula de balé para meninas más’, com uma fuseau e saia de tule vermelhas, tatuagem no braço e uma blusa preta, além de maquiagem pesada nos olhos. Tanto o baixista, o baterista como o guitarrista tinham um look bem mais ‘careta’, como todos nós da platéia. A inspiração teatral da banda já se fez notar logo na nota de abertura, com músicas que lembravam uma harmonia de leve toque circense no fundo, e principalmente, as caras e bocas e rodopios de Missy Persiles. Ela era meio que um misto entre clown, dançarina de cabaré, atriz - e sim, bem lembrado - cantora. Os movimentos de gueixa da moça, contrastados com o frenesi do guitarrista foram elementos que, junto ao talento da banda, contribuíram para uma performance apaixonante – que se confirmou com o cover que fizeram do Canto de Ossanha. E ponto final, saem do palco. E quando achei que o Manacá ia fechar o show com a música angelical de Baden e Vinícius, o quarteto volta aos seus postos e fazem um ‘mergulho no inferno’ com a música Diabo.
Surpresa muito boa a desses cariocas.

Com letras cáusticas e performance igualmente teatral, a apresentação do Falcatrua confirmou a verve circense da Noite, fechando a festa de uma forma memorável. Já conhecia alguma coisa da banda, mas ainda não tinha visto uma apresentação deles ao vivo. E o negócio é bão dimais da conta! Além das tradicionais vestes compartilhadas por todos os membros - macacões quase primos desses de operários em obras da Cemig e da Copasa - a trupe do caricato André Miglio fez a galera mexer as cadeiras com seu ritmo dançante (e pensante). O jeito que as letras são cantadas/recitadas, junto às expressões, olhos esbugalhados e alterações cômicas no tom de voz fez com que a sensação fosse quase como a de ver um teatro musicado, bem bacana. Sabe aqueles chefs de cozinha que fazem combinações meio esdrúxulas do tipo ‘formiga, tomate seco e calda de chocolate’ numa mesma receita, mas que no fim a gororoba é um dos melhores pratos que você já experimentou? Pois o ensopado dos caras provou que eles sabem usar muito bem os ingredientes da vasta cozinha musical. Desde Pau de Arara Espacial e críticas ao panorama social, ganância e desrespeito ao espaço alheio em terras tupiniquins a covers de Beatles, Belchior e Gonzaguinha, só tenho a dizer que o conjunto da obra foi um espetáculo. A salada dos caras mostrou que eles mais que mereceram ir ao Jambolada este ano.


Ah, como vou sentir falta disso quando estiver nas terras de Cabral!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Cool

Hoje, jogando conversa fora com minha irmã, foi inevitável não lembrar desse filme quando o assunto 'cinema' veio pra roda. Se o trailer aí já é cool, imagina o filme. Quando a pessoa consegue fazer uma coisa legal mesmo nem precisa ter uma história mirabolante, e esse aí do De Palma é um exemplo e tanto disso. Vê lá e comprova se eu não falo a verdade.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Um adendo

Hoje é dia internacional do Rock. O assunto dispensa comentários, mas vale a pena dar uma lidinha aqui só pra saber mais sobre a data. É, e pelo que parece, o diabo não é mesmo pai do gênero e nem todo roqueiro precisa ser fã incondicional de Gene Simmons pra mostrar que gosta de rock 'de verdade', 'de macho' ou qualquer coisa assim.
Mas também não precisa apelar pra Nickelback e dizer que gosta de música também, né?

Pausa para Poe


Porque há de se reconhecer quando uma pessoa faz algo extremamente bem-feito que nem esse poema aqui. É meio longo para um blog, mas vale a pena o registro - ainda mais levando-se em conta de que tratamos do assunto numa sexta-feira 13, não é mesmo?

Anyways, este é o original do Poe, mas tem uma versão traduzida pelo Fernando Pessoa aqui. E tem um videozinho do Tim Burton que assisti há mais tempo (autêntica Pérola do Youtube - foi um dos primeiros curtas do cara), que lembra muito a métrica e o ritmo do poema aí embaixo. Pra quem gosta do Burton e das esquisitices mórbidas dele, pra quem gosta de Poe ou congêneres:

Enjoy!

