sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Parabéns, Oliveira!
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
But I think this other song makes more sense for my day after all...
domingo, 16 de novembro de 2008
Ême, êne, é, ême, ó
Guardar (Antônio Cícero)
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Oh! Frankfurt...
Depois de um vôo bem chato – sim, pra quem já passou mais de 10 horas num “vuelo non-stop”, menos de 3 horas agora são incômodas e chatas… - finalmente cheguei ao “galpão” de Hahn, perto de Frankfurt, Köln e mais alguns lugares, e bem, ainda tinha mais uma hora e meia de ônibus pra chegar à cidade que eu queria. Depois de falar com a minha adorável host, a Helena, finalmente saí do galpão e estava a caminho da cidade dos arranha-céus. O caminho que eu via passar pela janela tinha mesmo uma paisagem convidativa, cheia daquelas florestas invernais com folhas salpicadas de dourado e ocre, algumas ainda pendendo das árvores e muitas delas pelo chão, sob o signo daquele céu azul de onde o sol brilhava timidamente, iluminando um trajeto que cheirava a bucolismo e que desembocava num contraste quase violento com aquele coração financeiro da Europa. Com a companhia de Nicola Conte, José González, e claro, Led Zeppelin no player, cheguei finalmente à Hauptbanhof, a estação principal dos trens em Frankfurt.
Aquele lugar coberto de um enorme céu metálico à la século XIX tinha uma data de trens da DeutscheBahn a ir e vir, uns talvez com atraso, outros talvez tão pontuais como se imagina serem as pessoas daquela parte da Germânia. Aquilo era um misto de shopping center, “quiosqueria”, estação e centro de informações, com a comodidade de terem telefones espalhados por todas as esquinas pequenas. Sendo assim, poucos minutos depois de ter usado um daqueles telefones, lá estava a Helena, num elegante casaco escuro e com um sorriso que me fez sentir confortavelmente bem-vinda à “Mainhattan”, como dizem.
A primeira coisa que fizemos foi parar em um café (só não me pergunte o nome!) quentinho, com almofadas e revistas em uma janela que dava para a rua - e para a GoethesHaus - e minha escolha não podia ser outra além da minha primeiríssima dose de Apfelwein – “pure, please… kein Saft mit der Wein, bitte!” – e ali ficamos a conversar por um tempinho, aproveitando o calorzinho do lugar e a minha inevitável expressão de novidade no rosto. Depois, no caminho até a casa, mais papo, a vista dos primeiros arranha-céus, o cheiro do parque que dá as frentes (ou as costas?) para o Banco Central Europeu e a Alte Oper, linda, com uma fonte na frente e uns cafés do lado, tipo “parisién style”. Nas ruazinhas pelos lados da Grüneburgweg, casas ao estilo neoclássico e um mercado de flores e vegetais que é uma graça.
Chegando à casa, tenho a surpresa de ser recepcionada por um adorável canino, mais conhecido como Pumba, que sem barulho nenhum recebe afagos de visitas e se sente feliz por dormir na cama dos seus pais, Georg e Helena. Adoráveis, todos eles… e com muito estilo. :-) Estilo, aliás, é mesmo uma palavra que define esses dois estudantes de Filosofia que conheci no país de Nietzsche e Marx. Helena estava sempre a sonhar com uma vida em meio ao século XIX, e Georg, um sujeito interessante e misterioso com quem gostaria de ter conversado mais, era mesmo o par perfeito da simpática menina de cabelos louros.
Feitas as devidas apresentações, era hora de perambular pela cidade, como boa turista que sou. :-) Mapa na bolsa e algum Alemão cru na língua, encontro arranha-céus, esculturas, cafés, ruas de calçadão, a Bolsa de Frankfurt (me doeu um pouco ver isso justo nessa época, mas acho que nem é pra tanto)… foi bom andar pela Schillerstrasse e outras ao redor sob aquele sol pálido que iluminava as praças, shopping centers, bancos e as muitas livrarias com preços convidativos, em meio àquela salada de alemães, turcos, indianos e gente da mesma categoria que eu, turistando talvez com essa mesma estranha sensação de não se querer ser turista…
Comi então a minha primeira bratwurst, pedida meio em Alemão, meio em Inglês e com um “danke schön!” no fim, ao que escuto um “you are welcome!” de volta, e depois continuei deambulando por aquela cidade que me pareceu ter um custo de vida abaixo do que eu esperava (que ótimo!), e fui finalmente parar ao Römer, essa praça de fundação romana que vem nos cartões postais e na imaginação dos turistas que visitam a cidade. É mesmo linda, principalmente à noite, com uma afluência enorme de pessoas e o rio Main logo à frente. E por falar em rio Main, atravessá-lo à noite foi mais que tirar fotos das ondas na água (hum… à noite? Essa foi mesmo má! hehe) e dos prédios que emergiam ao fundo… houve um bando de malucos que tava a seguir o curso do rio em uns barquinhos - na verdade, caiaques - munidos de chapéus de “viking-horns”, luzes intermitentes (seriam árvores de Natal ambulantes?), música e muita gritaria… pensei que fosse algum tipo de feriado nacional ou alguma coisa que se fazia de praxe, mas depois vim a saber que não era uma manifestação regular ou temporal. Achei bacana, e pensei que podia ser por algo que aconteceria no dia seguinte (de fato, houve a Maratona de Frankfurt no domingo) ou estavam tão felizes por ter mais uma brasileira simpática a olhar a cidade que não podiam conter a alegria e tiveram que se manifestar de alguma forma… modéstia pouca é bobagem lá nos trópicos!
