Quantas vezes você parou para ver como o sol estava brilhando no céu azul de hoje? Ou, a quantas pessoas deu um "bom-dia!" com um sorriso no rosto? Ou ainda, quantos filmes você assistiu nas últimas três semanas? Não estranhe e nem se envergonhe se sua resposta for "nenhuma das alternativas acima" para as coisas que tenha feito. Afinal, quem vos fala aqui também é uma vítima dessa doença moderna que é a pressa. E isso vai muito além de ficar trancafiado em um escritório iluminado com lâmpadas fluorescentes, passar pelos colegas dizendo bom-dia com um copo de café na mão (numa velocidade incrível para sua mesa, porque o dia começa e é preciso trabalhar!) ou adiar aquela sessão de cinema com os amigos por meses.
A pressa é um problema de saúde pública. É uma falha na constituição da cultura do mundo moderno, que premia quem consegue produzir cada vez mais em um espaço de tempo cada vez menor. A lógica da divisão social do trabalho tomou conta da vida familiar e individual do homem moderno, gerando o estresse em todas as áreas. Todos têm pressa, mas é preciso ter sempre em mente que ninguém é insubstituível. Se alguém, visando maximizar a sua produção, sacrifica sua saúde mental e emocional a ponto de sofrer da "síndrome de burn-out", pode se considerar quase no fim da linha. Diretamente relacionada à pressa e ao estresse profissional, esta síndrome é "definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. É caracterizada pela ausência de motivação ou desinteresse; mal estar interno ou insatisfação ocupacional que parece prejudicar, em maior ou menor grau, a atuação profissional de alguma categoria ou grupo profissional", de acordo com o médico psiquiatra e ex-professor da faculdade de Medicina da PUC de Campinas, Geraldo José Ballone.
Para o médico, o "desacelerar" é uma escolha individual que deve ser priorizada para se evitar conseqüências mais sérias, como a depressão: "de qualquer forma, a pessoa que vive o estresse deve ter sempre em mente uma meta a ser conquistada e que diga respeito às mudanças de hábitos para uma vida mais sadia". Hoje já há movimentos que privilegiam o ritmo "slow" de ser. Em oposição à cultura dos fast-foods celebrada por McDonalds e similares, os italianos criaram o Slow Food e o Città Slow, cujo mote é mais vagarosidade no comer e no viver. Há também o japonês Clube da Preguiça e até uma conferência anual da Sociedade para a Desaceleração do Tempo, que acontece na cidade austríaca de Wagrain. Lá, a palavra de ordem é a alemã eigenzeit (tempo próprio).
Aderir a um destes "programas" adaptando-os para a forma como se vive no Brasil seria o ideal, apesar de que isso nem sempre é possível, porque, como sabemos, a história por aqui é um pouco diferente. Mas o professor Ballone ainda deixa uma dica (principalmente para quem não pode ir à Itália ou aos Alpes Suíços para participar dos slow movements): nada melhor para se desestressar do que fazer uma atividade física. "Exercício acaba por diminuir as tensões emocionais acumuladas, melhora a auto-estima e afasta o pensamento obsessivo da pessoa para as questões vivenciais estressoras". Mas é importante que cada pessoa faça seu eigenzeit, senão a academia pode se tornar mais um fator de estresse (...e ter o efeito contrário!).