The Raven

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,As of someone gently rapping, rapping at my chamber door." 'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door;
Only this, and nothing more."

Ah, distinctly I remember, it was in the bleak December,And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.Eagerly I wished the morrow; vainly I had sought to borrowFrom my books surcease of sorrow, sorrow for the lost Lenore,.For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore,
Nameless here forevermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtainThrilled me---filled me with fantastic terrors never felt before;So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating," 'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door,Some late visitor entreating entrance at my chamber door.
This it is, and nothing more."

Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,"Sir," said I, "or madam, truly your forgiveness I implore;But the fact is, I was napping, and so gently you came rapping,And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,That I scarce was sure I heard you." Here I opened wide the door;---
Darkness there, and nothing more.

Deep into the darkness peering, long I stood there, wondering, fearingDoubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,And the only word there spoken was the whispered word,Lenore?, This I whispered, and an echo murmured back the word,
"Lenore!" Merely this, and nothing more.

Back into the chamber turning, all my soul within me burning,Soon again I heard a tapping, something louder than before,"Surely," said I, "surely, that is something at my window lattice.Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore.Let my heart be still a moment, and this mystery explore.
" 'Tis the wind, and nothing more."

Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,In there stepped a stately raven, of the saintly days of yore.Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;But with mien of lord or lady, perched above my chamber door.Perched upon a bust of Pallas, just above my chamber door,
Perched, and sat, and nothing more.

Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,By the grave and stern decorum of the countenance it wore,"Though thy crest be shorn and shaven thou," I said, "art sure no craven,Ghastly, grim, and ancient raven, wandering from the nightly shore.Tell me what the lordly name is on the Night's Plutonian shore."

Quoth the raven, "Nevermore."

Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,Though its answer little meaning, little relevancy bore;For we cannot help agreeing that no living human beingEver yet was blessed with seeing bird above his chamber door,Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,
With such name as "Nevermore."

But the raven, sitting lonely on that placid bust, spoke onlyThat one word, as if his soul in that one word he did outpour.Nothing further then he uttered; not a feather then he fluttered;Till I scarcely more than muttered,"Other friends have flown before;On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before."

Then the bird said,"Nevermore."

Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,"Doubtless," said I, "what it utters is its only stock and store,Caught from some unhappy master, whom unmerciful disasterFollowed fast and followed faster, till his songs one burden bore,---Till the dirges of his hope that melancholy burden bore
Of "Never---nevermore."

But the raven still beguiling all my fancy into smiling,Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;,Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linkingFancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore,What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking, "Nevermore."

Thus I sat engaged in guessing, but no syllable expressingTo the fowl, whose fiery eyes now burned into my bosom's core;This and more I sat divining, with my head at ease recliningOn the cushion's velvet lining that the lamplight gloated o'er,But whose velvet violet lining with the lamplight gloating o'er
She shall press, ah, nevermore!

Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censerSwung by seraphim whose footfalls tinkled on the tufted floor."Wretch," I cried, "thy God hath lent thee -- by these angels he hathSent thee respite---respite and nepenthe from thy memories of Lenore!Quaff, O quaff this kind nepenthe, and forget this lost Lenore!"

Quoth the raven, "Nevermore!"

"Prophet!" said I, "thing of evil!--prophet still, if bird or devil!Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,Desolate, yet all undaunted, on this desert land enchanted--On this home by horror haunted--tell me truly, I implore:Is there--is there balm in Gilead?--tell me--tell me I implore!"

Quoth the raven, "Nevermore."

"Prophet!" said I, "thing of evil--prophet still, if bird or devil!By that heaven that bends above us--by that God we both adore--Tell this soul with sorrow laden, if, within the distant Aidenn,It shall clasp a sainted maiden, whom the angels name Lenore---Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels name Lenore?

Quoth the raven, "Nevermore."

"Be that word our sign of parting, bird or fiend!" I shrieked, upstarting--"Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!Leave no black plume as a token of that lie thy soul spoken!Leave my loneliness unbroken! -- quit the bust above my door!Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!"

Quoth the raven, "Nevermore."