Depois de ter o caminho de volta feito, e feliz por não ter sido difícil achá-lo sem usar o mapa, uma saidinha com o Pumba pelo parque, mais papo e um vinhozinho que ninguém é de ferro… estava bem feliz por pensar que podia me virar sem ter que depender inteiramente do meu Inglês, já que algumas das pessoas que encontrei ao longo do caminho não falavam outra coisa senão Deutsch. :-)
No outro dia de manhã, um domingo cinzento e frio, fui logo pra varanda ler um jornal e pensando que aquele gelo todo me faria muito bem pra acordar os neurónios. Bom, e no fim, fez mesmo… mais conversa no café da manhã com os meus adoráveis hosts (que a essas alturas devem até saber quando é que o Lula nasceu), era hora de traçar o próximo plano. Minha missão era então ir ao Städel Museum do outro lado do Main. No meio do caminho me chama a atenção uma batucada que se agitava persistentemente à distância, ainda meio que sob o efeito Doppler, que vai diminuindo à medida que me aproximo. Não era outra coisa senão a Maratona de Frankfurt, com direito à Coca-Cola pros maratonistas, transmissão na TV, muita música e uma grande festa na frente da Alte Oper. As estrelas principais? Um grupo de batuque de – adivinha de onde! – (we’re EVERYWHERE…) e os gringos sorrindo e alguns gingando naquele frio que quase cortava os meus ossos tropicais. :-)
Depois de mais um pouco deambular, uma parada no Römer e um shake da Haagen-Dazs antes, pra continuar a via sacra. Vi um museu atrás da pracinha, uma loja de brinquedos de madeira todos feitos à mão (hmmm, gracinha de Quebra-Nozes!), quase à Grimm, um septeto de cantores-músicos uniformizados à anos 40 sob a pele de militares russos (me pareceu) e cantando uma músicas tão mellow que era de comover qualquer passante. Mais à frente, um sorridente malabarista chinês que não entendia nada do que falassem com ele, mas que tinha uma concentração digna de um giggler do circo de Pequim ou de Moscou… e depois disso, algumas ruínas (cujos intertítulos não consegui ler muito bem, que frustrante…) e uma loja de souvenirs escondidos atrás da praça, e finalmente o outro lado do Main pra completar o meu destino inicial.
Mas acabo mudando de idéia ao me lembrar que o Deutsches Filmmuseum também ficava por ali, e, Bosch e Vermeer que me desculpem, mas tive que dar uma voltinha noutro lugar. :-) A visita toda daria um post talvez tão grande quanto esse, mas poder me virar mais uma vez sem o meu Inglês, poder ver os antepassados da camara obscura, filmes do Meliès e dos Lumiére rodando, tocar na armadura dourada da Maria-Robot de Fritz Lang (eu TIVE que passar o cantinho da unha no dedo da estátua pra ver se era de verdade… nem eu conseguia acreditar naquilo…!) e ver os scores originais da trilha sonora do Metropolis, poxa… foi simplesmente mágico e fez toda uma tarde se parecer com duas horas passadas depressa. Depois de algumas horas ali dentro, percebi o meu sacrilégio de não ter papel e caneta na mão (o que não costuma acontecer!), providenciei-os às pressas, mas, sorte minha… já tinha conseguido alguns registros em imagem daquele pequeno santuário. Fui a última pessoa a deixar o museu (ok, isso nem é a primeira vez que me acontece) e ainda antes disso fiquei de papo com uma senhora muito simpática que trabalha no museu, interessada pelo meu interesse e me desejou toda a felicidade do mundo depois. Um amor de pessoa.
De volta à casa, aqueles inevitáveis comentários de quem acabou de descobrir a pólvora, e pra fechar a noite, claro, um filme. Nada como ver Waking Life ao lado de gente que faz da Filosofia o objeto de estudo da vida toda... :-) E assim termina a noite e o fim de semana, porque no dia seguinte eu tinha que acordar bem cedo para deixar Chicago Am Main e voltar pro meu Porto pacato. Mas isso também já rende outra história…
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
O conto de uma vida
Ana Carolina “Mayakovskaya” Andrade e eu andávamos na faculdade pelos nossos idos vinte e poucos anos, e foi mesmo lá que a conheci. Era uma menina linda e adorável, mas de gosto pouco ortodoxo (ou será que posso chamar aquilo de des-gosto?!) pela moda e pelas coisas que vestia (na verdade tenho a impressão que ela só se vestia porque era estritamente necessário… mas nunca a vi andar de pijamas pela sala de aula). Usava um corte de cabelo tão pouco ortodoxo quanto as suas roupas (aquele liso pontiagudo, curto e basiquíssimo fazia um conjunto perfeito com a sua quase ideia de não-roupa) e bem, a única coisa que a fazia ser descoberta uma pessoa adorável, à partida, era a conversa dela. Era-se mesmo meio difícil achar alguém que não tivesse nada a dizer nos corredores de Letras e Belas Artes daquela época (isso era requisito básico para os loucos que queriam se arriscar pelo livre pensamento e alguns pela tinta da pena) e menos difícil, na verdade, comum, era ver alguém que simpatizasse com as ideias de Marx (as verdadeiras, não com o que fizeram com elas na ex-URSS) porque achávamos que isso podia mudar o mundo… queríamos mudá-lo de fato, e sim, naquele Brasil de meados da década de 70, gostávamos de ir a cafés - leia-se, fumar uns charros escondidos - e discutir sobre tudo, ou quase (lembro-me que os assuntos variavam da morte do Herzog ou a independência de Angola à Nietzsche ou Kierkegaard – nada mais apropriado pra se discutir em um boteco…), assistir filmes do Godard (que sinceramente os preparados de erva ajudavam a entender bem melhor) e era assim, “nada de muito extraordinário” naquela pacata cidade então quase provinciana que era a nossa BH. E talvez porque gostássemos de seu ar juvenil e quase maroto, BH ia ser sempre uma jovem provinciana na nossa cabeça.
