quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ossos do ofício

Bacana. No Clube de Jornalistas dessa quarta, um debate interessante sobre as cores e contornos que a relação direta entre violência, imigração e preconceito tem tomado em Portugal. O assunto, claro, que não podia estar mais em voga, era essa velha idéia de associar imigrantes à onda de assaltos violentos que tem atacado Portugal com uma certa força nesses últimos tempos. Acho que não cheguei a comentar, mas quando daquele assalto ao BES em Lisboa - último caso famosíssimo de violência coberta pela imprensa e na agenda dos portugueses - achei um absurdo terem que transmitir imagens ao vivo, e a reportagem que vi na SIC à noite se parecia mais com uma novela das 8 que um telejornal. Tive a imprensão de que "nunca na história desse país" um banco já havia sido assaltado, ou o que o valha. Horas mostrando a agonia das vítimas, ligações telefônicas à família do sujeito (que morreu - "menos um na escumalha que suja o nosso Portugal!"), e aquele tom cínico de uma cobertura feita pra chocar e pra aumentar a xenofobia aqui - que, venhamos e convenhamos, já não é pouca. Assim, sem contar que depois disso houveram mais um monte de assaltos nos Correios, teve até um sujeito que matou o filho e o tio, se não me engano, e me parece que quem fez isso não saiu da América do Sul.
Mas enfim... e vir gente dizendo que a violência em Portugal aumentou por causa da taxa de imigração que cresce todo dia... e pior, ver político falando esse tipo de coisa usando eufemismo (aliás, nem isso!). Complicado. Bom, mas o negócio é que o debate tava mesmo interessante e é uma pena a gente já saber de antemão que os níveis de audiência de uma chatice dessas é infinitamente menor à que assistiu ao sequestro ao vivo, com ou sem balde de pipoca do lado. :-(
(...)
Enquanto isso, bem mais pra baixo da linha do Equador, o Observatório da Imprensa nada na "contramão" e comemora o bicentenário da imprensa brasileira. Eu sei lá, tenho os meus sentimentos, mixed feelings, eu diria. Porque por um lado, é claro que tem-se muito a comemorar, as evoluções todas que aconteceram, desde a Gazeta do Rio de Janeiro de início passamos a jornais como o Sol e o Pasquim, e agora a Folha de São Paulo e publicações como a Caros Amigos e por aí vai, mas por outro lado... bom, por outro lado todo mundo sabe que tudo na vida tem seu lado podre e o Jornalismo não é incólume (antes muito pelo contrário), e é muito complicado isso de ser maniqueísta e achar que publicações são como personagens de novela mexicana: ou completamente "abomináveis e tendenciosos", ou completamente "à serviço da verdade e da liberdade de expressão". Mas enfim... acho que no fim, é de se comemorar, porque mesmo nos erros, tentam sempre fazer acertos e mesmo na invasão por vezes famigerada do espaço privado, o espaço público não permanece uma incógnita na vida das pessoas (bom, ao menos não se deveria!). Acho que Maquiavel não ia ser muito fã, mas o que importa. ;-)

Um comentário:

Monica disse...

Oi, Meghie!
Que bom que lembras de mim. Engraçado não termos nos encontrado mais por aí, já que o Porto não é assim tão grande.
Sobre esse assalto, eu estava em férias no Brasil quando aconteceu, então nem vi detalhes. Mas depois li na Internet as notícias e confesso que fiquei chocada com tudo. Principalmente os comentários das pessoas. Mas, enfim, o debate deve ter sido interessante, assim como o teu post.
Abraço!