And the raven, never flitting, still is sitting, still is sittingOn the pallid bust of Pallas just above my chamber door;And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming.And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted--- nevermore!

P.S.: o desenho de abertura é uma ilustração que Gustave Doré fez para uma edição do poema, publicada em 1884.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Ok, então este já é o terceiro draft de hoje. Sem título e sem razão de ser, como os outros dois que escrevi. Há dias não consigo dormir direito e hoje me vejo obrigada a 'trabalhar' - escrever, postar aqui, as you like it - pra pelo menos aliviar um pouco a carga de ansiedade que chega por todos os lados. Pressão de dentro, de fora, planos, frustrações, sei lá. Tudo parece meio que um misto de olhares para trás e para frente (frontwards, backwards e awkwards, e principalmente esse último tipo aí), oscilando entre o extremo otimismo e um medo estranho, meio difícil de descrever. E ainda por cima, somando-se às incertezas que tenho que enfrentar, o 'destino' - poder da mente? acaso? o 'Segredo'? (hahaha) - parece que resolve me bagunçar a vida mais um pouco com essas peças que ele costuma pregar nos mais desatentos. Mas... c'est la vie!
Então deixa, antes que este post vire mais um draft na minha lixeira. Já gastei tempo demais aqui.

terça-feira, 3 de julho de 2007

é NóIs nA aTivA Di noVo!! Aeeee!





Que personagem do Seinfeld é você?
Trazido a você por Soul Fire



Na boa, tinha que registrar isso aí em cima, que vi no blog de um coleguinha meu que é tudo de supercool, além de nerd- inevitavelmente. Tenho que concordar, que tudo que tiver de louco ou de completamente louco tem realmente alguma coisa a ver comigo, já estou começando até a acreditar nisso. E pra falar a verdade, nem vejo Seinfield, Desperate Housewives, nem nenhuma dessas séries-febre do tipo. A única que realmente estou a fim de ver é Hero e a última que vi foi The O.C., e mesmo assim porque apareceram uns DVDs desse povo aqui em casa e ainda nem lembrei de pedir pra minha irmã. Não que não tenha tempo (ah, tempo pra sustentar vício a gente sempre arruma!), mas televisão é um negócio que realmente me dói a cabeça quando fico exposta mais que 20 minutos (incrível eu conseguir assistir um filme todo sem ter dor de cabeça) .

Mas enfim, nem tanto às séries, nem tanto aos personagens. Ver esses testezinhos toscos de Internet meio que me lembrou da minha adolescência, sei lá. Nunca ouvi falar de ninguém que nunca não tenha feito pelo menos UM na vida. Isso faz parte da sanidade mental de qualquer sujeito que se preze na sociedade virtual. Pra falar a verdade, adoro esses testes tosquinhos. E foda-se o ceticismo. Dá pra descobrir cada coisa fazendo essas baboseiras na Internet que nem duvido que tenha gente trocando sessão de análise por livro de auto-ajuda de rodapé de teste por aí.

Mas enfim, de novo... gastar tempo fazendo teste de Internet é terapia. Até me lembra de quando eu não tinha tanta tara por trabalho (ou não fingia ter tanta, quem sabe). Mas o negócio é que chega um ponto em que esse papo de "meu nome é trabalho" acaba enchendo o saco. Haja visto os séculos que deixei meu bloguezinho aqui, esquálido, sozinho, entregue às baratas virtuais. Imagina, achar que blogar é diversão. A proposta era fazer desse negocinho aqui meio como um vaso sanitário mental aberto pra quem tiver nariz (leia-se paciência) pra cheirar. E bem, depois de quase decretar a morte do meu brinquedinho aqui, eis que algumas palavras começam a chover na tela. Bom sinal. Já enjoei de ter hiato criativo (coisa de que já me cansei de lamuriar por aqui), e ao mesmo tempo, esses quase dois meses que deixei de blogar podiam render um livro. Certamente, assunto pra postar teve. Mas a desculpa é sempre a mesma - o tempo e a falta dele...