Mas voltemos à Carol. Ela fazia parte do meu grupo de amigos e acho que tinha um estranho desejo de morte violenta, ainda mais forte que o meu por reconhecimento do meu heroísmo fake: havia que se defender uma ideia, sempre, mas sair à noite para grafitar paredes em espaço público em crítica à ditadura e em favor dos exilados era um pouco demais, eu achava. Preferia o sossego dos meus pseudónimos a ter que correr o risco de me deparar com um polícia na rua e nunca mais voltar. Mas a Carol era meio assim. Na maior parte do tempo tinha um sorriso no rosto, gostava de conversas animadas, mas nunca dava as cartas. Tenho a impressão de que no fundo, no fundo, ela era uma tímida incorrigível, que tentava se expor ao máximo para que ninguém visse o que estava logo à vista: que era uma pessoa extremamente infeliz. Foi o que vim a perceber depois. Nas poucas conversas que tivemos sobre a sua infância e o que fizera até ali, Carol sempre me pareceu uma fortaleza emocional quase intransponível: me dizia que não gostava de depender de ninguém em aspecto nenhum, que achava que Nietzsche tinha razão e que a vida era mesmo assim, cada um por si e Deus por todos (embora eu ache que ela não acreditava realmente no que dizia, e talvez nutrisse a mesma não-crença pelo divino que eu tinha). E eu brincava, dizendo que daquele jeito ela ia acabar morrendo virgem, porque ninguém queria comer uma mal-comida de gosto amargo. E ela se ria disso, dizia que tinha uma quedinha pelo Pedro mas me fazia jurar que ele nunca o saberia, fingindo uma intangibilidade emocional que não fazia mais que enterrar ainda mais fundo os seus medos e seus desejos. Apesar disso, dizia que se identificava muito com seu pai, porque não o conhecera. E ela dizia que essa identificação tardia com ele é porque ela nunca chegou a se conhecer completamente (na verdade ela dizia “nem minimamente!”). E sempre que chegávamos nesse ponto da conversa, Carol tentava escapar pelos dedos, tão escorregadia quanto um peixe, e dizia “olha, mas eu tava vendo outro dia uma coisa bacana que a gente podia escrever e tal”…
E eu pensava que éramos mesmo amigas. Mas a Carol me assustava. Era uma pessoa com mais altos e baixos do que o comum (podia variar entre o silêncio total e absoluto numa animada roda de amigos ou podia se fartar de falar entre uma cerveja e outra numa ocasião parecida), e acreditava piamente que um dia tudo ia acabar e que não havia sentido em nada que estávamos a fazer (outra coisa que me assustava era seu niilismo), e achava que devia estudar filosofia depois porque achava estúpido e genial ao mesmo tempo, mesmo que no fim das contas isso não fosse servir de nada, que não entendia como Hegel e Platão poderiam estar inscritos numa mesma categoria e ser estudados num mesmo curso, que adorava o mito da caverna (talvez isso explicava a insistente fixação dela pelo não-ser, ou pelo menos do não-corpóreo ou qualquer coisa assim… me contou um dia que “se um dia pudesse tornar-se éter se sentiria completa”), e que achava que Epicuro é que tinha razão no fim das contas. A verdade é que acho que não me surpreenderia se ela também apoiasse Hitler se ela tivesse nascido alemã alguns anos antes. A Carol dizia que ele também tinha a sua razão. Ela vivia a me dizer que às vezes mais valia uma proposição não correta e bem elaborada do que uma verdade objetiva e incontestável, fácil por ser um dado adquirido. E acreditava mesmo nisso.
Me lembro que numa das últimas vezes que a vi, estávamos conversando uma bobagem qualquer num bar numa noite quente com uns outros amigos. Aquela então estranha figura não conseguia mais esconder seu ar soturno por trás do seu falso e ainda radiante sorriso. E ainda assim, falava, falava como se o mundo fosse acabar. Continuava a contestar com os seus grafites, a gostar de Cinema Novo, fumar os charros de sempre e a ler Sartre. Ela dizia que queria escrever e desenhar pro Pasquim, que queria se mudar dali, que queria ser estrela de rock e morrer nos porões da ditadura e ser cultuada como heroína nacional. A gente se ria muito disso, e sempre tive a certeza de que a Carol era meio fora de órbita mas tinha um grande futuro.
