quinta-feira, 31 de julho de 2008

Vive la vie!

Essa música resume em muito boas ondas a sensação que foi estar na Cité esse fim de semana, ainda que de relance. Tudo o que se faz pela primeira vez tem um sabor especial, e eleve-se isso à décima potência em se tratando de visitar a Paris de Balzac, Victor Hugo, Molière, Luis XIV e tantos outros. Tudo o que eu disser da beleza e do lirismo da cidade vai soar como lugar comum - e o é, realmente - e sobre cada frase que eu pensar em colocar aqui, de certeza alguém já escreveu livros e livros sobre cada palavra em separado. O que deu pra sentir foi o cheiro, ver a explosão de cores (e de pessoas) vindas de todas as partes, ainda que não pudesse apalpar as imagens demoradamente e ruminá-las como o faria um turista atento.

A viagem começou logo cedo, numa conversa com a agente de bordo:

- Look, I'm booked to seat on 97, but there's no 97 here...

-There's no seat booking, you can sit anywhere. (!)

-Ah... true, true. I'd forgot about that... Thanks!

É ÓBVIO que não poderia me esquecer desses detalhes que fazem da Ryanair uma companhia toda especial... ! :-) Se ao menos abrissem uma filial no Brasil pra fazer a alegria da galera...

Mas chegando ao destino, a minha primeira oportunidade de gastar meu parco francês foi balbuciar "avez vous Internet?" e "je prends une baguette" a uma atendente sorridente que queria me cobrar mais de 4 euros pelo pãozinho. Levei um susto, mas isso se resolveu com a plaquinha do preço que falava melhor que a minha pseudo-francofonia. Fui então telefonar ao Tiago - que já deveria estar a caminho de Beauvais a essa altura - e então começou a minha longa espera (tá, a partida toda espera é longa pra quem tá esperando!), na companhia de um livro e da minha perfumada baguete.

Chegam Tiago e Larissa, e vamos ao que interessa... saudades desfeitas, entramos em Paris e pela primeira vez avisto o Arco La Défense brilhando contra o sol, e depois a Champs-Elysées e o Arco do Triunfo à vista, que dava com a cidade se preparando para receber mais uma edição do Tour de France. Conversas no carro. Risos das piadas da Larissa. Paisagem hipnotizante do lado de fora. E tudo isso entremeado nos meus botões com as lembranças dos filmes do Truffaut, um dos meus romances preferidos, saído da pena de Balzac, e um misto de músicas da Edith Piaf e do George Brassens pra completar. Um pouco mais tarde, somos recebidos por um casal, parentes de um dos tios do Tiago, seu José e dona Margarida, e são, como muitos outros portugueses, residentes na França já há quase o dobro da minha idade. Gente muito receptiva que me lembrou em muito os mineiros e o pessoal da família back in town...

Ah, mas esse sábado à noite... numa espécie de mini-tour pela Cité - que só não pude aproveitar mais por causa do sono já quase no caminho pra casa - Tiago, Larissa e eu fomos a um lugar perto do Museu do Homem, onde havia um punhado de turistas como eu (acho que só se falava Japonês) mirando, admirando e fotografando a bela Eiffel (na sua nova maquiagem de UE). A torre ao fundo para massagear a vista, música árabe para preencher os ouvidos e ambulantes de origem africana fazendo o triste e necessário trabalho deles com as suas quinquilharias me testificaram o que uma vez alguém disse... "como Londres, Nova York e Tóquio, Paris não pertence mais aos franceses, mas ao mundo...". Terra de todo mundo e de ninguém, sob cuidado dos parisienses e da Mairie. :-) Mas, continuando sobre o sábado à noite... depois de passar pelo Trocadero, passamos pelo Sena, e pelas Pirâmides do Louvre que só pude ver do lado de fora, mas que deixaram "borboletas no meu estômago". Lindo, lindo, lindo... Foi pena não ter tido tempo o bastante para ir ao Sacre-Coeur e ao Centro Georges Pompidou ou a Versailles, mas passar pela praça da Concórdia, pelo Père-Lachaise (o Balzac e o La Fontaine ficam pra uma próxima visita... porque o Jim Morrison foi o primeiro da fila, claro) e por um lugar que julgo ser o Montmartre (e viva a Amélie!), avistar a Notre-Dame do Quasímodo de uma das pontes sobre o Sena e passar momentos irrepetíveis com pessoas muito queridas... simplesmente impagável!

Agora eu tenho certeza de que fiz uma coisa fundamental na vida de um ser humano... :-) E ainda com uma trilha sonora que tive a sorte de calhar com o momento, e que vai ficar pra sempre no fundo dos meus tímpanos cada vez que alguém me disser, "me conte como foi Paris vista pela primeira vez". Valeu, Tiago!

Mais um detalhe: observar a interação entre as pessoas foi igualmente interessante, embora não a fizesse de uma maneira "arguta" por causa da falta de tempo e pelo orgasmo visual que inebriava todos os meus sentidos. Mas a confluência de africanos e árabes, pra além dos turistas, é óbvio, foi uma coisa que me chamou a atenção porque finalmente pude ver isso fora das páginas dos jornais ou do ecrã da minha tv. Não é chocante (pelo menos não mais quanto deveria ser) ver pessoas a te pedir dinheiro na rua, e ao atravessá-la ver gente fazendo compras na Gap ou na Louis Vuitton, ou ver uma madame apressada pra uma festa vestida num diáfano tubinho preto da Coco Chanel. Foi aí que comecei a pensar na política de "imigração seletiva" do desafortunado Sarkozy e do osso duro de roer que essas controvérsias sobre as políticas de abertura da UE entre os vizinhos de cá têm trazido... é europeu e "gringo" demais pra cuidar! Rapadura é doce, mas não é mole mesmo!

Mas enfim, foi mesmo TUDO de bom ter dado essa fugidinha necessária, pelos momentos passados ao lado de pessoas especiais, pelos risos, sustos (!), fotos, lembranças... na verdade, o meu cartão de memória em Paris estava vazio, logo, saiu de lá menos preenchido do que os de Titi e Lala... mas nem por isso com menos qualidade! :-)

E viva la vida! \o/

Um comentário:

Andy In The Sky disse...

Retribuindo a gentil visita ao meu humilde blog. Obrigado!
Vc tbm manda muito bem, bjos! Andy