E só pra deixar a "audiência" mais tranquila, prometo que amanhã começo uma dieta, prometo escutar menos música barulhenta daqui pra frente e prometo achar um namorado que me aguente nos próximos dois meses. E desprometo que vou blogar com mais frequência, porque se eu conseguir cumprir com essas promessas aí... cara, é porque realmente milagres não só existem como eu vou até começar a blogar em miguxês! Me aguardemmm! AtÉ iNtErcaLar LeTraS MaiÚscULas e mInúsCulAS qUe nEm EmO eU Já tô APrenDenDo... fAlTa sÓ dEsaPrenDEr o PorTuGuês! (o que não é muito difícil quando se fica por mais de uma hora escrafunchando Orkuts da turminha dos 14 anos (mas sem preconceitO!)... ;-)

sábado, 5 de maio de 2007

Momento Ano Novo

Ou "Momento 05 de Maio", ou "Mais Uma Vez Drummond"

Um registro: agora, menos de duas horas após o raiar de mais um único 05 de maio que se inicia, me veio um poeminha do Drummond na lembrança e que vale mesmo a pena lembrar e relembrar - a tal "Receita de Ano Novo". Pensando nisso, não é clichê dizer que completar mais um ano de vida é começar um ano novo, mas não de novo. Aniversários são legais porque lembram que a gente fica mais velho a cada ano que se passa, mas é uma pena que sejam só uma vez no ano, e não todo dia. Porque aí a gente não se lembra que cada dia faz o outro aniversário chegar mais perto e de que o acúmulo dos dias formam as semanas, os meses, os anos. E aí a gente se esquece de aproveitar os dias e ao olhar pra trás no completar de mais um ano, vê que a soma de cada uma dessas pequenas unidades de 24 horas viraram uma montanha 365 vezes maior que no ano anterior. Se bem vividas, pois bem, mas se nem tanto, todo dia é 1° de janeiro. Ou 05 de maio. Por isso vale lembrar o que Drummond bem disse na última estrofe do poeminha:
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Feliz Ano Novo!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Na roda-viva do mundo


Essa aqui foi pra minha última aula de Jornalismo Opinativo. Achei tão bacaninha que resolvi postar

Quantas vezes você parou para ver como o sol estava brilhando no céu azul de hoje? Ou, a quantas pessoas deu um "bom-dia!" com um sorriso no rosto? Ou ainda, quantos filmes você assistiu nas últimas três semanas? Não estranhe e nem se envergonhe se sua resposta for "nenhuma das alternativas acima" para as coisas que tenha feito. Afinal, quem vos fala aqui também é uma vítima dessa doença moderna que é a pressa. E isso vai muito além de ficar trancafiado em um escritório iluminado com lâmpadas fluorescentes, passar pelos colegas dizendo bom-dia com um copo de café na mão (numa velocidade incrível para sua mesa, porque o dia começa e é preciso trabalhar!) ou adiar aquela sessão de cinema com os amigos por meses.

A pressa é um problema de saúde pública. É uma falha na constituição da cultura do mundo moderno, que premia quem consegue produzir cada vez mais em um espaço de tempo cada vez menor. A lógica da divisão social do trabalho tomou conta da vida familiar e individual do homem moderno, gerando o estresse em todas as áreas. Todos têm pressa, mas é preciso ter sempre em mente que ninguém é insubstituível. Se alguém, visando maximizar a sua produção, sacrifica sua saúde mental e emocional a ponto de sofrer da "síndrome de burn-out", pode se considerar quase no fim da linha. Diretamente relacionada à pressa e ao estresse profissional, esta síndrome é "definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. É caracterizada pela ausência de motivação ou desinteresse; mal estar interno ou insatisfação ocupacional que parece prejudicar, em maior ou menor grau, a atuação profissional de alguma categoria ou grupo profissional", de acordo com o médico psiquiatra e ex-professor da faculdade de Medicina da PUC de Campinas, Geraldo José Ballone.