É verdade. E tinha mesmo. Pena que não chegou a ter. Mas hoje acho que seu maior erro era ler Mayakovsky compulsivamente (coisa que só vim saber depois)… Notei a falta da Carol numa semana que ela de repente parou de ir à faculdade e parecia ter se cansado das nossas saídas e das nossas conversas com o pessoal. Tentávamos ligar pra casa dela e saber o que havia acontecido, se tinha viajado, e não tínhamos resposta. Eu e uns amigos fomos até o apê onde ela morava, e parecia não ter ninguém, e pessoa alguma sabia o que havia acontecido. Todo mundo pensou logo que ela havia ido em uma viagem pra descanso da pele, mas eu, com as minhas lentes do Apocalipse, pensei logo que ela tinha tido realizado seu sonho louco de complexo de mártir e finalmente a polícia a tinha visto fazendo um dos seus grafites. Teríamos decretado feriado nacional no dia da morte de Santa Carol, se ao menos tivéssemos a certeza de que isso tinha acontecido. E acho que ela ficaria mesmo muito feliz. Mas o que aconteceu de fato foi os vizinhos notarem um cheiro muito forte vindo do apartamento da Carol, onde ela insistia em morar sozinha (o que se justificava segundo o que ela tinha me dito uma vez: "detesto pessoas que usam a mesma máscara todos os dias...". Paranóia?). E sim, minhas suspeitas não estavam erradas de todo, infelizmente. Depois da notícia que ninguém queria ouvir, o pânico, a incompreensão, a revolta, viu-se um bilhete por baixo da arma do crime, em que se podia ler nas últimas linhas: “me perdoem, sei que essa não é a melhor maneira (não recomendo isso a ninguém), mas parece que pra mim já não tem jeito. Pedro – ame-me”. Tive raiva, me senti muito mal por não ter feito nada antes e depois de tudo cheguei à conclusão de que aquela foi uma morte covarde mas talvez fosse mesmo a única saída. Alguns escritos foram encontrados escondidos entre os seus pertences em várias partes da casa, bem à sombra do alcance de qualquer pessoa, quase camuflados. Pude ler alguns, e aquele mosaico enorme começou a compor a face daquela personalidade frágil e brilhante. Quanto aos maiores amores da vida dela – Mayakovsky e Pedro, segundo os seus escritos – bom, um deve ter ficado numa imensa tristeza póstuma a ver alguém usar a sua anti-recomendação como modelo de morte mais de quarenta anos depois da sua. Quanto ao outro, parece ter absorvido a interioridade e o humor soturno da sua amante travestido com os mesmos sorrisos, como se fosse uma maldição saída da pena de E. Allan Poe.
E eu depois disso comecei a grafitar paredes e fui trabalhar no Pasquim.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Meghie Acorda in Lisboa
Ver Lisboa fora dos comentários, mesmo que vergonhosamente tarde, veio a calhar e me ajudou a entender melhor o Porto e algo dos portugueses. Foi tudo literalmente "out of the box"... depois que saí do CCB, fui me encontrar com o meu host, que estava, junto com a galera do MAL, fazendo algum barulho pros olhos - e pros ouvidos também - com um screening de curtas projetados num lençol e ao ar livre, que dava com uma vista linda ao longe, como só a arquitetura de Portugal poderia oferecer. Foi MUITO bacana. Bom saber que tem gente que se importa com o que lhes entra pelos olhos e faz alguma coisa! :-)
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Ossos do ofício
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Um não sei o quê de dizer sem querer dizer...
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Vidinha pacata!
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Que venha Higgs!
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Last year in Marienbad
terça-feira, 2 de setembro de 2008
...
Saudade que me bateu de repente de ver esse filme...
(...)
Depois de um fim de semana assaz agitado (com direito a várias apresentações musicais nas noites de sexta e de sábado - variando entre o jazz da Jacinta e o funk dos Buraka Som Sistema - , chá e pizza com os amigos, encontros com CSers, ida à praia em Gaia e a uma sessão de cinema - em 3D!), cansei de descansar (ai, que mentiiiira!) e sinto que tenho de voltar ao trabalho (voltar? tou mesmo delirando... voltar de onde nunca saí!), que aperta mais a cada dia que se passa. Devo ter uma disposição muito mais elástica do que eu imaginava ter! :-)
Hoje - depois de uma não tão breve, mas bem interessante reunião pedagógica que varou algumas poucas horas depois das 10 da noite - fui eleita "Miss Clumsiness" da WSI Boavista. Adorei o título, acho que tem mesmo tudo a ver comigo... :-) ainda mais pela solidariedade criativa das minhas colegas em me dar um brinquedinho fálico em formato de pirulito (ou aliás, é o contrário... é um pirulito em formato de brinquedinho e a inversão foi completamente inconsciente. Freud explica!). Achei uma graça. Quem sabe da próxima me dão um desses de chocolate. Alguém se habilita a dividir? :-)
sábado, 16 de agosto de 2008
so, so cute!
Não podia deixar de postar essa animação. Que graça! Uma delicadeza nórdica tocante. The Danish Poet é um curta de 2006 de autoria da ilustradora norueguesa-canadiana Torill Kove e ganhou o Oscar de Melhor Animação o ano passado. É narrado pela (também norueguesa) atriz Liv Ullmann (mãe da escritora Linn Ullmann, que tem por pai o Ingmar Bergman). É simplesmente lindo... fala de como os detalhes da vida e as aparentes coincidências podem mudar todo o curso de uma existência, de uma forma que nem nos damos conta. É de ver e rever... chamem as crianças para a sala! :-)
domingo, 10 de agosto de 2008
Mais a gosto
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Saudades de Epicuro
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Vive la vie!
Essa música resume em muito boas ondas a sensação que foi estar na Cité esse fim de semana, ainda que de relance. Tudo o que se faz pela primeira vez tem um sabor especial, e eleve-se isso à décima potência em se tratando de visitar a Paris de Balzac, Victor Hugo, Molière, Luis XIV e tantos outros. Tudo o que eu disser da beleza e do lirismo da cidade vai soar como lugar comum - e o é, realmente - e sobre cada frase que eu pensar em colocar aqui, de certeza alguém já escreveu livros e livros sobre cada palavra em separado. O que deu pra sentir foi o cheiro, ver a explosão de cores (e de pessoas) vindas de todas as partes, ainda que não pudesse apalpar as imagens demoradamente e ruminá-las como o faria um turista atento.
