domingo, 20 de dezembro de 2009

Indeferido

É a dark wave, só pode ser. Ou então essa chateação é prova de que sou uma pessoa que não sabe perder - o que também não deixa de ser algo pouco saudável, diga-se de passagem.

Às vezes (ok, sempre!) é um bocado complicado, muito difícil até, ter que lidar com o que a gente considera como grandes fracassos. O menos difícil nessas horas é tentar aprender com eles, naquela lógica da experimentação infantil de estímulo-resposta, até que não se ponha mais o dedinho na tomada ou a mão muito perto do fogo. E parece que em janeiro vai haver muito tempo para esse tipo de reflexão, ainda mais agora pelo tempo extra que confirmadamente recebi hoje. É verdade, a vida não é um sketch. É feita pra ser vivida pra valer. De vez em quando eu acho que me esqueço disso - o que torna a lembrança de certos fatos um pouquinho mais dolorosa.

É duro admitir e chegar à conclusão de que você é a única pessoa que se coloca entre você mesmo e o seu sucesso. Acho que "nunca na história desse país", tanto quanto hoje, tive esse sentimento horrível tão perto. E o pior é me sentir completamente impotente diante dele. Pelo menos em uma situação que eu já sei que não tenho mais como remediar. Mas é bom falar, extravasar, mesmo que num espaço em branco - ou em negro - desse vasto mundo virtual.

A minha experiência de estágio em rádio - que nem consta no meu currículo - é decididamente uma dessas coisas de que eu não gosto de falar, que ninguém em sã consciência faz questão de tornar público - aquele tipo de coisa que, ou foi a escolha errada decididamente, ou foi a escolha certa, mas no momento errado. Eu não gosto de falar disso. Dói. Mas o resquício do excesso de cristianismo que um dia já houve em mim não deixa de achar uma boa ideia fazer essa confissão, que embora pública de certa forma, não deixa de ser uma forma de catarse, de liberação. A cor-batina desse blog dá uma falsa impressão de invisibilidade.

Mas, enfim. Isso aconteceu lá pelos idos de 2006, já estava com 1/4 de pé na Europa mas queria muito experimentar o que eu pudesse antes de fazer qualquer coisa. Resolvi então me inscrever para o estágio de férias na rádio da UFMG. A seleção foi tranquila, fiz uma matéria sobre um assunto da vida acadêmica que já não me recordo bem. Mas lembro que ficou redondinha, com poucos segundos de diferença da duração total requerida, com cabeça, corpo, pé. Do jeitinho que a gente aprende na faculdade. Levei o tempo de um almoço para gravar, editar e fechar a coisa, para enviar pouco tempo antes da deadline. Me chamaram, achei super bacana.

Primeira semana, treinamento intensivo, e já comecei a ver que alguma coisa não estava muito bem comigo. Impressão minha, fantasia, claro. Mas nada foi pior do que chegar ao estúdio nas semanas seguintes e não conseguir fazer absolutamente nada, ficar naquela espécie de writer's block total (ou no caso, reporter, editor, e todas as funções que se possa imaginar numa redação). Hiato criativo ou incompetência? (chato ter que se ver obrigado a ficar com a segunda opção, não é?). Ainda não sei. Só sei que nunca consegui entender o motivo daquilo tudo. Acho que quanto pior eu me sentia, menos conseguia fazer, mais retraída ficava, menos conseguia pensar. E nessa fiquei. É chato ser motivo de piadinha (às vezes bem pouco sutis) e ter que concordar porque afinal de contas, há motivo de sobra para isso. Mais chato ainda é ver uma porta se fechar antes de tê-la conseguido abrir. Mas nada é sem motivo, e como já disse alguém que presenciou o triste fato, "a gente não apaga as nossas experiências, mesmo aquelas que nos incomodam. A gente aprende com elas e se fortalece dos erros".

Hoje meu pedido de tentar dar um novo começo - não apagar nem mudar, mas tentar fazer outras lembranças sobre aquilo que foi a experiência mais traumática que tive até agora - foi indeferido. E isso é daquelas coisas que a gente entende, concorda, mas não aceita.

E não adianta ficar chorando pelos cantos. A coisa agora é ir pra frente, não em caráter experimental, mas tendo a consciência de que é preciso dar o máximo para que a coisa saia bem (ou saia, ao mínimo, bem). E enfrentar os medos, against all odds. E não há nada mais desestimulante, nada mais doloroso que esses medos inconfessados. O medo do fracasso, o medo da perda, que só faz crescer quanto mais se quer algo, quanto mais se gosta de algo. Tive que aprender muito sobre isso durante o tempo que passei em Portugal. Nunca é fácil, mas aprende-se imensamente só de se ter a disposição de enxergar as coisas.

Às vezes eu fico me perguntando sobre o valor disso tudo. Pra quê se esforçar tanto, pra quê se cobrar tanto, se depois tudo vira pó, ninguém já lembra mais do seu nome, se todas as experiências que você teve vão, na melhor das hipóteses e em última instância, servir de alguma coisa a ninguém mais que não a você mesmo. Outras, fico pensando em construir algo que vai servir para muito além daquilo que vejo, que sinto, naquele sentimento altruísta meio infantil, meio fantástico, de ajudar a construir um mundo melhor que ainda está por se materializar. Entre os dois extremos, fico eu e as ideias que consegui juntar, me sentindo um pouco refém dessa montanha russa emocional, mas tentando ao máximo passar por tudo isso bem acordada, consciente de todos esses porquês, ainda que - de novo - isso doa mais do que ajude realmente. Mas é bom se manter vivo diante disso tudo, e tentar agir mais com ações do que com palavras. E eu acho que talvez está aí o meu maior erro - viver demais tentando olhar para fora da caverna, encarnar em excesso o papel de um personagem do Teatro do Absurdo - desdenhando a parte saudável do pragmatismo ocidental e norte-americano.

Isso seria resquício de quê?

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