Para o médico, o "desacelerar" é uma escolha individual que deve ser priorizada para se evitar conseqüências mais sérias, como a depressão: "de qualquer forma, a pessoa que vive o estresse deve ter sempre em mente uma meta a ser conquistada e que diga respeito às mudanças de hábitos para uma vida mais sadia". Hoje já há movimentos que privilegiam o ritmo "slow" de ser. Em oposição à cultura dos fast-foods celebrada por McDonalds e similares, os italianos criaram o Slow Food e o Città Slow, cujo mote é mais vagarosidade no comer e no viver. Há também o japonês Clube da Preguiça e até uma conferência anual da Sociedade para a Desaceleração do Tempo, que acontece na cidade austríaca de Wagrain. Lá, a palavra de ordem é a alemã eigenzeit (tempo próprio).

Aderir a um destes "programas" adaptando-os para a forma como se vive no Brasil seria o ideal, apesar de que isso nem sempre é possível, porque, como sabemos, a história por aqui é um pouco diferente. Mas o professor Ballone ainda deixa uma dica (principalmente para quem não pode ir à Itália ou aos Alpes Suíços para participar dos slow movements): nada melhor para se desestressar do que fazer uma atividade física. "Exercício acaba por diminuir as tensões emocionais acumuladas, melhora a auto-estima e afasta o pensamento obsessivo da pessoa para as questões vivenciais estressoras". Mas é importante que cada pessoa faça seu eigenzeit, senão a academia pode se tornar mais um fator de estresse (...e ter o efeito contrário!).

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Se conselho fosse bom...

Dar uma de irresponsável e tirar onda de blasé parece muito bonito em filme de artista pop cheiradão, mas simplesmente não funciona na vida real. Mesmo. Então, crianças, não vão tentar fazer isso em casa e muito menos na faculdade, hein? Melhor me escutar porque, acreditem, eu SEI realmente do que estou falando. E olha, o gostinho não é muito legal não.

domingo, 15 de abril de 2007

Eu, embasbacada

Fiquei encabulada com uns pirralhim de 13,14 anos tocando ontem. Tem gente que parece que já nasce com rock na veia e sai brincando de dar palhetada ao invés de brincar de carrinho. Quer dizer, de carrinho, não. Jogando Tony Hawk e surfando na net - porque carrinho é do pessoal da minha época. (!)
Ah, e detalhe: não é só o negócio de fazer arranjo bacaninha não. Tipo, a presença de palco tava de tirar o chapéu, coisa de adulto mesmo. Além do mais, convenhamos: o que vai ter de gatinha correndo atrás quando esse pessoal tiver uns 17, 18...
O sábado foi bacana também porque, mesmo apesar de eu não ter ido no MIH e tampouco no Sociedad na sexta, deu pra sair um pouco da deprê que dá ficar só mexendo com projeto de monografia e essas cositas más. Rock é catarse. O povo (e estanhamente eu) fica até mais bacaño (!) depois de uma ou duas músicas.

sábado, 7 de abril de 2007

Little drops II


Engraçado esse negócio de blog. Acho que a idéia inicial é de que o negócio fosse um diário virtual, certo? Pois é, mas quem já teve diário ‘de verdade’ sabe e tem que concordar comigo: só a remota idéia de que um irmãozinho pentelho estivesse mexericando no seu diário querido era o bastante pra dar lugar a alguns pensamentos meio sórdidos sobre o destino do tal pentelhinho, não? Tá, isso é exagero, mas não dava vontade de bater em quem estivesse com o seu diário na mão? Era pra ser segredo... mas olha como a coisa muda com esse negócio de virtual. Hoje, se você tem um blog, quer mesmo é que as pessoas te leiam. E hoje em dia, se alguém disser que consegue passar mais de uma semana off-line, todo mundo acha que o cara é um herói.

É a hora que eu tenho que concordar com o Mc Luhan, que já previa ‘os meios de comunicação como extensão do homem’ e o ‘meio é a mensagem’. Cara... bizarro demais esse negócio.
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Escrever é a melhor coisa do mundo. Escrevendo você chora, ri, se encanta, xinga, dorme, sonha, come... concordo plenamente com aquelas teorias sobre a capacidade de abstração e evolução do Homem através da escrita. E hoje, depois da aparente apoteose da escrita na história humana, depois de todo o desenvolvimento que conseguiram até agora, parece que tudo vai acabar com uma guerra nuclear. Vai que Einstein estava certo quando disse que a III (ou IV, whatever) Guerra Mundial ia ser feita com paus e pedras... vai saber, né? (se ainda restar isso pra fazer guerra, bem provavelmente!)
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E esse tal de hiato criativo de novo... se for jornalista desse jeito corro o sério risco de passar fome. Se precisar depender da tal inspiração toda vez que tiver que escrever alguma coisa, só tenho uma previsão: fudeu.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

oh, vita! oh vita mia...