A viagem começou logo cedo, numa conversa com a agente de bordo:
- Look, I'm booked to seat on 97, but there's no 97 here...
-There's no seat booking, you can sit anywhere. (!)
-Ah... true, true. I'd forgot about that... Thanks!
É ÓBVIO que não poderia me esquecer desses detalhes que fazem da Ryanair uma companhia toda especial... ! :-) Se ao menos abrissem uma filial no Brasil pra fazer a alegria da galera...
Mas chegando ao destino, a minha primeira oportunidade de gastar meu parco francês foi balbuciar "avez vous Internet?" e "je prends une baguette" a uma atendente sorridente que queria me cobrar mais de 4 euros pelo pãozinho. Levei um susto, mas isso se resolveu com a plaquinha do preço que falava melhor que a minha pseudo-francofonia. Fui então telefonar ao Tiago - que já deveria estar a caminho de Beauvais a essa altura - e então começou a minha longa espera (tá, a partida toda espera é longa pra quem tá esperando!), na companhia de um livro e da minha perfumada baguete.
Chegam Tiago e Larissa, e vamos ao que interessa... saudades desfeitas, entramos em Paris e pela primeira vez avisto o Arco La Défense brilhando contra o sol, e depois a Champs-Elysées e o Arco do Triunfo à vista, que dava com a cidade se preparando para receber mais uma edição do Tour de France. Conversas no carro. Risos das piadas da Larissa. Paisagem hipnotizante do lado de fora. E tudo isso entremeado nos meus botões com as lembranças dos filmes do Truffaut, um dos meus romances preferidos, saído da pena de Balzac, e um misto de músicas da Edith Piaf e do George Brassens pra completar. Um pouco mais tarde, somos recebidos por um casal, parentes de um dos tios do Tiago, seu José e dona Margarida, e são, como muitos outros portugueses, residentes na França já há quase o dobro da minha idade. Gente muito receptiva que me lembrou em muito os mineiros e o pessoal da família back in town...
Ah, mas esse sábado à noite... numa espécie de mini-tour pela Cité - que só não pude aproveitar mais por causa do sono já quase no caminho pra casa - Tiago, Larissa e eu fomos a um lugar perto do Museu do Homem, onde havia um punhado de turistas como eu (acho que só se falava Japonês) mirando, admirando e fotografando a bela Eiffel (na sua nova maquiagem de UE). A torre ao fundo para massagear a vista, música árabe para preencher os ouvidos e ambulantes de origem africana fazendo o triste e necessário trabalho deles com as suas quinquilharias me testificaram o que uma vez alguém disse... "como Londres, Nova York e Tóquio, Paris não pertence mais aos franceses, mas ao mundo...". Terra de todo mundo e de ninguém, sob cuidado dos parisienses e da Mairie. :-) Mas, continuando sobre o sábado à noite... depois de passar pelo Trocadero, passamos pelo Sena, e pelas Pirâmides do Louvre que só pude ver do lado de fora, mas que deixaram "borboletas no meu estômago". Lindo, lindo, lindo... Foi pena não ter tido tempo o bastante para ir ao Sacre-Coeur e ao Centro Georges Pompidou ou a Versailles, mas passar pela praça da Concórdia, pelo Père-Lachaise (o Balzac e o La Fontaine ficam pra uma próxima visita... porque o Jim Morrison foi o primeiro da fila, claro) e por um lugar que julgo ser o Montmartre (e viva a Amélie!), avistar a Notre-Dame do Quasímodo de uma das pontes sobre o Sena e passar momentos irrepetíveis com pessoas muito queridas... simplesmente impagável!
Agora eu tenho certeza de que fiz uma coisa fundamental na vida de um ser humano... :-) E ainda com uma trilha sonora que tive a sorte de calhar com o momento, e que vai ficar pra sempre no fundo dos meus tímpanos cada vez que alguém me disser, "me conte como foi Paris vista pela primeira vez". Valeu, Tiago!
Mais um detalhe: observar a interação entre as pessoas foi igualmente interessante, embora não a fizesse de uma maneira "arguta" por causa da falta de tempo e pelo orgasmo visual que inebriava todos os meus sentidos. Mas a confluência de africanos e árabes, pra além dos turistas, é óbvio, foi uma coisa que me chamou a atenção porque finalmente pude ver isso fora das páginas dos jornais ou do ecrã da minha tv. Não é chocante (pelo menos não mais quanto deveria ser) ver pessoas a te pedir dinheiro na rua, e ao atravessá-la ver gente fazendo compras na Gap ou na Louis Vuitton, ou ver uma madame apressada pra uma festa vestida num diáfano tubinho preto da Coco Chanel. Foi aí que comecei a pensar na política de "imigração seletiva" do desafortunado Sarkozy e do osso duro de roer que essas controvérsias sobre as políticas de abertura da UE entre os vizinhos de cá têm trazido... é europeu e "gringo" demais pra cuidar! Rapadura é doce, mas não é mole mesmo!
Mas enfim, foi mesmo TUDO de bom ter dado essa fugidinha necessária, pelos momentos passados ao lado de pessoas especiais, pelos risos, sustos (!), fotos, lembranças... na verdade, o meu cartão de memória em Paris estava vazio, logo, saiu de lá menos preenchido do que os de Titi e Lala... mas nem por isso com menos qualidade! :-)
E viva la vida! \o/
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Efeito Cocaína
Desafio qualquer sujeito que entenda a palestra (e a língua inglesa minimamente) a ignorar o assunto e deixá-lo passar em branco. Duvido que eu seja uma rara espécie de pessoas que se pergunta o que vai dentro da caixola quando se está apaixonado, quando não se está apaixonado e quando se está apaixonado por estar-se apaixonado... Acho que todo mundo se pergunta sobre as razões de coisas sem razão como essa. Eu, por exemplo, já me fiz inúmeras perguntas sobre "as sem-razões do amor" (o Drummond que me perdoe), algumas delas também feitas pela dra. Helen Fisher nessa apresentação. Parafraseando um pouco: "The less my hope, the hotter my love" (Terêncio)... "the brain system that works for craving, for motivation, for focus becomes more active when you can't get what you want"... Tudo bem que todo mundo sabe que "romantic love is a kind of addiction", e é até poético dizer isso liricamente, mas acho que não nos damos conta da reviravolta que isso faz com os pobres neurônios e com os lóbulos cerebrais etc etc. E mais ainda, pensar que o efeito de se estar apaixonado é parecido com o da cocaína... bom, no máximo, eu achava que fosse como um inocente rolo de marijuana comprada nos Países Baixos. Mas se é pra viciar, que porra, que vicie direito. Acho que nem uns bons charros de maconha pura fazem isso à primeira lufada. Mas acho que paixão faz, né?
(...)
Deixando isso de lado e voltando pra minha vida que continua a correr à tangente dos perigos de uma paixão arrebatadora por um único objeto de contemplação (um único muso?! hahahaha), permitam-me fazer a descrição dos brinquedinhos que me ajudam a passar o tempo (aliás, nem preciso de nada sob esse título!): um DVD (Caro Diario, do Nanni Moretti) esperando ser assistido, um livro pelo meio esperando ser terminado (e dessa vez é um certo Alain de Botton com "aplicações práticas de filosofia de todos os tempos" pra ajudar a melhorar o cotidiano da sujeita, mas nem mesmo eu diria que um dia colocaria algo do tipo "O Consolo da Filosofia" na bolsa e na cabeceira da cama. Até agora está sendo super bacana, mas conto tudo quando chegar no final), alguns muitos arquivos referentes à gestão do meu trabalho (so help me God!), uns jornais marcados em assuntos que preciso ler (ah, eu e a lei da espiral do silêncio...), umas músicas do Sufjan Stevens no meu player (ei, pá... cadê a Mariza, a Amália e a Ana Moura?!) e muitas lembranças da semana louca que se passou, entre asilo para amigos des-casados (em ambos os sentidos), MUITO calor e horas a menos de sono.
(...)
Esse fim de semana, por exemplo, começou na sexta a noite (oh, novidade!) e a menos de 7 horas do fechamento já o considero por encerrado, achando que merece até balanço das atividades: depois de sair da escola na sexta, fui correndo pra casa preparar uma salada pra dividir num jantar na casa de uma amiga venezuelana. Tive que esperar por uns amigos que iriam comigo (ou eu iria com eles, já que eles é que tinham as direções do endereço na cabeça melhor que eu as tinha no papel...) e bem, fomos. Não pude ficar até o fim por causa do adiantado da hora (tinha que me despedir de uma amiga espanhola na mesma noite) e saí correndo de lá da mesma forma que cheguei. Fui dar um abraço nessa amiga minha, cheguei no lugar e fui presenteada com a companhia de alguns amigos que conheci na faculdade e uma extra (uma francesa que fala português como se estivesse aqui há um semestre!).
Chegando lá, depois de um papo bacana, todos fomos muito bem mimados com um super, mega, hiper interessante e intimista toque de guitarras espanholas - melhor dizendo, violão português - de um cara que se parecia com o Paco de Andalucia e dedilhava as cordas do violão como se aquilo fosse a coisa mais fácil do mundo, ora como se estivesse a fazer sexo com a guitarra, ora como se estivesse a acariciar os cabelos da namorada, numa perfeição de combinação de acordes e ritmos que ninguém queria acreditar que apenas seis arranjos seriam tocados. Aquilo na frente dos olhos era uma anestesia quase orgásmica para os ouvidos. Ou pode ser que eu estava simplesmente a fim de escutar um violão bem tocado...