É, e esse negócio de projeto de monografia tá mesmo me tirando do sério. O foda é que não consigo ir nem pra um lugar, nem pra outro. Culpa do tal do ‘hiato criativo’ de novo. Se fico aqui, na frente do PC, não consigo fazer sair nada. Hoje passei o dia acordada (pra variar) e meus neurônios continuaram dormindo, feito pedra. Se resolvo sair de casa, a ‘culpa cristã’ me vem nas costas e junto aquela sensação de ‘você devia estar estudando agora!’. Se resolvo ficar, continuo na mesma. E como se não bastasse, ainda preciso terminar um zilhão de coisas pra semana que vem. Desse jeito, vou acabar virando mais uma drop-out na faculdade. Sair fora mesmo.

Dizem por aí que chega um momento na sua vida em que, se você começa a filosofar demais, fica doido. Morro de medo de isso acontecer comigo. Não que eu seja uma espécie de eremita urbana, mas, afinal de contas, TUDO é motivo pra causar. TUDO é motivo pra me fazer pensar em alguma coisa. Muito, mas muito foda isso, porque na verdade se só pensar nos problemas conseguisse resolver todos eles, acho que ninguém teria mais nenhum. Mas enfim, né? “O que não tem remédio...”

Então o negócio é botar a cabecinha pra funcionar e sair dessa areia movediça da falta de idéias. Alguém tem uma boa pra me sugerir?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Eu, etiqueta

Um dos meus favoritos do Drummond


Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-lo por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer, principalmente.)
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mar artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.

Little drops


It’s like one more drop of water in the midst of a full cup can make the whole thing overflow in a way maybe you can’t hold back again (but just MAYBE you can’t).
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This pressing-into-yourself too much is highly destructive and harmful. People should just do it to themselves in extreme cases. Or all the time in those helpless extreme-cased-lives…

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Viva a liberdade de expressão, a Internet, o mundo pós-moderno e a democracia. Pena que ninguém saiba exatamente o que cada um deles significa. Mas viva mesmo assim!

quinta-feira, 29 de março de 2007

"Efeito Borboleta"


Em mais uma dessas noites – cair de tardes, para ser mais precisa – numa dessas no meio de um mar de pensamentos embaralhados na minha cabecinha, só o brilho da lua nova parecia iluminar um céu quase sem estrelas. A vista da minha sacada me revelava milhares de luzes nas casas que pareciam estar aos meus pés, cercando uns poucos prédios esparsos no meio daquele oceano de casas. Minha cabeça só queria um pouco de descanso e ar puro, e com aquela vista e uma boa música ao fundo, até que não foi difícil (pelo menos quanto à sensação de ar puro...). Ao olhar para aquela vista que mais parecia um cartão postal, tudo parecia estar em perfeita harmonia: os cães latindo bem ao longe, carros deslizando ordenadamente sobre as ruas e o silêncio dos moradores como se estivessem reunidos com suas famílias na mesa de jantar ou em frente à TV (assistindo o nosso retumbante Jornal Nacional, como não poderia deixar de ser)...