Bem, mas depois disso, ficamos no Contagiarte (meio vazio pra uma sexta) ainda, dançando e conversando, com a impagável presença de um David que eu não conhecia nos corredores da faculdade (esse menino merece um post inteiro, sou fã! Sempre achei que ele fosse quase que uma espécie de "buda português iluminado"... hehehe). Decidimos então por continuar a festa em algum lugar ("porque afinal de contas, a Soraya vai embora amanhã!" hahaha), e depois de pensar em ir dançar algures, fizemos das opções a melhor: algumas garrafas de vinho na mão e o mapa da Foz em mente, fomos à praia ver o sol nascer... aquela lua cheia estava tão cheia naquele céu tão limpo, as conversas e as músicas brasileiras tão boas, a areia tão fria e as pessoas tão quentes, umas do ladinho das outras que nem acampamento infantil, que bah... é uma das noites portuguesas que de certeza têm lugar na minha memória de longo termo! :-)
E depois disso, como já tinha combinado com a minha amiga Agnieszka "Pitoresca", iríamos a Braga (aliás, iríamos não, fomos de fato!), e às 8h30 lá estava eu (egressa à apenas meia hora à casa e com a cama olhando pra mim a implorar que eu não fosse embora) na Estação São Bento, pronta pra outra. Chegando a Braga, tivemos que suportar um calor praticamente infernal (combinação explosiva... acho que minha pressão arterial foi ao chão com todo aquele calor, e se juntando ainda à noite sem dormir, nem preciso dizer que eu estava imprestável!), mas faríamos tudo pra chegar no Santuário de Jesus do Monte... até aguentar aquele calor úmido insuportável (sei lá, deviam fazer uns 30ºC e poucos mas a sensação térmica era de 40ºC)! Chegando no lugar, subimos alguns lances de escadas que se misturavam com um verde fenomenal e uma "capelinha" a cada curva, e quando finalmente chegamos ao pé das escadarias, resolvi que ia ficar por ali mesmo (já tava bom demais... porque não sou católica e nem estava a pagar promessa nenhuma!), enquanto a minha amiga Pitoresca, demonstrando uma resistência fenomenal, continuou no seu caminho para o alto (!), enquanto eu tirava um cochilo no meio do verde (pra quem já aguentou o calor do Marrocos, aquilo devia ser piada). Voltamos, depois de dar umas voltas na cidade quente, depois de vermos algumas portas abertas, depois de almoçarmos numa tasquinha que nos saiu melhor que a encomenda (mais em conta só mesmo a cantina da FLUP!), depois de tomar todo o chá gelado que estava quente... finalmente entramos no comboio de volta, e mal entrarmos as portas do nosso Porto querido, minha amiga espanhola me liga a me convidar para um jantar e se ele poderia ser feito na minha casa. Sem argumentos pra discordar, disse que sim na hora e poucas horas depois já estávamos a comer uns huevos de la reina, torradas e de sobremesa, a primeira broa com erva doce de verdade (erva legal! hahaha!!) feita por moi. Com as mesmas amigas que dividiram horas felizes comigo na noite anterior, fomos ao Piolho, como era inevitável... depois, como já não conseguia mais, finalmente fui pro lugar de onde vim - minha cama - e depois de conversar com a família e ler alguma coisinha no jornal, estou aqui, ainda um pouco cansada, mas me sentindo muito bem, e ainda melhor porque totalmente sã (longe das misturas perigosas com fermentados e destilados), e ainda melhor porque não precisei cerveja, ervas legais nem ilegais pra ter um ótimo fim de semana.
Minha mãe ficaria tão orgulhosa de mim. :-)
terça-feira, 8 de julho de 2008
Bloguezinho, que saudade de você
terça-feira, 3 de junho de 2008
let'em rock!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
quarta-feira, 21 de maio de 2008
This is (not) so last week!
Porque recapitular os dias de sol antes das deadlines é uma terapia que impede a pessoa de arrancar os curtos cabelos da cabeça... :-)
Domingo, 11 de Maio de 2008:
Uma pequena viagem (a Coimbra!) era mesmo indispensável para nos despedirmos em grande estilo do Tiago antes que ele tomasse seu rumo para os fiordes dinamarqueses. Larissa, Vinícius, Joana e eu fomos com ele até lá, e foi simplesmente adorável. A cidade é um pouco maior do que eu imaginava e era ainda mais Ouro Preto style do que o centro histórico do Porto, imaginem. Chegando lá, fomos direto comer doces, é claro, e pra nossa surpresa, entramos numa padaria que tinha uma maquininha de senhas e uma tela de LCD pra chamar os números. (Hein, filial do SEF? Não, era padaria mesmo...) E pra nossa surpresa ser ainda maior, realmente todas aquelas senhas tinham utilidade! Tinha mesmo gente pra encher a padariazinha, mesmo sendo em Coimbra e não em Lijjjjboa... (acho que depois daquela padaria o lugar mais cheio da cidade talvez fosse a igreja mais próxima) e depois disso, nos deparamos com uma concentração de bikers (e não é que não é a primeira vez que a gente viaja junto e vê uma concentração de malucos sobre duas rodas? da outra vez foram os motoqueiros madrileños que pararam o trânsito perto do estádio do Real Madrid, no ano passado...) que estavam numa espécie de "rally nas ruelas" a se esbaldar - como nós - naquela linda manhã de sol (não teve como não lembrar do meu irmão nessa hora... tenho a certeza de que ele ia fazer a festa!). Depois disso, fomos andando pela cidade, e como o tempo era curto, fomos ver as instalações da tão famosa Universidade de Coimbra. É quase tão velha quanto a nação portuguesa (é do século XIII) e é o que sempre movimentou a cidade. Lá, o cheiro da história se mistura com o da vida universitária, temperada com as mensagens pró-revolução e pró-feminismo rabiscadas nas paredes das ruelas de pedra por onde andamos... os prédios das faculdades são lindos e a vista do Mondego do terraço de frente pra faculdade de Direito também não está no gibi! Depois de atravessar o Mondego (não, não foi a nado!) chegamos ao lugar que é o sonho de todas as pessoas que não ultrapassam os aceitáveis 1,60m de estatura (não é a minha casa, lembre-se bem...): é o Portugal dos Pequenitos, um parquezinho onde a gente passou o resto da tarde se divertindo que nem criança. É um lugarzinho MUITO fofo! Tem um monte de miniaturas de casas-museuzinhos que representam as colônias portuguesas. É lindooooo! Pena que a casa do Brasil e da Índia estavam fechados esse dia, mas tinham várias outras, e a que mais me chamou a atenção foi a de Macau. Gente, tinham umas maquetezinhas de festa chinesa tão bonitinhas e tão bem fetinhas que dava vontade de virar miniatura e entrar... uma graça! e lá tinham umas casinhas típicas de várias regiões de Portugal, e pasmem, até uma miniatura de mosteiro... tudo isso com um monte de plaquinhas explicando a história de todos os lugarezinhos (sob um ponto de vista meio triunfalista, mas pra divertir vai bem), etc e tal. Miniaturas da história da moda no mundo numa outra casinha, um mapa enorme com os descobrimentos dos Portugueses numa parede ao ar livre... eu ia adorar ter uma aula de história ou de geografia num lugar desses quando estava na quarta série!