Apesar da tranqüilidade ao meu redor, por quê meus pensamentos não podiam (e parecem não poder mesmo) se ordenar tão harmonicamente da mesma forma? Por quê o pensar no futuro é tão inquietante? (Tiro os meus chinelos e o vento roça suavemente os meus cabelos. Um casal sobe a rua de baixo. O CD já deve estar em uma de suas últimas músicas e a luz da casa do meu vizinho se acende. Uma buzina corta a harmonia por um momento. Mas só por um momento...) Por quê minha vida não podia ser só aquela, imaginando que o caos não existe e que as pessoas não brigam? Mas eu simplesmente não podia. Meu coração inquieto dentro de mim não parava de se lembrar das doses cavalares de informação que recebe todos os dias, das fotos das pessoas mortas no Iraque ou da entrevista do presidente no rádio hoje. Então, eu começava a me sentir tão impotente e tão indefesa diante disso tudo. Tudo o que eu queria fazer era me concentrar na paisagem e arejar a cabeça repelindo a vespas que voavam ao redor da minha ilustre cognição pseudo-científica (e enquanto isso, mais dois ou três carros descem a rua de baixo e um cachorro late estridentemente no outro quarteirão...).

Aí eu fiquei a me perguntar: que mundo é esse que deixaram para a gente e o que podemos fazer com ele? Ou melhor, o que VAMOS fazer com ele? Como era de se esperar, eu não tenho a resposta para tais perguntas (um telefonema interrompe as minhas perguntas), mas na verdade todo mundo já sabe a resposta e ninguém liga mesmo. Mas, para tentar aliviar e acalmar as dúvidas, nada como uma dose de pensamento positivo, auto-confiante em seu mais brando senso comum: “se conseguir me mudar a mim mesma, é certo que as coisas ao meu redor também irão mudar”. Não sou muito de acreditar em correntes de Internet, mas uma frase de alguma delas ficou gravada em minha mente: “o que você faz e como age no seu dia afeta pelo menos dez pessoas...”. Bom, se são dez ou se são cem, na verdade não me lembro direito. O fato é que sempre afetamos e inspiramos a alguém (minha irmã agora me pára e pergunta umas coisas sobre a minha mãe e mais dois carros sobem a rua de baixo, numa velocidade um pouquinho acima do usual). E se o que fazemos afeta as pessoas ao nosso redor, podemos afetar muito mais gente do que imaginamos... Isso me lembra até daquela teoria de que se uma gota d’água cai no oceano, mexe com toda a estrutura dele. Bom, quem sabe isso também funcione com as pessoas?

Talvez... Alguém aí do outro lado assistiu Babel? Qual é a moral da história bolada por Iñarritu que não seja essa? “o bater de asas duma borboleta na China pode causar um Katrina no Rio de Janeiro”... bom, eu queria estar na China pra matar essa borboleta então. Mas no fundo, no fundo, essa teoria-que-soa-pseudo-científica deve ter mesmo um pouco de verdade. Afinal (só pra citar um caso mais extremo), depois que o Zé Ninguém do Mark David Chapman matou o John Lennon, em 1980, o mundo nuca mais foi o mesmo. E foi uma balinha só, ele poderia até ter errado o alvo. Um exemplo mais prático: depois de anos e anos tratando o planeta como uma lata de lixo, as pessoas finalmente perceberam que o cataclismO está perto. É, e quem vai pagar o pato são pessoas como eu e você, que me lê agora, daqui a não muito tempo (e nisso a noite cai e os carros param de passar. Talvez tenham me ouvido pensar e ficaram com medo de sair de casa pra não poluir mais a rua de baixo), infelizmente.

E enquanto isso tem gente achando que basta ser idiota como o George Bush Filho (a.k.a. Charles Manson, que, convenhamos, era literalmente filho de uma puta) para gerar um impacto negativo enorme na sociedade... cheguei à conclusão de que não necessariamente é preciso ser tão estúpido para fazer ações tão escabrosas. Ele só fez isso porque era presidente. Mas se o ilustríssimo tivesse o revólver do Mark David Chapman na mão, mataria o Lennon também (Iñarritu para presidente ianque!). Com isso, caras como o ilustríssimo aí nem precisam da teoria da borboleta para gerar um impacto. Mas para nós, que somos pessoas normais, talvez ela funcione e seria legal se prestássemos atenção nisso mais vezes.


Quanto aos carros na rua de baixo, parece que não há mais nenhum. Deve ser o medo de causar uma chuva ácida no Camboja.

Pra começar

É, finalmente me rendi aos encantos da tal blogosfera. Incrível como a gente tem reservas com coisas tão bobinhas. Ou não.