Depois voltamos e tivemos o fechamento da despedida com um jantarzinho e umas cervejas com os amigos. Foi muito bom, como sempre é juntar a galera e bater papo até altas horas...
Terça, 13 de Maio de 2008:
Quase 8 da noite (com o céu de 4 da tarde), encontro o Tiago fazendo os últimos ajustes para a viagem e cuidando da parte mais importante de todo o tempo que ele ia passar dirigindo: a trilha sonora. E ele foi embora pra Dinamarca, rumo aos seus pequenos desvios antes de chegar lá, e já passou por Bordeaux, Viena e agora já deve ter saído da “Praga do nosso amigo Kafka”. Já sinto falta desse rapaz em casa....
Mas ainda na terça, fui à estréia de “O Segredo de um Cuscuz” (La Graine et le Mulet, de Abdellatif Kechiche) e levei a Vivi (uma amiga gaúcha que só não vive mais no mundo da lua do que eu porque realmente não tem jeito... adoro!) a tiracolo. O filme foi muito bom, mas acho que teria aproveitado bem mais se tivesse tido um sono mais longo na noite anterior. :-)
Na quarta, quinta e sexta posteriores, trabalho, trabalho e mais trabalho, noites variando entre 3, 4 e 5 horas de sono por noite (quer dizer, acho que eu e todos os alunos normais que insistem em colocar em risco a sanidade mental todo fim de semestre. Viciados em adrenalina!). Mas isso não me impediu de asssistir “Os Amantes Constantes” na quinta... esse era um filme que eu já queria ver mesmo antes de vir pra cá. Meio longo, mas é lindo. Um espetáculo.
Na sexta, acordo bem cedo e vou pro aeroporto resolver o que tinha de resolver. Agora, com toda certeza, se nada der certo, no dia 16 de agosto coloco meus all stars em Guarulhos por volta das cinco da tarde...
No sábado, depois de fazer alguns ajustes num trabalho, Vivi e eu vamos a uma palestra em Serralves (do Documente-se), e saímos correndo de lá pra comprar umas coisas pra jantar e depois ir ao teatro. Alguém já chegou a quase entrar num teatro com sacola de compra? Não fossem as bolsas tamanho família, a gente tinha feito isso mesmo, numa boa... :-) Mas a peça que vimos foi "A Dama do Mar", baseada na obra de Henrik Ibsen. O preço foi uma facada (esperava que fosse a metade do que pagamos... acha que vida de estudante é fácil?), mas valeu super a pena. Tava tão boa que quando acabou, pensei que fosse algum intervalo intencional. Nem parecia que já tinha passado mais de uma hora desde o início!
No domingo, mais trabalho, trabalho e trabalho, mas como ninguém é de ferro, fui assistir “Escuta-me”, da cia. Era uma vez... teatro, a convite da Ana. Embora eu tenha já chegado depois da história do “fio”, achei a iniciativa muito bacana, um tipo de trabalho que merece ser reconhecido (porque acho que fazer teatro é sempre uma tarefa árdua - mas gratificante - e quando se trabalha com pessoas com algum tipo de deficiência, a tarefa é um pouco mais árdua , embora deva ser duplamente gratificante...)!
Depois disso, estava a voltar pela avenida da Boavista, quando vi o Serralves e resolvi entrar, pois como era ainda demasiado cedo para a conferência que eu queria ver, ficaria ali no museu vendo o que tinha de interessante. Acertei na segunda proposição, mas quanto ao que eu queria fazer lá, bem, tive que voltar pra casa e trabalhar, né? Mas chegando lá, vi uma instalação liiiiiinda, A Fonte de Cem Peixes. Adorei! se pudesse levar uma cópia de um peixinho desses num saquinho, não ia achar nada mal! Saindo de lá, fui a uma que não podia ser mais aminha cara (e que vou abreviar na descrição aqui porque senão fico horas só nisso!): a Vinil (que tem a logo da exposição igual ao selo da Virgin, pra começar), uma exposição de capas de disco m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!!!... e claro, como já sabem, me esbaldei mesmo. O bacana é que não era só as capas de disco: tinha desde capas desenhadas por artistas (muito além de Andy Wahrol e sua banana num fundo branco), quadros, "esculturas sonoras", obras com bolachões de muitos formatos, vídeos, e uma mesa que me parecia a entrada pro céu: players com mais de 300 cds pra audição de toda aquele monte de aristas loucos que brincavam com o som como se brinca com as palavras. Conheci a galera de um movimento muito louco, o Fluxus, de que a única pessoa que eu conhecia era o John Cage e já tinha ouvido falar alguma coisa de Nam June Paik. Achei ótimo o dripping do George Brecht, escutei o Charles Bukowski na maior trip, além de umas coisas que a Yoko Ono fazia no tempo que a minha tia-avó era hippie... MUITO bom!!
(...)
Mais notícias no próximo capítulo... porque isso aqui tá ficando maior que uma novela! ;-)